28 outubro, 2011

Movida do Porto, sem rei, nem rio


Copos, lixo e moradores
Quando começou a movida da Baixa do Porto, recordo-me de ter ficado com algumas reservas com o entusiasmo manifestado por algumas figuras públicas do burgo, entre as quais Rui Moreira, que confrontado com o desagrado de alguns moradores pelo ruído que entretanto ali se instalou respondeu que "isso eram reacções de pessoas com a mania de falar mal de tudo", e que achava muito bem, porque era importante revitalizar o centro do Porto, etc., etc. Não posso garantir que as palavras tenham sido exactamente estas, mas foi isto que reti na memória e suponho não fugir muito à verdade.

Na altura, o meu cepticismo nada tinha a ver com a movida, que aliás sempre apoiei [e apoio], mas sim com as declarações que fui entendendo sobre os seus benefícios para a cidade. Invariavelmente, aquilo que mais ouvia dizer foi que: "era preciso chamar gente ao centro do Porto", "que a cidade estava a ficar deserta e que era necessário repovoá-la, etc". Entretanto, alguns moradores reclamavam e com toda a legitimidade, que à noite era impossível dormir com o barulho. Um desses moradores, uma senhora, adiantava que tinha optado por residir no Porto, prescindido mesmo de adquirir uma casa com garagem mais barata nos arredores, por preferir viver no sossego do centro. Por instantes,  imaginei-me naquela situação e perguntei-me se reagiria de maneira muito diferente daquela senhora...

É claro que para os comerciantes da zona, sobretudo ligados à noite, a movida só tinha [e tem], virtudes, era tudo magnífico, porque como é comum nas pessoas, preferem avaliar as coisas com os olhos no umbigo e nem sequer se dão à maçada de pensar nos outros. Ora, tendo embora concordado com a reanimação nocturna do Porto, sempre pensei que a prioridade para repovoar a Baixa teria de ser dada à reabilitação urbana para residentes, e não chamando a si a população dos arredores para diversões nocturnas, devolvendo o deserto à cidade, no dia seguinte.

A ideia da movida foi óptima, o timing é que não.  Primeiro, a Câmara do Porto devia ter apostado fortemente e há muito tempo na recuperação dos edifícios degradados e por quarteirões, de forma a evitar que [como se tem visto], entre um prédio recuperado permanecessem casas a cair de podres, com todas as implicações de ordem sanitária e ambiental que isso implica, já para não falar da segurança... Além de que me parece a pior maneira de atrair moradores. Pessoalmente, e ao ritmo a que a reabilitação urbana avança no Porto, não era eu quem queria viver numa casa entalada entre outras arruinadas.

Agora, aí estão os jornais cheios de reclamações de moradores da Baixa, queixando-se do ruído, dos lixos, da anarquia dos horários de encerramento, do álcool, do comportamento dos utentes e da falta de policiamento. Há já em curso uma recolha de assinaturas de moradores contestatários, dispostos a exigir a reposição da ordem à Camara do Porto com manifestações, inclusivé, à porta da casa de Rui Rio.

E eu, acho muito bem. O Porto nunca esteve tão imundo, como agora. É uma vergonha.   

1 comentário:

  1. Só agora, é que o senhor da câmara do Porto vai pensar melhor na Movida! e a "possível" oportunidade das pessoas que ainda habitam no centro do Porto possam descansar mais um bocado! só agora.
    Então antes de se fazerem as coisas, não se tem que pensar nos prós e contras.
    Depois de tanta cerveja na bexiga onde é que as pessoas vão mijar!?
    Comercio paralelo ao negócio da noite a fazer os seus negóciozinhos com garrafas de vinho e de cerveja.
    Parques de automóvel às moscas, porquê? façam preços mais em conta.
    E o lixo, (vidro muito vidro) só devia ser autorizado cerveja em copos de plástico, com bastantes recipientes de lixo, porque não se pensou antes?
    E por último, alguma autoridade, porque quando há muito ajuntamento, nem sempre as coisas correm bem.
    Digo isto, porque vou algumas vezes passear à noite aos fins de semana, e vejo situações que me chocam.
    De resto tudo bem... viva a noite viva o Porto.

    O PORTO É GRANDE VIVA O PORTO

    ResponderEliminar

Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...