15 maio, 2012

A ilha dos direitos adquiridos

 

O tema dos famigerados direitos adquiridos, recuperado mal o Governo anuncia nova catanada nos ditos cujos, faz-me sempre lembrar a tão trágica quanto paradigmática história da ilha da Páscoa. O que hoje sobra dos direitos que os trabalhadores foram conquistando é consequência do que fomos esbanjando. Uns mais do que outros, é verdade.

Por muito que doa a quem olha para o problema apenas com a lente ideológica, só há direitos adquiridos enquanto houver dinheiro para os pagar. Ora, como nós, tragicamente, fomos gastando o que tínhamos e o que não tínhamos, os famosos direitos regrediram - e assim continuarão, se assim continuar a trajectória que escolhemos.

Há uns tempos, Ângelo Correia apanhou pancada da grossa por ter dito que os direitos adquiridos são "uma burla". A Esquerda, da mais à menos radical, caiu-lhe em cima. A verdade é que, descontado o peso exagerado da expressão utilizada por Ângelo Correia, os trabalhadores são enganados sempre que lhes prometem direitos, os atuais ou outros, para os quais não há cobertura financeira.

Onde entra aqui a ilha da Páscoa? Para quem não sabe, trata-se de um local situado a 3500 quilómetros da costa do Chile. Não há ali árvores, nem animais nativos, nem pássaros. Apenas enormes cabeças esculpidas em rocha vulcânica: são às centenas, nenhuma tem menos de 5 metros de altura e pesam dezenas de toneladas. A atração turística gerada por aqueles pedregulhos esconde uma história trágica.

A ilha chegou a ser habitada por 15 mil pessoas, divididas por 11 tribos (hoje vivem ali cerca de 3 mil pessoas). Problema: os chefes tribais competiam entre si erguendo estátuas. Quantas mais estátuas, maior era o seu poder. Problema: para transportar as pedras que compõem as estátuas, as tribos desfizeram uma rica floresta subtropical. Problema: parte das árvores servia para construir grandes canoas para a pesca.

Problema: acabaram as árvores, acabou a pesca. Os nativos viraram-se para a caça: eliminaram na totalidade os animais da ilha. Quando só sobravam ratos, os indígenas passaram a ser canibais. Eis a consequência do consumismo desenfreado: a autodestruição.

O ponto é este: Portugal, a União Europeia, chegou a um estado de absoluta incapacidade para cumprir as garantias e os direitos que jurou assegurar. A "máquina" está parada, não acrescenta suficiente riqueza. Como na ilha da Páscoa, queimámos todas as nossas fontes de energia - e a uma velocidade alucinante. Por isso, falar sem ponderação de direitos adquiridos é o mesmo que falar contra a parede: ela não responde.

Sim: há uns mais culpados do que outros. Sim: há gente em desespero e outra nem por isso. A prazo, o destino apanha-os (apanha-nos) a todos. Como na ilha da Páscoa.

1 comentário:

  1. A política deste país não é de uma Democracia é um Regabofe polítiqueiro.
    Estamos nesta miséria toda, por culpa dos nossos governantes serem uns incompetentes e muitos uns Corruptos.
    O resto são histórias do capuchinho vermelho e o lobo mau.
    Duarte Lima em casa com pulseira electrónica!... qualquer dia vai novamente ao Brasil fazer outro safari. Meus senhores isto é que é democracia, pode-se matar e gamar o resto é banda desenhada.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO

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Abrimos portas à frontalidade, mas restringimos sem demagogia, o insulto e a provocação. Democraticamente...