18 junho, 2012

A selecção "nacional" e o orgulho de um país miserável


 euro 2012 portugal holanda
Como é do conhecimento dos leitores deste blogue, sou um apreciador de futebol. Como quase todos os outros adeptos, empolgo-me mais quando é o meu clube a jogar e... a ganhar. Neste aspecto concreto, sou aquilo a que se pode chamar um adepto normal, igual a tantos outros, excepto na feliz coincidência de o meu clube se chamar FCPorto, o mais competente de todos, desde que há liberdade de expressão em Portugal.

Com a selecção nacional, não posso dizer o mesmo. Só não me estou completamente nas tintas porque nela jogam alguns jogadores que actuam no FCPorto, e outros que já actuaram no passado. Só por isso.

De resto, não é pelo Presidente da República, pelo 1º. Ministro e toda a carneirada que com eles faz coro - incluindo os exploradores da comunicação social - virem agora puxar pelo orgulho pátrio que o meu desinteresse pela selecção se irá alterar. Aliás, até me sinto mais patriota por ser como sou, por me distinguir da mentalidade ralé dominante por não embarcar nestes folclores sazonais, onde o futebol se transforma simultaneamente na cocaína do povo e no descanso dos governantes. Enquanto o povo se distrair com nacionalismos futeboleiros os dirigentes políticos podem continuar a sugar-lhe tranquilamente a já baixa qualidade de vida que tinha.

Para mim, é muito difícil envolver-me emocionalmente com a selecção de um país dividido como é actualmente Portugal. Não posso aplaudir uma selecção só porque nela jogam alguns jogadores e ex-jogadores do meu clube. Para estar com a selecção teria de ter como certa a consideração dos nossos governantes pelo resto do país, começando [por exemplo] por um tratamento igual, coisa que como é sabido não tem acontecido. Não posso sentir orgulho por uma bandeira ou camisola nacional que obriga um nortenho a ganhar muito menos que um lisboeta da mesma profissão. Um país que concentra na capital todos os poderes [economia, finanças e comunicação social], que taxa as Scuts em 1º.lugar no Norte, fazendo de nós autênticas cobaias. De um país que recorrentemente desvia verbas de fundos europeus destinados às regiões mais pobres para Lisboa a coberto de um virtual efeito difusor. Símbolos de um país que tem tido governantes incompetentes e corruptos, agarrados como lapas ao poder, cujo Presidente da República e 1º.Ministro chegaram ao cúmulo de aconselhar os jovens a emigrar. Um país que trata o Porto como aquela terra lá ao longe [recordam-se como eles acharam gracinha a Scolari?], que persegue o melhor presidente de clubes como o maior facínora, enquanto deixa em luxuosa prisão domiciliária um político homicida e ladrão, e permite que um ex-presidente de um clube lisboeta, condenado na Justiça por burla de milhões e falsificação de documentos se mantenha foragido em parte certa, gozando com ela na cara do povo. Essas, e muitas outras poucas vergonhas, a mim causam-me repulsa e desgosto. Se a pátria é isto, então eu não sou patriota, e nesse caso, estou-me mesmo a borrifar para o sucesso ou insucesso da selecção.

Falem-nos de progresso, de bem estar, da excelência do nível de vida da maioria dos portugueses, e depois talvez possamos conversar a sério sobre orgulho nacional. Porque o meu orgulho não é, nem nunca será o Ronaldo, nem mil ronaldinhos.

Talvez esteja neste estereótipo de "patriotismo" a explicação do nosso imutável atraso, enquanto povo... 


5 comentários:

  1. Carvalho Guimarães18/06/12, 13:51

    Faz algum tempo que não comento , mas tenho lido todos os dias.
    Parabens pelo seu texto que me vai ajudar a explicar a uma cambada de estúpidos porque é que eu penso exatamente assim.
    bem haja
    um abraço

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  2. Rui, concordo, não sou um apaixonado pela selecção e as razões são muitas das que você refere. Vejo o jogo normalmente, não desejo que perca, mas fico incomodado, com o folclore, os exageros patéticos e ridículos, como esse exemplo do Nuno Matos é significativo. Para além disso, os comentadores, narradores e opinadores, salvo raras excepções, são do mais faccioso que há.

    Abraço

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  3. Penso da mesma maneira, e portanto sou daqueles que estão na lista negra do paulo bento,(coitado não se podem criticar as super estrelas),gostava de saber se eles jogavam sem prémio de jogo,os tais patrioteiros que têm tudo e mais alguma coisa,enquanto eu e outros portugueses estamos a ser roubados, enquanto houver estas injustiças,a minha selecção é o FCP,o resto é paisagem!
    Um abraço
    manuel moutinho

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  4. Zé da Póvoa18/06/12, 22:21

    De facto a n/selecção mais parece um rancho folclórico, embora não seja só por culpa própria. Os meios de comunicação param tudo para mostrar os jogadores, seja em que situação fôr, até nos balneários quando têm que ir satisfazer as suas necessidades fisiológicas!
    As palavras de Ronaldo, há dias, sobre o Messi e as de Paulo Bento,ontem, são de uma pobreza confrangedora.
    Apesar de tudo, há já alguns anos que não havia uma selecção portuguesa que me fizesse vibrar tanto como esta. É que dos 23 jogadores que lá estão, 13 passaram pelo Dragão e já me proporcionaram grandes alegrias. E isso eu nunca posso esquecer!

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  5. A selecção é a cópia fiel do Governo e dos políticos. Os tachistas e os tachos, eis quem eles são... não pela sua competência, mas sim pelas amizades no mundo do desporto.
    Obviamente quero que a Selecção ganhe, mas não fico doente se eles vierem já no primeiro avião para casa.
    A imposturice dos meios da comunicação e dos outros que naquele meio gravitam, metem-me nojo.

    O PORTO É GRANDE, VIVA O PORTO.

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