16 fevereiro, 2008

Continuamos paroquianos, apesar da Bial...

Deste artigo de opinião da autoria de Luís Costa, um dos jornalistas nortenhos que mais têm remado contra a maré centralista, sobre o debate realizado pela UC e jornal 'Público' e cujo tema visava a "Comunicação Social do Porto", destaco estes parágrafos por me parecerem bastante elucidativos:

"Mas o que me parece mais relevante é, que nenhum deles pôs em causa, mesmo quando torneavam o assunto, a importância fulcral e decisiva da autonomia política, da existência de um eventual poder regional, da futura criação de novos centros de decisão - desejavelmente numa lógica multipolar - como elemento catalisador fundamental de um novo caminho que tarda em ser trilhado".

"E anda-se nisto há 25 anos, pelo menos."

"É por isso que discutir estas matérias sem consequências práticas já cansa. E escrever sobre tudo isto, confesso-vos, também já começa a cansar."

Noutra página do JN, e ainda relativamente ao mesmo tema, Augusto Santos Silva, Ministro dos Assuntos Parlamentares, "explica-nos" por que é que as coisas não saem dos processos de intenção:

"Não existe nenhuma contradição entre um órgão ter sede no Porto e ter dimensão e vocação nacional".

"Os media do Porto só são regionais se esse for o seu âmbito de actuação, a sua vocação".

"Isto implica abandonar a lógica dicotonómica Norte contra Sul ou Porto contra Lisboa. Esse olhar próprio deve ser cosmopolita e moderno".

"a opção é entre ser paroquial ou cosmopolita"

"o Porto tem todas as condições para ter um olhar cosmopolita e moderno e que esse olhar seja a sua forma de ver e interpretar o país e o Mundo".

Sobre estas declarações do Sr. Ministro, quero dizer algumas coisas. A primeira, é que, é errado pôr-se o problema em termos de 'contradição entre sedes dos orgãos de comunicação e as suas vocações ou dimensões', quando devia ser colocado em termos de poder executivo e de liberdade editorial.

A segunda questão, é que o Porto nunca quis ser regional, pelo contrário, o que acontece é que a televisão, sendo o mais poderoso de todos os media, encarregou-se de drenar sistematicamente para Lisboa todo o seu poder, influenciando assim implicitamente toda a difusão dos diferentes orgãos de comunicação (Jornais, rádios, etc.).

Quanto à chamada lógica dictonómica "Norte contra Sul", à vulgaridade da qual também o sr. Ministro não conseguiu fugir, cá temos outra vez a demagogia a funcionar, e repare-se, que não é por inocente acaso que estes senhores dizem sempre "norte-sul" e nunca "sul-norte". Isto, suponho, já deve explicar tudo. O mesmo se aplica à conversa enjoativa dos dogmas paroquiais versus cosmopolitas. Já cansa.

O que realmente acontece, é que são sobretudo políticos iluminados como este que emperram a ruptura do estatuto minoritário que eles, mais do que a sociedade civil (como chega a admitir Rui Moreira) nos traçaram.
Bastará olharmos para o exemplo da RNTV e perceber que ali não há dinheiro para avançar melhor e mais depressa.
Bastará particularmente, olhar para as reticências que este mesmo senhor ministro tem colocado para dar mais autonomia a RTPN, que para além de mais é propriedade do Estado.

Enfim, 'novamente' mais do mesmo.

1º.EXEMPLO DE "SERIEDADE"



Ontem fiz aqui um comentário ao Centralismo e aos "atalhos" da vida entre Sul e Norte. Estes casos do futebol, podem servir de paradigma ambivalente para melhor apreciar os sucessos de Pinto da Costa e do F.Clube do Porto. Se por um lado prova que apesar do Centralismo é possível ao Norte ultrapassar barreiras e vencer, por outro lado retrata que as dificuldades para o conseguir são infinitamente maiores e que isso, é fazer batota.

Ontem também, o F. Clube do Porto foi a única a equipa a jogar na 1ª. Liga. Um jogo importante, dadas as habituais dificuldades que o Marítimo da Madeira costuma colocar ao clube da nossa cidade.

Observem-se bem as primeiras páginas dos 3 diários desportivos. Só o jornal "O JOGO" (o menos mau dos três) é que dá à vitória do Futebol Clube do Porto o destaque merecido.

Os outros dois de Lisboa, da capital da 'coesão nacional', da 'seriedade', da 'isenção', do 'respeito pelas práticas democráticas', votam ao F. C. do Porto o desprezo habitual. Como se vê.

Presumo que no desporto, serão estes os exemplos a seguir para dissuadir eventuais guerrras do tipo "Norte-Sul", que para nosso espanto e como a própria definição sugere, devem ter sido despoletadas pelos energúmenos do Norte.


PS
Apesar desta desonestidade deontológica e cívica, será curioso atentar a um pormenor de refinado cinismo: a espaços (muito espaçados mesmo) estes exemplos de 'fair play' patente nas capas dos referidos jornais mudam de tom, apresentando as camisolas listadas de azul-e-branco, que é para servirem de "prova", para a eventualidade de terem de nos contradizer...

15 fevereiro, 2008

A sociedade civil e o Estado

Há quem veja o Centralismo e as profundas mazelas que ele comporta, como uma espécie de pai irresponsável que os 'filhos' têm o dever de tolerar para não se incomodarem demais. Defendem que, se o 'pai' é mau pai, então os 'filhos' só têm é que arrepiar caminho, fazerem-se à vida, na conquista de um lugar ao Sol na sociedade e esquecer sequer que o 'pai' existe.

Em teoria, o princípio até contém algum realismo porque, na verdade, é um pouco assim que deveríamos todos pensar para ultrapassarmos os múltiplos problemas que a vida sempre nos reserva, para atalhar caminhos, e estabelecermos objectivos, sem desperdício de energias.

Mas, afinal de contas não será isso, que cada um a seu jeito, procura fazer? Como noutras situações, há uns que descobrem esses atalhos mais depressa e melhor que outros, e outros há que, por variadíssimas razões, levam mais tempo ou até nunca chegam a encontrá-los. É a vida.

Mas muita calma, não confundamos a história do pai apadastrado com a história de um país orfão de quem o governe, porque isso é o mesmo que passarmos um salvo-conduto de irresponsabilidade a quem tem a obrigação de o administrar a contento de todos. Não é tarefa simples, sabemos, mas também ninguém é forçado a desempenhá-la. Só para lá vai quem quer. A partir do momento que alguém se disponibiliza para o fazer, deve estar ciente da enorme responsabilidade que a decisão acarreta porque é apenas para isso e só para isso que lhe entregamos o Poder. Para o bem e para o mal.

Numa época em que a corrupção invadiu todas as áreas da sociedade, incluindo a política e judicial, não faz muito sentido deixarmos o país entregue a si mesmo, sem uma permanente exigência de optimização das instituições públicas, sem reclamarmos igualdade de tratamento e de oportunidades.

Num país moderno e democrático, não é recomendável nem justo que a Sul os atalhos pareçam auto-estradas e que a Norte se assemelhem a caminhos de cabras e que tenhamos de fazer muito mais esforço para ter muito menos. Desistir de reclamar seriedade à governação nacional, é sermos co-responsáveis pela proliferação da mediocridade.

Os governantes têm de uma vez por todas de estar à altura do cargo que assumem. Se não estão (como é o caso em Portugal), devemos arranjar forma de os afastar do Poder. O que não podemos, é continuar a aceitar nos govêrnos, reguilas e miúdos com tantas (ir)responsabilidades. É uma insconsciência suícida!

Ora aí está!



Esta é a "ordem normal" das coisas, em termos de jornalismo desportivo. Ontem, como ante-ontem, houve jogos para a Taça UEFA e não serve de exemplo. Mas não deixa de servir como aperitivo. Quando tudo voltar à pasmaceira nacional é que conta.



Duas notícias positivas para o Porto

BIAL duplica a área dedicada à investigação

E pronto. Apesar de estar de costas voltadas para o Porto e para as dificuldades da região, concentrando poderes e compadrios em Lisboa, lá vem o oportunismo do costume: imediata colagem a quem pode projectar a imagem do Govêrno e do 1º . Ministro, com palavras de circunstância onde a bajulação supera o apoio sincero.


F. Clube do Porto lidera ranking de desempenho desportivo

Neste caso, não se pode dizer que seja uma novidade. É por demais inquestionável que Pinto da Costa é o grande obreiro deste palmarés de êxitos, sobretudo quanto tem todas as garras do centralismo em cima dele.

14 fevereiro, 2008

Os jornais desportivos e as vendas...


Ontem houve competições europeias, por isso aceita-se perfeitamente o tom "esverdeado" dos três díarios desportivos mais conhecidos, embora o Braga também tenha jogado...e nada.
A partir de hoje, tentarei publicar aqui todos os dias as primeiras páginas dos referidos jornais, para podermos comprovar que não inventamos nem temos a mania da perseguição quando afirmámos que no futebol também se produz centralismo q.b., e se infringe (impunemente) as mais básicas regras democráticas que noutros contextos servem, entre outras coisas, para colocar partidos políticos e pessoas na cadeira do Poder.
Por outras palavras, princípios elementares que concedem prioridade aos vencedores de todo o tipo de contendas.

O que iremos seguramente constatar, não é mais do que a realidade nua e crua, e tem efeitos retroactivos, porque acontece há longos anos, sem incomodar minimamente os defensores das regras deontológicas profissionais, nomeadamente, as de alguns jornalistas.

É o mercado, dizem eles. Portanto, é assim: Mercado = 1.000.000.000.000 - Democracia = 0
O Futebol Clube do Porto é bi-campeão nacional e está no bom caminho para repetir o Tri.
Estejemos atentos aos próximos tempos e anotemos o número de edições que cada um dos mencionados diários destaca com a primeira página o clube azul e branco.
NOTA:
O Jornal "O JOGO", único sedeado no Porto, tem duas edições, Norte e Sul. Na do Norte, ainda manifesta alguma consideração pelo F. Clube do Porto e concede-lhe alguma atenção, mas na
edição Sul, digamos que consome toneladas de tinta vermelha em homenagens a glórias pré-históricas e ... ao vil metal.

Cem anos depois

"Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter (...). Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo (...). Dois partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...), análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no Parlamento, de não caberem todos de uma vez na mesma sala de jantar (...)".

Isto foi escrito há 100 anos por Guerra Junqueiro, estrebuchava a Monarquia (que, a pretexto do regicídio, alguns patuscos de "blaser" e emblema da Causa Monárquica na lapela nos têm recentemente tentado vender como um eldorado perdido) nos últimos estertores.

Porque o chapéu assenta singularmente no clima social e político finissecular que de novo vivemos, "Pátria" deve ser hoje o livro mais citado na blogosfera portuguesa, onde, expulsa dos media tradicionais, se exila grande parte da massa crítica que, entre nós, ainda mexe. É um sinal, o sintoma de uma doença. Até generais já andam por aí a assumir-se publicamente como "reservas morais" da nação.

Quando a "reserva moral" já está na tropa, há boas razões de sobressalto cívico.

Manuel António Pina
(do JN)

13 fevereiro, 2008

A Democracia no futebol é um embuste



A IMPERIAL
ÁGUIA
DO
IMPERIAL
CENTRALISMO


Tenham paciência, hoje é inevitável, sou mesmo obrigado a falar de "futebol".

Contrariamente ao que pensam os avessos às baixezas do mundo futebol - que se obstinam a branquear outros mundos, bem mais obscuros - sempre aprenderiam alguma coisa se estivessem atentos ao trabalho sujo de autêntica promoção clubística, levado a cabo pelas televisões do centralismo, pouco antes da última eliminatória da Taça de Portugal.

A esses intelectuais do regime, que do alto da sua sapiência anódina garantem nada ter a aprender com o futebol, far-lhes-ia bem observarem algumas cenas ligadas a esse mundo para, pelo menos, não fazerem figura de patetas quando desatam a dissertar sobre a ordem cívica e a democracia.

A SIC (e não só), que em matéria de futebol anda, nas barbas do país, anos a fio a borrifar-se para os valores da democracia , quase transformou um simples jogo da Taça de Portugal, entre o Benfica e o Paços de Ferreira, numa final da Liga dos Campeões...

Embora possamos compreender a ansiedade dos apaniguados do clube símbolo do Centralismo que não consegue traduzir os mitos de que se alimenta em realidades, é inadmissível que se deixe passar impune a pressão a que os jornalistas da SIC sujeitaram o árbitro da partida, de mais a mais, por se tratar de alguém que está envolvido no processo Apito Dourado, acusado de ter prejudicado o Benfica.

O resultado foi o que se viu, porque a televisão mostrou, o árbitro favoreceu descaradamente a equipa de Lisboa e deu-lhe de bandeja, a passagem à próxima eliminatória!

Então, e os senhores procuradores, não vêem estas coisas? De que estão à espera para abrir um processo? Se é de uma queixa, eu próprio a faço, estejam à vontade, é só dizê-lo.

E então o que anda a Dra. Maria José Morgado a fazer que ainda não decidiu abrir um processo a Luís Filipe Vieira, a quem tivemos oportunidade de ouvir negociar um árbitro com Valentim Loureiro? Mas, andam a fazer de nós parvos, procurando convencer-nos que toda esta roda-viva à volta de Pinto da Costa é apenas uma questão de Justiça? Querem mesmo que acreditemos nisso?

E então, que dizer da tão badalada promiscuidade entre política e futebol, quando ainda ontem as televisões não tiveram qualquer tipo de pudor em filmar uma homenagem em Bruxelas os comovidos políticos da família benfiquista (como se isso fosse uma honra) se deleitavam a tecer loas ao Benfica com lágrimas, suspiros e abraços como se estivessem a praticar o acto mais inocente do Mundo?

Imaginam por um momento, se esta propaganda nojenta fosse feita ao F.Clube do Porto? Imaginam mesmo? Apesar de a merecer muito mais, seria um escândalo nacional e às tantas, razão suficiente para abrir um outro processo.

E o doutor Rui Rio, não se pronuncia em relação a esta promiscuidade? Ó pronuncias, isso, só se fosse com o F. Clube do Porto. Que rico líder. Votem outra vez nele meus senhores, e chamem-lhe honesto...

12 fevereiro, 2008

A Democracia e os homens

Entre o cepticismo daqueles que conseguem ver o país para lá do seu umbigo e o optimismo dos que fazem do seu umbigo o estado da nação, existe um fosso tão grande, que é quase criminoso procurar misturá-los.

Confesso, que não consigo ser muito tolerante para com os empatas. Não é pelo gosto mesquinho de estar (como alguns), sistematicamente no contra, mas prefiro as pessoas que não temem fazer a diferença, que assumem a coragem de passar pela "tesoura" dos compadres da paz pôdre e do laissez faire , laissez passer.

Por isso, admiro António Marinho Pinto, pela forma desassombrada e despretensiosa como assumiu o cargo de bastonário da Ordem dos Advogados. Posso estar enganado, mas este homem inspira-me confiança. Fala simples e com a persuasão que só a sinceridade empresta às palavras. Depois, é realmente honesto. Não há nada que diga que nos faça desconfiar, tal é o desprendimento que revela para com os interesses e as tradicionais cumplicidades corporativas da classe profissional a que pertence.

Como não é um homem comum, e como estamos num país que tem por mau costume premiar os medíocres, não sei se terá grandes hipóteses de sobrevivência. O poder económico não se compadece com questões de carácter e quando incomodado, não perde muito tempo até demolir quem ousa fazê-lo. Depois, lá se encarrega de contratar sem dificuldade os videirinhos da ordem devidamente treinados na arte de simular respeitabilidade para "provarem" à população que o "outro" é que não prestava. Era populista e demagogo...Eles, não.

Começo a ter sérias reservas em relação a qualquer mudança política. Sem gente séria e intelectualmente qualificada, não dou grande interesse ao género de regime.

A democracia para valer como ideal, tem de arranjar sistemas capazes de se auto-purgar com eficácia dos oportunistas e parasitas. Sem isso, os regimes podem mudar, mas as môscas continuarão a gravitar sempre à volta do seu habitat natural.

11 fevereiro, 2008

Timor e as lágrimas de crocodilo

A Suprema hipocrisia deste país, retrata-se em pleno sempre que acontece uma desgraça em Timor.

Entrevistas, debates, fóruns de todos os tipos feitios, fazem as caixas registadoras das audiências subir para patamares invejáveis. Vamos ter de aturar outra vez as opiniões dos estrategas do regime.

Nos próximos tempos não vamos ouvir falar de outra coisa. Os nossos governantes, que na nossa cara, têm desprezado os interesses regionais e engordado com desprezível egoísmo a região do vale do Tejo, vão mais uma vez começar a dar chow com a hipocrisia do costume para com o povo de Timor. O useiro fado da falsidade.

"Simetrias"económicas e sociais...

'Abonos podem duplicar vencimento mensal'

Comparadas todas as benesses de que gozam os nossos deputados (vencimentos incluídos), com os resultados práticos da sua actividade na vida dos cidadãos, compreende-se melhor o por quê da nossa estagnação.

Para funcionarem como todos desejaríamos, os deputados precisavam de sentir na pele algumas das muitas dificuldades que a população atravessa. Não é com estas mordomias sem retorno para o povo que as coisas vão mudar. Demagogia - dirão os atingidos. Pudera. Que razões objectivas têm eles para se queixarem, se não as de contrariarem quem já lhes viu o ......?

Não resisto a dizê-lo, mas perante estas 'aberrações-escândaleiras-provocações' morais e económicas, sempre que um destes meninos abrisse a boca para nos acusar de demagogos ou populistas - como agora gostam de argumentar - Nossa Senhora de Fátima (ou outra santa qualquer) devia mostrar aos crentes que afinal existe, que de facto sabe fazer milagres. Milagres com sabor a Justiça, capazes de fazer recair sobre estes pardais e respectivas famílias, a realidade vivida por reformados e sobreviventes do Rendimento Social de Inserção, para aprenderem a ser gente. Por fora, mas sobretudo, por dentro.

Assim, parecem-se mais com aquela pequena mistura de café com leite a que em Lisboa chamam estupidamente "garôtos", mas que neste caso concreto encaixa na perfeição...