17 abril, 2009

Porque não haverá regionalização ( III )

Indiferença e ignorância

São dois factores que têm sido cuidadosamente preservados pelo poder central, na medida em que constituem poderosas armas (camufladas) na luta contra a regionalização. Foram fundamentais em 1998 e tornarão a sê-lo no próximo referendo.

O resultado negativo de 98 não foi devido, como nos quiseram fazer crer, ao mapa que então foi proposto. Houve causas mais profundas que explicam uma abstenção de 51,7% e os 63;6% dos votos no NÃO. Então como agora, a indiferença de muitos, potenciada pela falta de entusiasmo que grande parte dos portugueses sente pelos referendos, originou que mais de metade dos eleitores inscritos se tivesse alheado de votar. Quanto à derrota do SIM, ela foi mais uma derrota por ignorância do que por convicção, o que poderia ter sido ultrapassado se tivesse havido uma honesta campanha de esclarecimento. Permito-me recuperar parte do comentário que escrevi logo a seguir ao referendo.

Um dia a regionalização será apresentada não como uma luta entre partidos políticos, entre direita e esquerda, mas como um sistema mais eficiente e mais justo de organização político-administrativa.

Um dia os políticos que dizem patrocinar a regionalização vão querê-la realmente, e não fazer de conta que a querem, e então explicarão aos portugueses, com conceitos símples e exemplos concretos tirados do dia-a-dia, quais as vantagens daí resultantes, conduzindo uma campanha de comunicação bem idealizada, viva e convincente.

Um dia se discutirão várias hipóteses de mapas das regiões e, com referendo ou sem referendo, se fará uma escolha que, na impossibilidade satisfazer toda gente, terá o consenso de uma maioria.

Um dia os políticos que se dizem a favor da regionalização não puxarão dos seus galões para ordenar aos mais entusiastas que se deixem de "berrarias" e não limitarão os argumentos a utilizar, sob o pretexto de que não se pode "atacar" Lisboa.

Nesse dia, finalmente, a regionalização triunfará, a descentralização será um facto e a partilha de poder será irreversível.


Hoje, pasados dez anos, já não acredito que esteja próximo esse " um dia" em que a regionalização acontecerá. Até agora não se tem percebido nenhum esforço do governo no sentido de procurar esclarecer os portugueses, a fim de que possam votar em consciência. É verdade que o próximo referendo nem sequer está marcado, mas é tão patente a relutância dos políticos em relação à regionalização (declaradamente na liderança do PSD, disfarçadamente no PS) que infelizmente devemos estar preparados para que aí venha "mais do mesmo". Adicionalmente acontece que esta relutância do poder político não é única, na medida em que a comunicação social, seja por desinteresse seja por subserviência aos poderosos, tem mantido o silêncio sobre o tema, e tem-se abstido de fazer sondagens que permitiriam começar a lançar alguma luz quanto à disposição do eleitorado, sobre a qual há uma completa e prejudicial ignorância.

Conclusão

Na presença de tantos e tão formidáveis obstáculos, dos quais o maior é a falta de vontade e consequente oposição dos principais partidos políticos, a regionalização está em risco de não se materializar. Como regionalista convicto, espero fervorosamente estar enganado e desejo que factos novos, imprevisíveis neste momento, venham alterar profundamente este panorama negativo. Caso contrário, a capital continuará a drenar os recursos do país e a inchar ( até aos 5 milhões de habitantes que alguns recomendam e desejam?) enquanto o resto do território continuará a definhar e pouco a pouco as suas populações terão de escolher entre viver mal ou emigrar.

Elites

Quando me falam de elites, perco imediatamente o interesse em saber o que vem a seguir. Enaltecer o elitismo num país cada vez mais encharcado por escândalos em que os principais protagonistas pertencem ao dito cujo «clube», é um verdadeiro insulto à inteligência de um homem.
Mas, quando é que as pessoas de bem se decidem a sair da idade média? Ao menos digam e expliquem o que é que entendem por elites, porque para mim é pouco mais do que uma futilidade. Eu sei, que por cá ainda há muito piroso que adora ser tratado por doutor, mas que diabo, com tantos anos de estudo não foram capazes de arejar melhor os miolos?
Ser-se elitista é ser-se fútil, mas, a ter que se atribuir outro sinónimo só pode ser este: racismo social!
Exterminem a porcaria do termo, porra!

Xutos e Pontapés-Sem eira nem beira




Nota:

Não gosto mesmo nada da voz dete tipo, nem do grupo, nem da música, mas esta letra só peca por defeito

Jackie Wilson- to be loved



("ídolo" da minha adolescência)

Um Porto,mais Porto, com Elisa Ferreira?

Já não é segredo para ninguém, que não tenho qualquer apreço pelo estilo e pelo conteúdo do trabalho do Presidente da Câmara do Porto. Penso que escrevi quanto baste a explicar os porquês dessa desvalorização, e se o deixei de fazer, não foi por ter mudado de opinião, foi apenas por "recear" vir a ser também acusado de fazer parte de uma qualquer seita obscura de conspiradores, que, qual D. Quixote, Rui Rio tanto gosta de imitar. A partir de um determinado momento, Rui Rio, deixou de ocupar espaço nas minhas prioridades, embora continue a preocupar-me com os eleitores que lhe reconhecem méritos. Esse é o meu grande enigma.
Como já disse e repito, os partidos políticos, enquanto órgãos de expressão democrática, não me convencem, mas ainda quero acreditar no mérito pessoal de algumas excepções, consciente da dificuldade acrescida que isso representa para quem vai para a política de boa fé. Serão raros os casos, mas quero continuar a acreditar que ainda se encontrem algures por aí.
A candidata independente pelo PS à Câmara do Porto, é um desses casos. O PS não me infunde confiança, Elisa Ferreira, sim. E, por quê?
Na passada quarta-feira europeia de futebol, Elisa Ferreira, aproveitou a visita da equipa de Manchester à nossa urbe, para convidar 3 especialistas em reabilitação urbana a percorrer a pé [como já a vi várias vezes] e à chuva, as ruas do Porto e mostrar-lhes o estado de degradação das casas do centro histórico. Naturalmente que o passeio não foi propriamente para fins turísticos, foi certamente para se aconselhar e recolher impressões de pessoas entendidas no assunto oriundas de uma cidade que passou por problemas semelhantes com aparente sucesso.
Elisa Ferreira ainda não está na Câmara, nem sequer foi eleita, mas já dá sinais de um dinamismo e de uma consciência do cargo a que se candidata que Rui Rio nunca foi capaz de mostrar. Estes, são passos que é preciso dar. Quem não sabe, procura informar-se junto de quem tem experiência, mesmo que vinda de um país com realidades distintas do nosso. Mas, o início do caminho é esse.
Rui Rio, não tem sequer a noção do capital que desbaratou com o conflito criado com o Futebol Clube do Porto só por não ter resistido à medíocre tentação de agradar a Lisboa. Ainda ontem, o Porto Canal transmitiu um programa com pessoas da cidade, de diferentes áreas de actividade, onde esse aspecto foi devidamente abordado. E um dos pontos mais enfatizados foi o desperdício da Câmara por durante 8 anos não ter sabido capitalizar a marca Futebol Clube do Porto, como devia, para dinamizar o turismo da cidade. Em Portugal, não há marcas com a força do Porto, do vinho do Porto, e a mais conhecida actualmente, o Futebol Clube do Porto.
Aliás, ainda não consegui compreender porque é que, depois da projecção mundial alcançada pelo clube portuense, estes últimos 20 anos, ainda nenhuma companhia vinícola do precioso néctar se associou ao clube para publicitar e ampliar os seus mercados. Se a selecção promove a cerveja Sagres, não seria possível ao FCPorto promover o vinho do Porto? Não seria este, o «casamento» perfeito?
Foi paradigmática a expressão de um dos expertos ingleses [consultar o Público de hoje], que acompanharam Elisa Ferreira: «eu não sabia que aquilo [apontando para Vila Nova de Gaia] era outra cidade e os investidores também não sabem, nem querem saber. Para eles, é Porto.» Vejam só: «é preciso vender a marca Porto!». Os ingleses dizem-nos isto, enquanto nós, pequeninos, invejosos como sempre, andamos entretidos com guerrazinhas intestinas, a dividir, dividir, inventando "centrismos" a cada quintal que aparece, sendo o mais badalado o portocentrismo, como se o Porto tivesse algo a ver com o poder efectivo centralista de Lisboa!
Santa cretinice! Braga [de onde sopram mais estes ventos], é uma cidade que adoro, mas tem de se libertar da influência beata das igrejas, porque isto, é paroquialismo do mais retrógrado que alguém pode conceber! São autênticos tiros nos pés que o resto do país dá a favor do verdadeiro centralismo! Abram os olhos senhores!

16 abril, 2009

Rematar bem na Europa, exige-se!

Ainda na ressaca [mal digerida] da eliminação do FCPorto do acesso às meias finais da mais prestigiada competição de futebol do Mundo, vou dedicar o post de hoje ao tema, procurando levantar algumas questões - que tenho como pertinentes -, um pouco fora [espero], do alinhamento habitual destes assuntos.

Se a minha intenção fosse meramente condicionada pela lógica das respectivas realidades dos clubes que ontem se defrontaram, pouco mais teria a acrescentar que os lugares comuns do costume, a começar pela tradicional diferença de orçamentos, e a terminar pela realidade económica entre Portugal e Inglaterra. Mas isso, já toda a gente está farta de saber.

Dito isto, é inútil continuarmos a bater na tecla [realista], de que quem tem mais dinheiro pode comprar os melhores jogadores, mas pode não ter a melhor equipa, etc. Esta conversa, está completamente gasta.

O que gostaria de questionar e partilhar com os muitos leitores que gostam de futebol - e do Futebol Clube do Porto, em particular -, é o seguinte:
  • analisadas as características de cada jogador do plantel do FCPorto, técnicas, físicas e intelectuais, não será possível elevar para patamares mais altos de qualidade as suas performances, mais do que, como espectadores, podemos avaliar?

  • fazendo a pergunta ao contrário, será líquido afirmar que a aparente mais valia das individualidades do plantel do Manchester United, é mais genética do que o resultado de um treino altamente exigente, trabalhado sector a sector?
O que se houve para aí dizer, é que nos métodos de treino do futebol já foi tudo inventado,que é apenas uma questão de estilo, da personalidade do próprio técnico, etc., mas pessoalmente, tenho alguma dificuldade em acreditar nessa argumentação.

Antipatias à parte - porque eu não simpatizo com o rapaz, nem sequer acho que seja melhor do que o Messi -, pelo que nos foi dado saber sobre o Ronaldo [o nosso carrasco de ontem], ele costuma(va) ficar sozinho no campo a treinar, já depois de terminado o tempo regular de treino, o que me leva a acreditar na tese maior exigência, melhor qualidade. Isto, também me parece consensual. Agora, já tenho dúvidas é se teremos prestado a devida atenção a este detalhe.

Vou só dar alguns exemplos, sem querer discriminar ou elogiar em particular nenhum jogador do Futebol Clube do Porto, nem tão pouco armar-me em treinador-blogger. A ideia é construtiva e a intenção também.

Ontem, como noutras ocasiões, foi possível vermos o seguinte: Lisandro Lopez, Mariano Gonzalez e Raul Meireles, falharam oportunidades de golo por manifesta falta de potência no remate. Lisandro é o mais perfeito destes três, mas mesmo assim não marcou, porque atirou fraco. Mariano, seguiu-lhe o exemplo, e o Raul Meireles falha mais vezes do que acerta. Não me interessa agora aqui dissecar sobre os golos já marcados [alguns espectaculares] por qualquer destes jogadores, mas apenas questionar se podiam ou não ser melhoradas as vertentes técnicas dos jogadores neste aspecto.

Vou-me fixar no Raul Meireles, que é um jogador com muito potencial, mas que é capaz do melhor e do pior no mesmo jogo. Na minha opinião, onde ele é melhor, é no passe longo, mas muito desconcentrado no curto, passando a bola muitas vezes ao adversário criando arrepiantes situações de perigo à sua equipa. Tem uma natural potencia de remate, mas com má direcção. Neste caso, o exemplo apenas serve para salientar os aspectos em que o nível individual do treino devia incidir, ou seja, aperfeiçoar o remate e os níveis de concentração no passe curto.

O Hulk, é outro caso que merece cuidados especiais. É novo, tem margem para progredir, mas há que atalhar caminho, porque apesar de possuir as tais qualidades natas [pujança física, alguma técnica, velocidade e potencia de remate], já podia ter assimilado melhor a importância do jogo colectivo, até como ponte para explorar mais rapidamente as suas qualidades individuais.

No jogo de ontem, a equipa até foi empenhada e digna, mas notou-se algum cansaço em relação ao de Manchester, o que fazia com que os jogadores chegassem quase sempre mais tarde à bola, quer a defender, como a atacar, pelo que não sei se a gestão dos tempos de repouso foram devidamente administrados, mas não é aí que eu quero chegar, porque se a facilidade e qualidade de chuto fosse genericamente mais apurada, talvez pudesse chegar e sobrar para marcar uns dois golos e passar a eliminatória!

Este, é um problema recorrente, principalmente nos jogadores portugueses. Já há muitos anos escrevi num jornal sobre o assunto, e ele ainda se mantém. O jogador português [e não vale lembrar-me que o golaço do MU, de ontem, foi marcado por um português], nunca se deu bem - e francamente, não percebo porquê -, a rematar forte, de primeira, e sem preparação. Se calhar, é por isso que os melhores marcadores do nosso campeonato são quase todos estrangeiros... E se calhar é por isso, que Roneys e Tevez não falharam as parcas oportunidades que tiveram em Manchester num jogo que o FCPorto dominou!

O que eu pretendo destacar é isto: será assim tão complicado aperfeiçoar os nossos jogadores naquilo que eles têm de melhor, e corrigir o que têm de pior, para competições europeias? Estaremos nós seguros que, sem fazermos "um pouco" mais do que os outros, incluindo os métodos de treino, poderemos repetir o sucesso de 2004, quando, a este nível, temos quase sempre de nos bater com os Golias do futebol Mundial?
É que, se não encontrarmos esses atalhos de evolução técnica e física, corremos o risco de continuarmos a sentir o sabor amargo do pouco. Como ontem.

15 abril, 2009

E porque hoje é quarta-feira europeia

Vitórias atraem mais adeptos
Futebol Clube do Porto é o emblema português que mais crianças e jovens tem conquistado por mérito

"Meritocracia" pode ser uma palavra difícil de entender para os jovens adeptos do futebol. E, no entanto, é por via dela que o F. C. Porto tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos entre as crianças e os jovens. Não se trata de uma constatação empírica, mas a conclusão do maior estudo realizado sobre o futebol português - "O Futebol, as marcas e os adeptos", de Carlos Liz . "O F. C. Porto tem sido mais ganhador logo os mais jovens vão para o que consideram melhor", diz o autor.
Na inocência dos seus sete anos, Tiago Martins, abordado à saída da EB1 da Fontinha, no Porto, confessou ter sido do Benfica "quando era mais novo". "Cresci e agora gosto do Porto, que ganha tudo", afirmou. O irmão gémeo, Bruno Martins, é do Porto porque "ganha sempre" e confessou não gostar de Hulk.
Rafael Oliveira, de 16 anos, aluno da "Homem Cristo", de Aveiro, é do F. C. Porto desde pequenino. Um "amor" que teve um hiato de um ano, explicado pela "pressão" de um amigo do pai. "Era sportinguista e dizia que me batia se eu dissesse que eu não era do Sporting", contou. "Na minha turma os portistas são quase a maioria", acrescentou. Tiago Machado, de 15 anos, apesar de sportinguista, não põe em causa as palavras do Rafael. "Há mais portistas, porque eles têm mais títulos nos últimos anos", desabafou.
Simão Chaves, de oito anos, não está com rodeios quando aponta os motivos que o levam ser do F. C. Porto. "A grande maioria dos meus amigos e colegas na escola também são e depois porque eu só me lembro do Porto a ganhar". Mas as razões não ficam por aqui. "A minha cor favorita sempre foi o azul e, por isso, também acho que é natural eu gostar de um clube com esta cor. Por mim, o Porto ganhava sempre".
Benfiquista "assumido", Miguel Faria, de 16 anos, aluno da Escola de Monserrate, em Viana do Castelo, admite que "tem vindo a crescer" o número de adeptos portistas. "Pessoas há que não gostam de perder e, se calhar, trocam o seu clube pelo Porto. É a única razão que consigo encontrar", justifica, considerando, também, poder tratar-se de "uma moda". Natural de Esposende, recorda uma sondagem feita na sua turma do 9.º ano (hoje frequenta o 11.º), onde "havia um só" adepto de outro clube para cerca de 30 portistas. "Quando assim é, palavras para quê?" indaga.
No 6º ano, Rui Gonçalves sentia-se uma espécie de último moicano sempre que assumia a paixão pelo F. C. Porto na turma. O cenário mudou. "A maioria dos meus colegas hoje são do Porto. Já mostrámos que somos os maiores", argumentou aquele aluno do Liceu Camões, em Lisboa. "A verdade é que o Porto ganha tudo enquanto o nosso Quique perde tempo com revistas cor-de-rosa", admitiu, um outro aluno, Salvador Pimenta, benfiquista. "Qualquer dia passo a ser portista", ironizou.
[Fonte:JN]

14 abril, 2009

Porque não haverá regionalização ( II )

Continuo a enunciar os motivos pelos quais penso que a Regionalização não ocorrerá tão cedo.

O Mapa

Não é consensual, nem nunca poderá ser. Em minha opinião a configuração segundo as cinco regiões-plano é uma má decisão. Causa vivo repúdio às regiões do interior Norte e Centro, que alegam que continuarão esquecidas, já que o poder passaria de Lisboa para outra cidade que as ignoraria. O alegado portocentrismo é uma acusação que já hoje é corrente e que tenderá a intensificar-se. Quase certamente haverá muita gente do Minho a votar contra uma região que nominalmente tenha o Porto como cabeça. Por outro lado, transmontanos e beirões não se revêem numa regionalização em que não constituam regiões de pleno direito, e a minha simpatia pessoal está com eles. Além disso, porque razão não poderia existir uma região que correspondesse à Área Metropolitana do Porto, a que poderiam aderir os concelhos limítrofes que assim o desejassem?

Em resumo, o mapa baseado nas cinco regiões é provavelmente un handicap para o êxito do SIM. Tenho fortes suspeitas que se trata de decisão do governo com vista a inviabilizar o resultado do referendo ( não esquecer que um referendo só é vinculativo se votarem 50% +1 dos eleitores inscritos ). Penso que dada a importância do desenho do mapa, o governo já devia ter patrocinado um amplo debate destinado a auscultar opiniões que ajudassem a atingir algo que fosse o mais próximo possível de um inatingível consenso. O actual silêncio é suspeito, e uma eventual apressada discussão nas proximidades da data do referendo será um show-off inútil que apenas servirá para confirmar as suspeitas de má-fé.

A Identidade Regional

Tenho dúvidas que haja uma entidade "nortenha", mas há com certeza várias identidades sub-regionais: transmontanos, beirões, minhotos. Penso que não poderemos acrescentar durienses (no sentido de habitantes da província do Douro Litoral) mas portuenses sim, de certeza, e com uma área que extravaza em muito os limites do concelho do Porto. Manter as cinco regiões é uma maneira de fazer desaparecer estas identidades e em consequência, como já afirmei, diminuir as probalidades de êxito do SIM, finalidade única do governo e dos políticos lisboetas.

A criação de regiões como Trás-os-Montes/Alto Douro, ou as Beiras, é por vezes combatida com o argumento de que não teriam "massa crítica". Lembro que a Espanha, país com regiões enormes, algumas com população quase igual à de Portugal, tem regiões pequenas que criou pelo mesmo motivo que defendo para nós: a existência de identidades que estariam deslocadas se fossem incluídas em regiões maiores com as quais não têm afinidade, mas a quem o governo central deu a possibilidade de se manterem elas próprias, conservando a sua individualidade. Gostaria de ver imitado em Portugal o respeito manifestado em Espanha pelo governo de Madrid. Cito alguns exemplos:

La Rioja - 301 mil hab. em 5.045km2
Cantábria - 562 mil hab. em 5.321km2
Navarra - 593 mil hab. em 10.391km2

Obs.: a Region de Murcia é o caso de uma região que foi feita de encomenda para a cidade de Murcia, tendo 1,42 milhões de habitantes. Penso que podia servir de exemplo para se pensar numa Região do Porto.

Há pelo menos mais um motivo, e fortíssimo, para inviabilizar a regionalização, que tenciono desenvolver brevemente.

É como se voassem perto do Sol e se queimassem!


Como se pode constatar por este artigo, Bob Dylan também não é dos que respiram confiança em relação aos políticos.
Nem Barack Obama lhe merece o benefício da dúvida, apesar da boa imagem.
O seguro morreu de velho...
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Promiscuidades ocultas

Nestes últimos anos, talvez como consequência de os clubes de Lisboa terem sido ultrapassados em legalidade e competência, por um outro da «província», temos ouvido falar, mais do que era
habitual, em promiscuidade e corrupção. Ora, todos sabemos que, não obstante repugnarmos esses hábitos, eles sempre existiram, tanto dentro como fora de fronteiras, o que não significa que não gostemos de os ver combatidos e, se possível, totalmente exterminados.
Todos sabemos também, que quem veícula estas notícias, com maior ou menor credibilidade, são os respectivos órgãos de informação, que por sua vez (convém nunca o esquecer), se constituem como um poder dentro dos outros poderes. Sem querer desviar-me do assunto, chamo a vossa particular atenção para a crescente "preocupação" dos media com a blogosfera traduzida na proliferação de debates sobre o assunto, o que me parece um indisfarçável sinal de medo por uma forçada partilha desse poder ou até pelo seu eventual domínio...

Já sei [porque também não faço nada para o esconder], que me vão chamar céptico, mas de facto, não acredito em folclores economicistas nem nas suas mirabolantes engelharias financeiras. Assim como não acredito em Messias, nem nos homens providência. A minha crença é fraca porque depende apenas [e este apenas é uma imensa montanha] na vontade dos Homens, coisa que, até ver, se tem revelado difícil de medir e impossível de congregar. Se isto fosse possível, então acreditaria sim, numa nova ordem mundial, com novos critérios de produção e distribuição da riqueza.

Os critérios que existem, faliram há muito, e não é a crise global que me faz pensar assim, porque ela irá repetir-se por várias gerações, mesmo que alternada de ligeiras melhorias. Em sociedades egoístas como as [ditas] modernas em que vivemos, já nem o velho paradigma do sonho americano serve de excepção à regra. A América, é um país «rico» , cheio de pobreza, e estou só a falar do mais poderoso...Nessa nova ordem - que só posso imaginar -, nunca seria possível acabar com a tal promiscuidade cometendo os mesmos antagonismos das nossas sociedades, onde se abrem estradas aparentemente distintas mas se permite mais adiante que se cruzem e possam promiscuir.

O Público de hoje, dá-nos um pequeno exemplo. Basta ampliarem a imagem plasmada neste post para perceberem o que quero dizer. Não é possível detectar onde começa e termina a interacção entre familariedade da sociedade privada e o Estado. Cada macaco no seu galho. Sou e continuarei a ser ferozmente contra esta promiscuidade específica, porque a partir daqui, não há moral para criticar o simples cidadão que infrinja as regras e acusá-lo de ligações a clubes de futebol ou a qualquer outra entidade. O mau exemplo está a ser dado pelo Estado e seus representantes. Depois, tal cereja a enfeitar o bolo, vemos esses representantes, ricos, e a gozarem de escandalosas reformas...

Serei excessivo? Talvez, mas os factos estão aí a confirmar o que digo. Por agora, e enquanto não brotarem exemplos dignos que contrariem este espectáculo de degradação cívica e moral, o meu olhar em direcção a um político não é muito diferente daquele que lanço a um criminoso comum. Com umas diferenças. É que, os últimos ainda pagam muitas vezes com a cadeia as suas asneiras. Os outros, os senhores «governantes», nem por isso, e cometem duplos crimes. O primeiro, é o crime de fraude [ou vigarice], por traírem a confiança dos eleitores, iludindo-os com competências que não possuem. O segundo, é o de abuso de poder, por enriquecerem através dele, enquanto o povo pena.
Por este caminho, é impossível haver progresso e justiça.

13 abril, 2009

Ponte D. Luís

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Linha de Leixões para passageiros deverá abrir antes das eleições legislativas

"Leça do Balio, São Gemil e São Mamede de Infesta vão ter, nas horas de ponta, dois comboios em cada sentido, a ligar o porto de Leixões e a Estação de Campanhã"

Carlos Cipriano

in Público de 13 de Abril de 2009

Relacionado com este assunto ler também este texto de António Alves.

Porque não haverá regionalização ( I )

A lógica e o bom senso mandariam que não escrevesse mais sobre o tema regionalização, nem sequer que gastasse tempo a pensar nele. Mas a vida não é só lógica e bom senso, um pouco de loucura e muita paixão são necessários para temperar a existência.

É minha convicção que tudo indica que a regionalização não vai acontecer tão cedo, pelo menos na forma como é sonhada pelos verdadeiros regionalistas. Fazer futurologia é arriscado e é fútil, mas arrisco-me a dizer que decorrerão dezenas de anos até que ela se verifique. São muitos os motivos que indicam esta direcção. Vejamos alguns.

Os partidos políticos, o governo e o estado não querem a regionalização

- Para os barões dos partidos políticos, incrustados em Lisboa, haverá uma diminuição do potencial de favores e benesses cuja distribuição, pelos apaniguados, é uma das suas forças e uma das suas razões de existir. Haverá uma enorme queda da moeda de troca que os políticos usam para atingir os seus fins, frequentemente imorais, senão ilegais.

- Para os governos, representa uma transferência de poderes, logo uma diminuição do seu próprio poder.

- Para muitos dos titulares de cargos na administração pública, a regionalização poderá representar a necessidade de deixar o dolce farniente da capital, trocando-o pelas paragens inóspitas daquilo a que chamam a província, com o consequente contacto obrigatório com as populações ignaras que lá habitam.

A génese da regionalização

Desde a promulgação da primeira versão da CRP que parece haver uma patente má vontade contra a regionalização. Com efeito quando a CPR, no artigo 236, enumera as autarquias locais, refere-se às freguesias, municípios, e regiões administrativas. Só que, em relação a estas últimas o artigo 256 condiciona a sua instituição em concreto à aprovação dos cidadãos eleitores, através de consulta. É curioso a Constituição dizer que Regiões sim, mas ... A obrigação da consulta popular é um primeiro entrave às regiões, que é contemporâneo do segundo entrave: as regiões terão de, segundo o art.255, ser criadas simultaneamente. O nº 2 do art. 256 explica-nos que se a maioria nacional "não se pronunciar favoravelmente em relação à pergunta de alcance nacional (...) as respostas a perguntas (...) relativas a cada região (...) não produzirão efeitos". Trata-se aparentemente de dificultar as coisas, e não se vêem movimentações no sentido de alterar estes obstáculos.

Como se vê, os artifícios anti-regiões vêm de longe. Mas há mais...