12 dezembro, 2009

O bom adepto

Dois amigos, ambos adeptos do mesmo clube, foram au futebol. O jogo começa, e decorridos pouco mais de 3 minutos um jogador da sua equipa passa por um, dois, três, quatro adversários, vê o guarda redes que tenta fazer-lhe a mancha e quando se esperava que rematasse colocado para o lado mais desprotegido, rodopia e de costas dá um toque subtil de calcanhar à Madjer e a bola entra na baliza. Golo! Golo!Goooooooolo! Gritou extasiado um dos amigos.
O outro, manteve-se imperturbável e sério sem dizer uma única palavra e o amigo, estranhando, pergunta-lhe:
- então vês um golaço destes e não dizes nada?
O outro replica:
- deixa-me ver o jogado sossegado.
O desafio, entretanto, termina com uma vitória folgada da equipa destes dois amigos, e com uma exibição a todos os níveis espectacular, tanto técnica, física, como tacticamente. Os jogadores foram fantásticos e o treinador também, porque numa altura em que o adversário conseguiu empatar e começava a crescer, soube fazer as substituições necessárias e alterar o esquema táctico fazendo com que a sua equipa voltasse a dominar o encontro e o ganhasse com uma goleada histórica.
Decorridas 2 semanas, os amigos combinaram ir outra vez ver a sua equipa jogar. E foram. O jogo começa, e ao contrário do que acontecera na jornada da goleada, o encontro pautou-se pela medíocridade, com os jogadores desconcentrados, sem vontade nem genica, e o treinador sem rasgo para fazer as substituições quando as coisas começavam a correr mal. Resultado: uma derrota pesada em casa.
Só que, durante este desafio o amigo que não gostava de se manifestar, aplaudia os jogadores que, sem ideias para desenvolver o seu jogo, se encolhiam limitando-se a passar a bola para trás até a fazerem chegar com a cabeça às mãos do guarda-redes. O outro, surpreendido, perguntou-lhe:
- Ouve lá pá, então outro dia ficáste mudo e quedo com aquele golaço e com a exibição da equipa, mandáste-me calar, e agora estás a aplaudi-la por passarem a bola para trás?
- Ó pá, tu não percebes que estou a tentar dar moral à equipa?
Diz o outro:
- Tá bem pá, mas se aplaudistes para moralizar a equipa por estar a jogar mal, por que é que também não a aplaudes quando joga bem?
- Porque só no fim do campeonato é que se fazem as contas! Ripostou o outro já meio chateado.
- Então, queres dizer que durante todo o campeonato as pessoas só devem aplaudir a equipa quando joga mal, só para a moralizar?
- Claro, temos de apoiar sempre o nosso clube nos momentos maus.
- E nos bons, não temos?
- Temos, mas eu prefiro conter-me.
- Então não podemos conversar, trocar opiniões, louvar, criticar os jogos, o treinador?
- Não porque isso pode desestabilizar o plantel... Só no fim do campeonato se faz o balanço.
- Olha, sendo assim, não venho mais ao futebol contigo.
- Por quê, pá, estás chateado comigo? Pergunta o amigo admirado.
- Não pá! É porque aquilo de que tu realmente gostas não é de estádios nem de futebol. É de igrejas e velórios!

11 dezembro, 2009

Bom fim de semana com Fábio Caramuru




...na companhia de Fábio Caramuru, pianista e amigo da nossa amiga e poetisa paulista Neli Araújo que teve a gentileza de no-lo apresentar.

Armando Vara, o moço de recados [e endereços] da EDP

O Mundo é cruel. Muito cruel, mesmo. Principalmente com os poderosos e com aqueles políticos que antes de subirem os degraus do Poder não tinham onde cair mortos. É talvez por essa razão que a Justiça, fiel à fama de ter de ser cega, continua de olhos bem abertos com esta classe de protagonistas.
O mesmo já não se pode dizer quando se trata de ajuizar o «terrorismo» do Líder dos Super-dragões que, até ver, ainda não foi visto a incendiar autocarros, a abrir a cabeça com tacos de base ball a jogadores adversários, nem a assassinar adeptos de outros clubes com very-lights e tem uma procuradora do Ministério Público à perna ansiosa por o condenar, alegadamente por ter protegido um candongueiro de 76 anos e resistido à Polícia. Curiosa diligência esta de alguns magistrados com a arraia miúda da marginalidade, e tão complacente com o peixe graúdo... Neste caso, a abnegação ao cumprimento da Justiça é tão estranho quando o referido acusado tem o testemunho de dois agentes da polícia a confirmarem que ele apenas tentou apaziguar os ânimos da multidão...
Não é que defenda os candongueiros, só ainda não descobri foi um argumento convincente para considerar um candongueiro mais doloso para a sociedade do que certos administradores bancários ou figuras políticas. Bem pelo contrário, o prejuízo para o erário público causado por estes últimos, é muito maior e o exemplo de responsabilidade cívica incomparavelmente mais grave.
Apesar disto, o Mundo é mesmo muito cruel com os poderosos! Manda a verdade que reconheçamos quão fácil é - mesmo para um sem-abrigo, se ele o quiser -, contactar sem marcação de entrevista, um administrador bancário. É a coisa mais corriqueira que conhecemos. Não se entende por isso as dúvidas de alguns cépticos para creditarem as declarações à RTP do ex-Ministro e ex-administrador do BCP Armando Vara, que se auto-suspendeu [continuando a auferir vencimento], por ter afirmado que o sucateiro suspeito de o ter corrompido se dirigiu ao seu Banco casualmente e que o recebeu para lhe indicar o endereço da EDP[ler JN]... Qual é a crise?
Eu farto-me de fazer isso, tanto cá como no estrangeiro, e os leitores certamente também. Quando não sei a morada de alguém aquilo que logo me ocorre para ficar informado é ligar para um banqueiro. Se estiver em Lisboa também uso o número de telefone do 1º. Ministro ou o do Presidente da República. Já fui várias vezes ao Palácio de Belém falar com o Cavaco para lhe perguntar as horas e até estou a pensar ligar ao Sócrates para me dar um prognóstico do próximo Benfica-Porto, só para o enervar. É assim, tu cá, tu lá. As mordomias protocolares acabaram.
Também não percebo a intolerância do povo só por a RTP ter o hábito altruísta de escancarar as portas aos poderosos e permitir-lhes que se defendam em plena fase de investigações judiciais. Qual é? A RTP não faz isso com todos? Não? Não fez com o Carlos Cruz, com o Dias Loureiro, com o Vale e Azevedo e a toda aquela ilustre equipa de pedófilos? Porque é que nos indignamos?
O Mundo é de facto cruel, mas a RTP não, é generosa e tolerante. Tanto acarinha os poderosos, como se esforça exaustivamente por nos convencer que também eles são povo...

10 dezembro, 2009

Medina Carreira chama os bois pelo nome

Medina Carreira diz que programa Novas Oportunidades é uma "trafulhice" e "aldrabice"

«Questionado pela jornalista Fátima Campos Ferreira, anfitriã da tertúlia, sobre a avaliação de professores, Medina Carreira classificou-a de “burrice”.

“Se você não avalia os alunos, como vai avaliar os professores?”, inquiriu»

Já sei, já sei, que não faltará por aí quem esteja ansioso por sacar do manual dos piores qualificativos para censurar Medina Carreira. É normal. Tão normal como as suspeitas que os seus críticos geram sobre si mesmo. A imprudência, ou talvez o medo, torna-os burros. Já viram alguém suspeito de uma ilegalidade assumir a culpa? É só puxar a bobine atrás, rever os filmes com as reacções dos pedófilos do processo Casa Pia para se concluir que afinal os criminosos [ou suspeitos de o serem] foram as vítimas, ou seja, as crianças abusadas. A pouca vergonha com os Bancos, as offshores e os conselheiros de Estado irredutíveis ensinam-nos que só os humildes confessam a culpa.

Portanto escusam de dizer que Medina é excessivo porque se calhar ainda está aquém da realidade, se pesarmos bem o autêntico bordel em que se está a transformar a actividade política e governativa. Desculpem-lhe a deselegância dos termos, a "cambada" e a "tropa fandanga", [porque pode estar involuntariamente a atingir os nossos filhos ou netos], porque ele crítica com a mesma contundência os responsáveis e no sentido certo, de cima para baixo. Ele pode não ter na mão as soluções para os problemas desta imitação rasca de país, mas neste caso concreto, tem razão. Nós estamos a ser governados por garotos. Ponto.

Consequentemente, se queremos [eu também já não sei bem se queremos], de facto ter melhores governantes elevemos então o nosso grau de exigência sobre eles. Não nos devíamos preocupar com a aplicação de modas ridículas na política, mesmo que lá fora o façam, antes dando prioridade à ordem e ao respeito, prerrogativas indispensáveis a uma Democracia a sério.

Ontem, vimos na televisão esses tristes sinais de "modernidade" onde dois deputados voltaram a insultar-se mutuamente com a complacência e a falta de autoridade do Presidente da Comissão Parlamentar, incapaz de se impôr.

Suponho que deve ser também a esta bandalheira que Medina Carreira se quer referir e se assim fôr, estou completamente de acordo com ele. Já duvido que essa sintonia seja extensível a outras áreas - como a Regionalização, por exemplo -, porque suspeito que nessa matéria sofra do síndroma de centralismo , mas no caso em questão, estou de acordo com o que diz, e como o diz.

Se existe defeito que abomino no ser humano, a hipocrisia é um deles. Uma pessoa honrada é uma pessoa honrada, um vigarista é um vigarista, e os dicionários não devem ser castrados pela lâmina venenosa da hipocrisia.

09 dezembro, 2009

As birras de Jesualdo

No fim do brilhante jogo de ontem com o Atlético de Madrid que o FCPorto venceu categoricamente, Jesualdo Ferreira aproveitou a boleia para mandar uns recados aos adeptos exigindo-lhes um maior apoio no futuro. Hulk*, o autor daquele autêntico míssil que foi o 3º. golo, não quis ficar atrás do técnico e também não se coibiu de enviar umas "mensagens" aos adeptos que o criticaram ultimamente.
Antes de me pronunciar sobre estes assuntos quero realçar um facto para memória futura, que é o seguinte: não há nenhum treinador ou jogador que queira mais ao Futebol Clube do Porto que os adeptos e simpatizantes. Colocadas as coisas no seu sítio, vamos às declarações de Jesualdo e Hulk.
Ontem fiquei satisfeitíssimo com a exibição e o resultado do meu clube, não obstante alguns períodos de jogo, breves [felizmente], de ligeira desconcentração que aliás têm sido notados em todos os jogos, incluindo os dois últimos que venceu com aparente à vontade e superioridade. A verdade [e ainda bem que assim é], é que a equipa demonstra claros sinais de subida de forma, facto que saúdo com o maior prazer. Por conseguinte, ontem, todos gostamos um bocadinho mais, tanto do treinador, como dos jogadores. E então, será isso, mau?
Há uma célebre frase antiga, uma espécie de Hino ao Amor, que encaixa perfeitamente no afectos clubístico dos portistas, que diz assim: "Amo-te! Hoje, mais do que ontem, e bem menos que amanhã!". Tirando honrosas excepções, haverá pouquíssimos jogadores e principalmente treinadores, que ousarão sentir o mesmo pelo clube que representam. São profissionais de futebol pagos [e bem] para jogar, não são adeptos. Hoje estão no FCPorto, amanhã no clube que lhes pagar mais. Essa é a sua maior "paixão". Os adeptos, e o clube, pagam-lhes para os ver jogar e eles jogam para lhes darem o maior número de alegrias possíveis, que devem resumir-se a dois pontos: vitórias e boas exibições. Para a grande maioria dos adeptos, o futebol tem de ser um espectáculo, onde só há três possíveis resultados objectivos: as vitórias, os empates e as derrotas. Mas gostam sobretudo da mistura do futebol bem jogado com... as vitórias.
Não será pois, o facto de ontem o FCPorto ter jogado bem e conquistado na casa de um valioso adversário uma robusta vitória, que esvaziará o sentido das críticas que alguns adeptos [incluído eu] lhe dirigiram, porque não foram críticas ôcas nem apressadas. Os olhos vêem o que vêem e a inteligência limita-se a reagir à qualidade dessa visão. Ontem, ficámos satisfeitos porque os nossos olhos viram um espectáculo de futebol agradável, do mesmo modo que ficámos descontentes e desconfiados quando acontece o contrário. Não há bons e maus adeptos, há apenas adeptos mais pacientes do que outros, mas nenhuns podem levantar o ceptro da razão antecipadamente. Todos podem [e devem], isso sim, é fazer as suas críticas, mesmo que discordantes de outras. É assim.
Agora, o que o Mister Jesualdo não pode, nem merece, é receber aplausos quando os sinais que dá para o exterior do seu trabalho são negativos, com demasiadas exibições frouxas e sem fio de jogo atempadamente implantado. É preciso tempo? Claro que sim, mas não podemos dizer que o forte de Jesualdo seja atalhar caminho para ganhar esse tempo, porque nem sempre ele sobra para se recuperar pontos perdidos, e nem sempre os adversários ajudam, esperando... Ele, é que é o treinador, mas nós é que somos os espectadores. Não é? Ou seremos uma massa acéfala de gente sem direito a ter opinião?
Por outro lado, as declarações de Hulk no final do jogo, justificando a sua fase menos boa por ter andado adoentado, dão razão a quem tem criticado Jesualdo, porque seria importante para os adeptos e para o próprio treinador que, a ser verdade essa situação, lhes fosse transmitida, por uma questão de respeito. Há pois que não descurar o aspecto comunicacional com os adeptos porque são eles a alma do futebol. É desse detalhe que Jesualdo às vezes parece esquecer-se.
Portanto, pessoalmente, quando tiver que o criticar critico, quando tiver que o elogiar, elogio, mas sou eu quem escolhe os timings e decide. De resto, o que eu quero mesmo é ficar completamente convencido que Jesualdo é o treinador que FCPorto precisa. Surpreenda-me, caro Jesualdo e obrigue-me a engolir mais um sapo com outro campeonato, porque são sapos saborosos, embora de difícil digestão...
*É até possível que as críticas de Hulk não tenham sido dirigidas aos adeptos [ele não o explicitou], de todo o modo, é lamentável que o jogador tenha jogado adoentado sem que os adeptos tenham tomado conhecimento. Depois, Jesualdo não tem de que se queixar.

07 dezembro, 2009

A regionalização armadilhada

Não me julgo com vocação nem para ser o que se chama um "corvo branco"(num bando de corvos pretos) nem para ser arauto de desgraças, mas continuarei a discordar de que se realize o refendo constitucional à Regionalização sem que préviamente se tome uma série de iniciativas de preparação, sem as quais nos arriscamos à vitória do NÃO o que, a acontecer, inviabilizaria a regionalização por mais longos anos, a menos que viesse a ocorrer qualquer coisa parecida com o que aconteceu em 74.

Todos os preceitos constitucionais estão programados para constituir uma armadilha anti-regionalização, e "mergulhar de cabeça" no desejo de "Referendo já!" é de uma ingenuidade e de uma irresponsabilidade que o centralismo agradecerá. O referendo, com o actual enquadramento legal, é uma farsa. Nenhum governo - passado, presente ou futuro - nem nenhum partido político do Arco do Governo, quer a regionalização. Por razões sobejamente conhecidas, o que ambos pretendem é a manutenção do actual regime de colonialismo centralizado.

Assim sendo, sem o estudo detalhado das armadilhas semeadas no caminho e das necessárias contra-medidas, eu penso que qualquer regionalista convicto deve rejeitar a realização de um referendo no estilo "meia bola e força".

Rui Veloso / Primeiro Beijo



Um bom feriado, e boa sorte para o FCPorto

Educação e vocação ou, simplesmente, valores

Ponto 1º.
Concordo absolutamente com a necessidade da junção de um conjunto de requisitos para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, como: Educação, Formação Académica, Técnica, Profissional e Vocacional.
Ponto 2º.
Sendo certo que, por razões de vária ordem, intelectual, económica e vocacional, uma grande parte não conseguirá reunir plenamente todos esses requisitos, é fundamental que reúnam, pelo menos, o primeiro deles. A Educação*.
A este propósito o Professor Sobrinho Simões - que o JN do passado sábado, dia 5/11, informou [e espero que se trate apenas de um lamentável lapso] estar a leccionar na Faculdade de Medicina de Lisboa, mas que suponho tratar-se da Faculdade de Medicina do Porto -, fez um comentário ilustrativo sobre a importância de um de esses requisitos igualmente importante, que é o da vocação. Abordava igualmente um outro aspecto pertinente e que é outra praga da nossa sociedade, que consiste na dificuldade ou na mesquinhez que temos de trabalhar em equipa. "Temos um problema que é termos bons solistas mas sermos maus a trabalhar em orquestra e isso tem a ver com as limitações históricas" - disse. E escreveu a seguir: "Temos de ter um sistema de recrutamento com avaliação curricular e os candidatos têm que ter provas escritas e entrevista" .
Há muito que defendo esta ideia, mas de forma menos "diplomática". A profissão de Médico, vai - na minha óptica -, muito para além da licenciatura e das especialidades. É a única profissão, a que pela sua interligação imediata com a saúde pública, devia ser exigível o factor vocação. Antes de se candidatarem a Médicos, todos os alunos, incluindo os melhor classificados, deviam ser submetidos a rigorosos exames psicológicos [a que Sobrinho Simões prefere chamar entrevistas], para avaliar uma das maiores virtudes que um médico pode ter, para lá das técnicas e cientificas: a componente humana e a capacidade de comunicar com os doentes. Só assim se entende esta outra expressão de Sobrinho Simões: "Os 'minifundiários' e as 'pequenas invejas' são defeitos culturais e não genéticos".
Na política, aquilo em que os políticos mais investem é na representação. Passe a redundância,
não é politicamente correcto afirmar isto, mas na minha opinião, o politicamente correcto é outra forma de representar, por isso, apesar de termos de conviver com estas farsas, devemos ridicularizá-las o mais que pudermos. Quem gostar de representar terá definitivamente de optar pelo Teatro, pelo Cinema ou pelas Telenovelas. Ponto. Aos políticos, teremos de proibir essa vocação, porque é gravemente desviante e não é isso que esperamos deles.
Um indivíduo muito educado, muito polido [eu não pertenço a esse grupo porque não tenho relevância pública, podendo dar-me a certas brejeirices], pode não ser um indivíduo fiável e integro, mas se representa um alto cargo no Estado tem de ser superiormente educado, porque na eventualidade de recair sobre si uma suspeita de corrupção ou de qualquer outro tipo de crime, e for escutado a verbalizar ordinarices que até os simples cidadãos não usam, o povo tem todo o direito de duvidar da sua idoneidade. É apenas esse, o significado do velhinho e sábio ditado da mulher de César...Sábio, mas não quanto baste, para fazer com que certas figuras públicas tenham bem presente a elevação exigível aos seus cargos.
Com isto termino dizendo que, à luz destes exemplos, de tudo o que vamos descobrindo sobre os hábitos comportamentais das nossas "maiores" figuras do Estado, me considero , uma pessoa educada.
*
Apenas a partir deste pilar é que podemos falar em Justiça

06 dezembro, 2009

Boicotar quem?

Sobre o assunto do momento, o "caso Red Bull", sinto que tenho uma opinião que foge um bocado à generalidade dos pontos de vista que tenho lido, razão pela qual julgo que pode ter interesse dá-la a conhecer aqui, e deste modo poder talvez contribuir para o debate.

Qual é a génese do problema? Uma empresa, a Red Bull, firmou um acordo, válido por três anos, com os municípios de Porto e Gaia, no sentido de realizar sobre o Douro um festival aéreo que é basicamente um acto de promoção comercial daquela bebida. Terminado o contrato, verifica-se que um dos contratantes, o exibidor, resolveu procurar outro local para o próximo triénio. Será lógico considerar inadequado que uma empresa procure rentabilizar ao máximo os resultado de um evento que promove com fins exclusivamente comerciais? Porque razão se há de considerar a Red Bull como uma instituição de benemerência com a obrigação de substituir-se ao Estado, promovendo o turismo no Porto, mesmo com resultados financeiros menos favoráveis?

Obviamente que a questão tem outros contornos, o principal dos quais é a acção dos poderes públicos - directamente ou através de empresas participadas - no auxílio dado à Red Bull no sentido de lhe criar condições mais atractivas em Lisboa do que em Porto-Gaia. Dito isto, aponte-se a ignomínia (para utilizar o termo do António Alves) da actuação estatal que, como é hábito, beneficia a capital à custa de todos aqueles portugueses que não têm a "prerrogativa" de viver em Lisboa e arredores. Sim, porque ninguém acredita que empresas como EDP, PT, Galp, além da própria Secretaria de Turismo, não tenham patrocinado através de auxílios diversos, sobretudo financeiro, o desvio do festival do Douro para o Tejo, por muito que o neguem veememente. Daí que se proponha o boicote aquelas empresas, ao qual gostosamente estou pronto a aderir, já que não posso boicotar o Estado Português, sobretudo na miserável forma que ele hoje apresenta.

Quero referir um último ponto que não me lembro de ver focado em toda a dialéctica à volta deste caso. Se a não renovação do contrato com Porto-Gaia é por incapacidade financeira para satisfazer as exigências do promotor, não teríamos nós, os portuenses, o direito de supor e esperar que empresas de vulto do grande Porto se prontificassem a colaborar financeiramente, até como acto de publicidade, no esforço a levar a cabo para garantirmos o festival, pelo menos por mais três anos? E então fico a pensar se o boicote não deveria ser dirigido para empresas como Sonae, Amorim, Salvador Caetano, RAR, CIN, Sogrape, e tantas outras, que não se preocupam em levantar o estandarte da região. Acabo por ficar irritado comigo próprio quando me lembro que procuro dar preferência aos seus produtos sempre que possível, sem me preocupar se são os melhores, para afinal verificar que no fim de contas se estão "nas tintas" para a região onde estão inseridas.