09 setembro, 2011

Duarte Lima diz que "provas arrasadoras" são "pura especulação"

A herança trágica de Feteira
Duarte Lima

O advogado no Brasil de Duarte Lima diz que as alegadas "provas arrasadoras" no caso da morte de Rosalina Ribeiro divulgadas, esta sexta-feira, pelo semanário Sol, "não têm nada de novo" e "são pura especulação".

O semanário "Sol" noticia que a polícia brasileira afirmou ser detentora de "fortes indícios do envolvimento de Duarte Lima no assassínio de Rosalina Ribeiro, em Dezembro de 2009, com base, entre outros elementos, nas multas por excesso de velocidade do carro que o ex-deputado do PSD terá alugado para transportar a vítima no dia em que foi morta".

Titula na primeira página "provas são arrasadoras" e enumera vários factos: "carro de Duarte Lima esteve no local do crime na véspera do assassínio", "primeiro tiro foi disparado ainda dentro do automóvel", "carro foi entregue lavado e sem o tapete do lado do 'pendura' e "ex-deputado disse não saber onde alugou o carro - mas escreveu à empresa a pedir a factura".

Numa nota enviada à Agência Lusa, João Costa Ribeiro Filho, advogado brasileiro de Duarte Lima, diz que a "pseudo investigação não tem nada de novo em relação às notícias sobre este tema, que já foram divulgadas no passado, e não passa de pura especulação".

O advogado salienta que ao contrário do que tem sido anunciado, a "prova existente nos autos inocenta" Duarte Lima.

João Costa Ribeiro Filho escreve ainda que até ao momento "não houve qualquer pronunciamento sobre esta matéria nem por parte da justiça nem do Ministério Público brasileiro".

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Palácio de Cristal: Movimento pede anulação do chumbo ao referendo local



O Movimento de Defesa dos Jardins do Palácio de Cristal já pôs um acção junto do Tribunal Constitucional a “pedir a anulação da sessão da Assembleia Municipal do Porto”, em que foi chumbada a realização do referendo local.

O porta-voz do movimento, Soares da Luz, adiantou que a acção em causa “seguiu pelo correio na terça-feira”.

O movimento contesta a decisão da Assembleia Municipal do Porto de rejeitar a realização de um referendo local sobre a construção de um centro de congressos naquele espaço do Palácio de Cristal.

“Achámos que a reunião da Assembleia Municipal não decorreu em conformidade com a lei”, disse, justificando-se com o facto de não ter sido apresentada “qualquer moção de rejeição do referendo”.

Na documentação enviada ao TC seguiu “uma cópia da ata daquela sessão”, concluiu.

O referendo local foi chumbado, a 18 de , graças aos votos combinados da coligação PSD-CDS/PP e do PS, partido que o movimento criticou com alguma dureza, por considerar que “não é oposição nenhuma a esta maioria”.

Uma dos argumentos utilizados então pelo PS para justificar a sua oposição ao referendo foi a existência de um contra-programa sobre a intervenção planeada para o Palácio de Cristal/Pavilhão Rosa Mota, cujo conteúdo, para os socialistas, está fora do âmbito de uma consulta como a que era preconizada.

O movimento responde, alegando que a primeira versão do contrato-programa, de 2007, previa “a reabilitação do Rosa Mota”, mas não contemplava “uma construção nova”. Esta, referiu Soares da Luz, surgiu mais tarde.

O movimento entende que o centro de congressos vai destruir os jardins do Palácio, por causa dos vários impactos associados à sua utilização.

Bloco exorta câmara a repensar projecto

Entretanto, esta quinta-feira, o Bloco de Esquerda defendeu que a Câmara do Porto “repense” o projecto de requalificação do Palácio de Cristal, tendo em conta que o Governo determinou a extinção da Parque Expo, SA, uma das promotoras da obra.

Em conferência de imprensa, José Castro, deputado do BE na Assembleia Municipal do Porto, afirmou que com o recente anúncio governamental da extinção da Parque Expo e da privatização da empresa Atlântico – Pavilhão Multiusos de Lisboa, “abriu-se uma oportunidade para repensar” todo o projecto de requalificação do Palácio de Cristal.

“Esse é o desafio que fazemos” ao executivo da Câmara do Porto, liderado pela coligação PSD-CDS/PP, frisou.

A requalificação do Pavilhão Rosa Mota resulta de uma parceria público-privada entre a Câmara do Porto, a Associação Empresarial de Portugal (AEP), a Parque Expo, o Pavilhão Atlântico e o Coliseu do Porto.

José Castro reafirmou que o BE considera que o projecto em causa “não tem qualquer racionalidade urbanística, económica, social, cultural ou ambiental”.

O BE entende que “não faltam espaços na cidade a sugerir requalificação” e, por isso, “não é aceitável uma nova construção num dos espaços mais emblemáticos da cidade”.

José Castro lembrou que os jardins do Palácio de Cristal, “o único jardim ainda existente de autoria do arquitecto paisagista alemão Émile David”, constam no Plano Diretor Municipal (PDM) como “área verde de utilização pública”.

Os bloquistas consideraram ainda que “os jardins do Palácio de Cristal ainda podem ser salvos da ganância dos senhores que se julgam donos da cidade” e garantiram que “continuarão a apoiar a corajosa luta de cidadãos pela realização de um referendo local sobre a construção do centro de congressos”.

[Porto24]

08 setembro, 2011

Jobs for de boys and anarchy

... façam o favor de clicar aqui.

Ninguém se responsabiliza pela ponte do Infante.  Aqui.

Terceiro Mundo, ou bandalhice institucional?

Novas barragens = crimes

O JN trazia esta semana dois artigos que se interligam profundamente. Num, o Norte como região turística preferida dos portugueses, sobretudo pela natureza e paisagem. No outro, o retrato da futura barragem do Tua. Questão: é possível destruir um rio como o Tua e manter-se a ficção de que o turismo é o maior activo do país?

As barragens foram propagandeadas por Salazar como o milagre da energia barata e são hoje responsáveis por uma parte da produção de electricidade nacional, além de terem melhorado o controlo do caudal dos rios. Foi assim por todo o Mundo. Mas já se evoluiu muito desde então e hoje percebe-se melhor que elas têm um custo implícito, porque os ecossistemas vão sendo profundamente alterados e a nossa saúde paga todos os dias a factura...

Infelizmente, para a maioria das pessoas, isto é conversa. O que importa é se a conta da luz é mais barata. Começo então por aqui: o plano de barragens posto em marcha pelo Governo Sócrates inclui uma engenharia financeira tipo "scut" cujo custo só vamos sentir daqui a uns anos de forma brutal - e aí já será tarde. Uma plataforma de organizações ambientais entregou esta semana à troika um documento que explica onde nos leva o plano da outra "troika" (Sócrates-Manuel Pinho-António Mexia). As 12 obras previstas que incluem novas barragens e reforço de outras já existentes produzem apenas o equivalente a três por cento de energia eléctrica do país, mas vão custar ao Orçamento do Estado e aos consumidores 16 mil milhões de euros... O documento avisa que a conta da electricidade vai, a prazo, incluir um agravamento de 10% para suportar mais este negócio falsamente "verde". A EDP, a Iberdrola, etc., receberão um subsídio equivalente a 30% da capacidade de produção, haja ou não água para produzir. Mesmo paradas, recebem. A troika importa-se com isto?

Os especialistas das organizações ambientais dizem, desde o princípio, que as novas barragens poderiam ser evitadas se houvesse aumento de capacidade das barragens existentes. Era mais barato e a natureza agradecia. Infelizmente a EDP apostou milhões para conseguir novas barragens, e isso incluiu antecipação de pagamentos de licenças que ajudaram o ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos a cobrir uma parte do défice de 2009, além da mais demagógica e milionária campanha publicitária da década, em que se fazia sonhar com barragens como se fossem os melhores locais do Mundo para celebrar a natureza...

Estes monstros de betão vão agora destruir dois rios da região do Douro, desnecessariamente. O Sabor, por exemplo, é uma jóia de natureza ainda selvagem. À medida que o turismo ambiental cresce globalmente, mais Portugal teria a ganhar com um Parque Natural do Douro Internacional ainda inóspito, genuíno. Já não será assim. A barragem em construção inclui uma albufeira de 40 quilómetros onde se manipula o rio de trás para a frente, com desníveis súbitos, acabando com a vida fluvial endógena e o habitat das espécies em redor.

Não menos grave é a destruição do rio Tua e da centenária linha do comboio. Uma vez mais o argumento é "progresso" - os autarcas e as populações acreditam que os trabalhadores da construção civil, que por ali vão andar por uns anos a comer e a dormir nas pensões locais, garantem a reanimação da economia... Infelizmente, não vêem o fim definitivo daquela paisagem e da mais bela história ferroviária de Portugal. Uma linha erigida a sangue, suor e lágrimas. Única. E que deveria ali ficar, mesmo que não fosse usada ou rentável, até ao dia em fosse entendida como um extraordinário monumento da engenharia humana e massivamente visitada enquanto tal.

Ao deixarmos cometer mais estes crimes, em troca de um mau negócio energético, não percebemos mesmo qual o nosso papel no Mundo. Esquecemos que a Natureza nos cobra uma factura muito pesada quando destruímos a fauna e a flora. Estamos a comprometer a qualidade da água e das colheitas de que precisamos para viver, com consequências para a nossa saúde e a das gerações vindouras. Se ainda não sabemos isto, sabemos zero. E ainda por cima vamos pagar milhões. É triste.

Daniel Deusdado [o JN]

Nota de RoP

Quando digo que estamos nas mãos de oportunistas, que não acredito neste padrão de democracia [tem de haver outros mais fiáveis], não estou a ser populista nem radical, estou talvez, é a arriscar-me a que um dia, algum destes senhores use dos poderes que tem para me instaurar um processo judicial. Mas, não me importa. Sei [e eles também], que me limito a descrever a realidade. Se eles não gostam, então que desamparem a loja e que vão gozar os rendimentos para Cavo Verde, junto de um Loureiro qualquer.  

07 setembro, 2011

ÚLTIMA HORA!

Lula da Silva, a nova contratação do SLB
SEGUNDO FONTES FIDEDIGNAS DA RTP1, RTP2, SIC, SIC NOTÍCIAS, SIC RADICAL, SIC MULHER, TVI, TVI24, LUSA, PLAY BOY, PIDE/DGS, BENFICA TV, E...POR AÍ FORA, O PRÓXIMO CANDIDATO Á PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA DO BRASIL, SERÁ LUÍS FILIPE VIEIRA, VULGO O ORELHAS, OU PARA OS BEM INFORMADOS, O MOÇO DOS "PNEUS"! 

A BOA NOVA, EXPLICA A VISITA INESPERADA DO EX-PRESIDENTE LULA DA SILVA AO PALÁCIO DE BELÉM - QUEREMOS DIZER -, AO ESTÁDIO DA LUZ, QUE LULA DA SILVA APROVEITOU PARA LOUVAR EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA, POR TODOS OS SERVIÇOS PRESTADOS À CAUSA COLONIAL, E CONVIDÁ-LO PARA MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS DO BRASIL. 

EM CONTRAPARTIDA, CAVACO SILVA ACEITOU SEM DEMORA A PROPOSTA DE SUA EXA. O ORELHAS, PARA DIRIGIR, A PARTIR DE AMANHÃ O CLUBE DOS 6 MILHÕES.

TEMENDO AS CONSEQUÊNCIAS DE UM VAZIO DE LIDERANÇA QUE A SAÍDA DO HOMEM DOS PNEUS PODIA CRIAR NAS PERFORMANCES DESPORTIVAS DO GLORIOSO, CAVACO, JÁ CONTRATOU LULA PARA PONTA DE LANÇA DO BENFICA [VER FOTO DE VIEIRA A ENTREGAR-LHE A CAMISOLA].


A BEM DA NAÇÃO

RUI  GOMES DA SILVA

Descrença

Quem costume visitar este blogue, terá talvez reparado que são cada vez mais espaçadas as minhas intervenções. Há razões, de ordem pessoal e familiar, impeditivas de maior assiduidade, mas estas não são as únicas, nem talvez mesmo as principais.

O que se passa é que cada vez estou mais descrente no futuro deste país. Portugal caminha aceleradamente para se transformar na Albânia do oeste europeu. Um país que actualmente vê os seus indicadores de riqueza material em contínua degradação, aumentando deste modo o fosso que o separa dos valores médios dos seus parceiros europeus. Durante alguns anos julgámo-nos europeus de pleno direito e euforicamente fomos induzidos a viver acima das nossas possibilidades, tanto individualmente como a nível do Estado. Afinal de contas, vemos agora, foi um doping, mas como todo o doping resultou durante uns tempos e depois veio a factura para pagar : a ressaca! Dizem que a procissão ainda vai no adro, e que o pior está para vir. Se já está mau como está, como virá a ser?

Moralmente também nunca estivemos tão baixos. Tudo o que é ética, códigos de conduta, princípios morais, foi lançado às urtigas, juntamente com um dos pilares da Democracia, a Justiça. Vale tudo, desde que se "tire vantagem". Por outro lado a nossa sociedade civil vive um sistema de castas não declarado, em que há brâmanes e há párias, um pouco como na Índia. Para complicar a situação, começam a aparecer sinais de que a Maçonaria, essa entidade difusa e misteriosa que se julgava adormecida, está afinal bem viva e condiciona a vida pública de uma forma que não se julgaria possível. Como se não bastasse o regime tipo mafioso dos nossos partidos políticos, surge agora um novo factor perturbador!

Os governos há muito que dão sinais da sua incapacidade de lidar com a complexidade da situação, até porque a maioria dos seus elementos vêm demonstrado não estar à altura das necessidades, notando-se uma patente deterioração no decorrer das últimas dezenas de anos.

O Povo, esse continua a fazer jus ao seu epíteto de " povo de brandos costumes" e continua apaticamente como se não fosse nada com ele!
O PR é um mero jarrão decorativo. Pode não gostar-se de Mário Soares, mas há alguma comparação entre a sua combatividade e o consulado abúlico do actual presidente?

Qual a solução para esta situação, que implica que muita gente comece a aceitar soluções políticas que teria repudiado há algum tempo atrás? Haverá possivelmente respostas não convencionais, difíceis, dolorosas, mas não impossíveis. Talvez volte ao tema.

Apesar do Tua, ainda nos resta isto

Régua

Comboio e [a destoar] o inevitável mamarracho



O "crime" de Ricardo Carvalho e os media

Habituados que estamos a ver altas figuras da nação a assumir ciosamente as suas responsabilidades, entre as quais pontuam o desapego pelo poder, a fobia às offshores, e o regular cumprimento de promessas, compreendem-se as declarações de Paulo Bento dirigidas a Ricardo Carvalho, aconselhando-o a pedir desculpas aos portugueses. Sim, porque o que Ricardo Carvalho fez, foi gravíssimo, é imperdoável, e os portugueses não estão habituados a tamanhas traições... 

Se Ricardo Carvalho tivesse imitado o Sá Pinto, pregando um murro na cara ao Artur Jorge [então seleccionador], ou o seu colega de equipa Pepe, que pontapeou como um doido um adversário na cabeça quando este ainda se encontrava no chão, ou então o genial João Pinto [do Benfica], que ao serviço da selecção encostou docemente o punho no estômago de um árbitro, isso sim, seria irrelevante. Agora, bater com a porta, com ou sem razão, e abdicar da selecção, isso é crime, é um verdadeiro acto de deserção. Não se faz, repito. Nós não estamos habituados a essas poucas vergonhas.

Justificam-se portanto, aquelas maratonas de debates, as aberturas e fechos de telejornais, até altas horas da madrugada na RTPN [N de nazi], esmiuçando o acto tresloucado do jogador, na patriótica tentativa de encontrar pena ajustável a tamanha barbárie. Irradicado da selecção, já está. Agora, é preciso fazer tudo para impedir R.Carvalho de jogar no seu clube para que a Justiça seja feita. Eu acho que não chega, R. Carvalho merece a forca [sem cedilha]...

Muito patriótico, por exemplo, foi o nome que hoje o JN entendeu dar a uma  conspiração. Chamou-lhe estratégia. O JN não podia encontrar melhor eufemismo para a reunião que os Presidentes do Benfica e do Sporting tiveram ontem num hotel de Lisboa para cozinharem o apoio à candidatura  do insuspeito Fernando Seara à Federação Portuguesa de Futebol. É do Benfica, como se sabe, fanático e intriguista, possui portanto o perfil indicado para o cargo. Mas, haverá algum mal em apoiar um suspeito candidato a um lugar que devia ser só para gente insuspeita? Não, claro. Isso, era se a reunião tivesse sido convocada com o FCPorto e o Braga, e o candidato à Federação se chamasse, por exemplo Victor Baía. Nessa altura, tal Fénix renascida das cinzas, caía o Carmo e a Trindade, e lá tínhamos nós de aturar umas doses maciças de fóruns sobre promiscuidades e transparências "sistemáticas", nos canais centralistas. Exactamente como acontece com os árbitros. Se é de Lisboa e benfiquista, ou sportinguista, pode apitar os jogos do seu clube contra o FCPorto, logo é sério. Se o árbitro é do Porto e é portista, nem pensar! É garantido que é gatuno.    

É assim, nestes charcos de imoralidade institucional,  que os media sobrevivem, com truques de linguagem, procurando transferir seriedade para coisas que não são para levar a sério. 

Prova-se assim, claramente,  que os media há muito deixaram de prestar serviço público para antes se prestarem a enganar o público. O que, vendo a coisa pelo lado optimista, podia constituir uma grande oportunidade para a blogosfera do Norte se unir e organizar e roubar-lhes o lugar. Nós, fazemos melhor. 

06 setembro, 2011

Faça feliz o seu médico

Joana Lopes dá, em entreasbrumasdamemoria.blogspot.com, uma boa ideia, inspirada na sempre inspiradora dra. Manuela Ferreira Leite que, no "Expresso", viu o óbvio ululante que só o esforçado (e "competente", dizem eles) ministro das Finanças não viu: com o fim das deduções de despesas de saúde no IRS, para que é que havemos de pedir recibos?, e, visto que, não exigindo nós recibo de, por exemplo, uma consulta médica, o médico poderá poupar em IRS e IVA mais de 50%, porque não pedir-lhe um desconto?, ou, no caso de pessoas tímidas como eu, ficar-se apenas por uma gentileza no momento do pagamento: "Não, Sr. Dr., não passe recibo, para que quero eu o recibo?".

Não sou dado a assinar petições mas assinaria uma apelando à desobediência civil (já que há muito perdi também o hábito dos "tumultos" de rua, como Passos Coelho diz) intitulada: "Não peça recibo ao seu querido médico. Você não ganha nada com isso, e ele ficará mais feliz".

Talvez, quem sabe?, quando chegar ao Ministério das Finanças a conta da receita fiscal, o dr. Vítor Gaspar descubra (ele e o primeiro-ministro, que já consegue vislumbrar o "princípio do fim da crise" em 2012 mas não vê o que tem debaixo dos olhos) que o que entrou pela porta do fim das deduções de despesas de saúde saiu, multiplicado, pela janela da evasão fiscal.

(Agora, antes que ler poesia seja tributado, vou continuar a ler "Punto cero", de José Ángel Valente).

Manuel António Pina [JN]

05 setembro, 2011

Haverá bons ditadores?

Foi Conselheiro de Estado, hoje tem
um resort de luxo em Cabo Verde
Cada vez me convenço mais que é por causa do  nosso conformismo ancestral, pela passividade com que aceitámos as coisas mais abjectas, que continuamos a ser desrespeitados e a ser tratados como gado.

Se cada um de nós fizesse uma retrospectiva cuidada do que têm sido as prestações dos vários governos ao longo destes 37 anos de democracia [já só faltam poucos mais para ultrapassar os de ditadura], compilando as promessas não cumpridas e as mentiras praticadas, teríamos vergonha de votar e de continuar a dar ouvidos aos rapazes da política. Nesse capítulo, e no que me diz respeito, não me pesa a consciência, pois desde que Mário Soares me ensinou que os políticos não são para levar a sério, deixei de entrar nessas brincadeiras. O tempo tem-me dado razão.

Passado todos estes anos, o balanço do regime democrático é simples de fazer: incapazes de produzir a nossa própria riqueza e de a distribuir, só tivemos arte para modernizar o país com os fundos da União Europeia em auto-estradas, e pouco mais. Paralelamente, assistimos ao enriquecimento súbito de muitos políticos e ao empobrecimento galopante da população. Demos conta que a Justiça não castiga quem merece mais castigo, como sejam, governantes e seus cumplíces. Entre a ditadura e este modelo pífio de democracia, houve quem conseguisse transformar uma revolução que se queria séria, numa fraude, através de uma estratégia tão simples quanto hábil, que consistiu apenas em deixar o povo falar.

Os políticos do pós 25 de Abril, alguns dos quais fizeram oposição ao regime de Salazar e Caetano, perceberam que na Europa já não era possível continuar a governar-se com ditaduras musculadas, e por isso, espreitaram a oportunidade para lhes ocuparem o lugar. Foi o que acabou por acontecer. A repressão do regime anterior, entrara em desuso, e era condenada praticamente pelos países mais avançados do Mundo, e Portugal tinha obrigatoriamente que se "democratizar". 

Decorrido todo este tempo, podemos resumir a mudança de regime, ao seguinte:  permitiu-se a organização e a constituição de partidos políticos, a seguir, seduziu-se o povo dizendo-lhe o que ele precisava de ouvir, depois, chegou-se "democraticamente" ao poder, e finalmente...  reinou-se. Uma vez ocupado o 'poleiro', terminaram-se as promessas, e tratou-se rapidamente da vidinha [deles]...

Efectivamente, tem sido isto que os políticos de hoje têm feito, e continuam a fazer com a política. Não esperemos que sejam eles a admití-lo, não sejamos ingénuos... A verdade, é que as únicas coisas que mudaram em relação ao regime do passado, foram o nome e a ferramenta. De resto, estamos praticamente na mesma, ou talvez pior.

Hoje, cairia muito mal à Europa, que o governo de um país não concedesse ao povo o direito de votar livremente. Então estabeleceu-se que isso seria suficiente para lhe transmitir a convicção de viver em democracia. A ferramenta então usada foi o voto,  o voto que domou a voz do povo sem a calar. Um paradoxo, isto? Talvez. Mas então, alguém será capaz de explicar por que é que este novo Governo, empossado  ainda há 3 mêses, renunciou a todas as promessas que fez? A resposta lógica é fácil. Exceptuando a hipótese remota [até ver], de entretanto o povo se revoltar, os governantes do pós 25 Abril assimilaram cedo [e irresponsavelmente], ser possível trair o povo e aguentar o impacto, pelo menos um mandato, sem correrem o risco de serem destituídos. Para o segundo, logo se verá, será apenas uma questão de talento oratório... O povo, merece-os, tem-se mantido ao seu nível. Permissivo e apático.

Ainda esta manhã sorri para o jornal, quando "democraticamente" me informava que um Chefe de Divisão da Direcção Geral de Veterinária foi condenado por subornos de empresários, mas...  ficou em liberdade. Isto, repete-se, e repete-se.

Perante estes cenários, às vezes, gostava de acreditar na existência de bons ditadores, mas não acredito. O problema, é que, o que vemos, leva-nos quase ao desespero e à suspeita de que aquilo que este exército de irresponsáveis estão a fomentar é um perigoso caldo de cultura para o despertar de um ditador. E eu, que considero fundamental a Autoridade com Justiça, temo os bons ditadores.