21 dezembro, 2012

Prefiro Manoel de Oliveira

Tenho idade que chegue para saber que para triunfar na vida a honradez de um Homem é um bem que pode obstaculizar o intento.

Sem nos darmos conta, continuamos a culpar a vida pelos nossos erros, quando até certo ponto, cabe a cada qual evitá-los e procurar fazer o necessário para que não se repitam. Paradoxalmente, há quem goste de enfatizar os progressos da humanidade e ao mesmo tempo comparar a vida das pessoas à dos animais selvagens, sem perceber quão radicais e opostos são estes pontos de vista. Tal como na selva, dizem, na sociedade humana, vence sempre o mais forte [seja lá o que eles entendem por forte]... Esta é uma ideia particularmente enraizada nos Estados Unidos, e que o mundo depressa absorveu, tão poderosa é a máquina de propaganda deste país. O grosso das pessoas absorve tudo, principalmente o lixo ideológico, e até a violência.

Felizmente que as imagens não mentem, e ainda podem provar o que atrás afirmei de forma incontestável. Hoje, com a profusão de canais por cabo, o cinema deve ocupar cerca de 90% (ou mais) de toda a programação televisiva, e a percentagem de filmes americanos também andará lá perto disso. Faça-se o teste, e veja-se quantos desses filmes é possível vermos sem contemplar perseguições, corridas loucas com carros de polícia,  ruídos irritantes de sirenes, assassinatos às dezenas, cansativos chiar de rodas, tiros, facadas, explosões "espectaculares", corpos decepados, derrapagens, heróis e assassinos, enfim, o sangue, a violência. 

É deste tipo de "arte", em suma, que se alimenta a indústria cinematográfica americana. E é a que predomina. Justificação? Simples! Vende, meus senhores, vende! A violência vende, e se vende, fim de papo! Haverá argumento mais nobre, mais "forte"? Aqui chegados, colocados perante o peso do dinheiro, todo o pensamento se esgota e não há lugar para a sensatez . Mesmo assim, ainda há quem se espante com os massacres que alguns seres mais vulneráveis vão provocando por esse mundo fora, particularmente na América. Pergunto: não será também esta a lógica "comercial" que inspira os nossos programas e os jornais "desportivos"? Talvez o Cavaco possa responder, esse grande homem, esse estadista ímpar... 

Não queria extrapolar deste cenário para a vida comezinha de muita gente, de todas as profissões, mas o critério que explica a cobardia, a traição e a falsidade instalada na nossa sociedade, é exactamente o mesmo da cinematografia americana: o dinheiro.

Prefiro Manoel de Oliveira. Ao menos a ele ninguém pode acusar de ter semeado o ódio e a violência com a sua arte.

20 dezembro, 2012

Revoltas contidas

O Arquitecto Gomes Fernandes, ex-vereador da Câmara Municipal do Porto, incomodado com a notícia da transferência do programa Praça da Alegria para a sempre "amiga" capital, termina a sua coluna de hoje no JN, desta maneira: " Falta uma Voz que seja a síntese de muitas vontades e bastantes 'raivas acumuladas' pelo desprezo com que aqueles que nos governam e seus acólitos a partir de Lisboa, têm demonstrado pelo Norte e sua cabeça, a Invicta e Honrada cidade do Porto. Convenhamos que isto é demais, está a passar das marcas e tem de acontecer o tal 'espirro' que faça 'estremecer' Lisboa».

Na rúbrica de opinião do mesmo jornal, Jorge Fiel chamava intrujão ao Governo por este não ter honrado a palavra do anterior Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, que tinha garantido que o corte ao financiamento público à Casa da Música seria de 20% , e não de 30%, como agora parece ter sido decidido. Logo abaixo na mesma página, é Daniel Deusdado quem arrasa de alto a baixo o actual Governo, alargando as críticas ao acervo de discriminações negativas com que o centralismo tem brindado o Porto,  e todo o Norte de um modo geral.

Eu próprio estou cansado de criticar duramente o racismo político usado contra a nossa cidade e região, tanto pelo governo de Sócrates, como pelo de Passos Coelho, e não sinto que essa liberdade democrática tenha surtido qualquer efeito prático para alterar a situação. Todos estamos cansados de ser mal tratados, que é uma condição muito mais grave e abrangente do que sermos simplesmente mal governados.

Fala muito bem o arquitecto Gomes Fernandes, quando reclama dos nortenhos uma reacção mais forte, capaz de fazer estremecer Lisboa. Eu subscrevo a vontade. Mas para que isso aconteça, teria de haver outro tipo de comportamento. Devíamos começar por não dar ouvidos àqueles que, apesar de reconhecerem a gravidade da situação, não deixam de nos aconselhar a manter a mesma brandura cívica, alegando que substituir agora o governo não iria resolver nada, profetizando todo o tipo de calamidades e desgraças se tal acontecesse, mas por outro lado esquecendo de dizer o que acontecerá aos governantes caso os fracassos se repitam, e nos deixem daqui a uns tempos numa situação ainda mais insustentável que a actual.

É preciso interpretar correctamente a actuação dos governantes, porque isso não pode resumir-se candidamente a questões de competência ou incompetência. E estes governantes, não são apenas incompetentes, são potenciais criminosos, e para os criminosos que andam à solta, é preciso fazer duas coisas: primeiro prendê-los, e depois julgá-los num tribunal constituído pelos juízes mais reputados que o país ainda conservar.

    

18 dezembro, 2012

Hospital de São João tem 30 cirurgiões que nunca foram ao bloco operatório


 

Cada cirurgião do Hospital de S. João, no Porto, faz em média uma cirurgia por semana e há 30 que que nunca foram ao bloco operatório, explicou, segunda-feira à noite, o presidente do Conselho de Administração do São João, em declarações à TVI.
 

Hospital de São João tem 30 cirurgiões que nunca foram ao bloco operatório
António Ferreira (Administrador do H.S.João)    


 

"Cada cirurgião faz em média uma cirurgia por semana", afirmou o presidente do Conselho de Administração do São João, António Ferreira. "No Hospital de São João, 30 cirurgiões nunca foram ao bloco operatório", revelou, em entrevista ao programa "Olhos nos Olhos", na TVI24.

"O cirurgião que fez maior número de cirurgias por ano no hospital fez 543, fez 12 por semana. O cirurgião com menor número de cirurgias, e que fez cirurgias, fez duas. Há 30 que nunca foram ao bloco", revelou António Ferreira.

"A taxa de absentismo é de 11%, isto significa que estão ausentes todos os dias, dos 5600 funcionários, cerca de 660", disse o presidente do Conselho de Administração do São João.

Nota de RoP:
Só assim se explica por que é que a lista de espera para as cirurgias marcadas pelos Centros de Saúde é interminável e os prazos de espera são irresponsáveis. 
 
 

Pedro Passos Coelho, o novo Frei Tomás

Este podia bem ser Pedro Passos Coelho
Quando Pedro Passos Coelho declarou textualmente que «alguns, que hoje recebem pensões não descontaram na proporção das pensões que recebem», provavelmente terá havido no local um qualquer ciclone tropical, porque, ao que parece, além do Chefe do Governo não devia encontrar-se ninguém por ali [um repórter, por exemplo] para lhe perguntar se ele estava a referir-se à classe política, e às várias pensões de reforma acumuladas que lhes foram atribuídas, nalguns casos, com pouco mais de 50 anos de idade. Ninguém se lembrou de lhe perguntar se a natureza das suas declarações era suficientemente séria para as decretar a ele próprio e a toda a equipa governativa, ou se era mais uma boca demagógica igual a muitas que tem vindo a proferir.

Mas não, a imaginação dos jornalistas não chega a tanto, porque a um 1º. Ministro parece que é proibido colocar questões "populistas". De mais a mais, agora, que a RTP Porto está num processo de limpeza, para corporizar o famoso efeito difusor invertido, muito do gosto dos governos centralistas [ leia-se: parasitas].

Enfim, temos de nos resignar. Não podemos mais pensar que os paizinhos destes garotos, precoce e estupidamente promovidos a elites, alguma vez lhes disseram que para nos darmos ao respeito temos de começar por nós, aplicando à nossa vida aquilo que propomos como patriótico aos outros. Não é a pregar como Frei Tomás que se ganha credibilidade.

17 dezembro, 2012

O de cima diz bem do de baixo



Ao ver que não o ia conseguir domesticar, Lisboa recebeu-o com pedras. A campanha suja contra o bastonário eleito pelos advogados da província decorreu com o profissionalismo que Fernando Gomes testemunhou quando teve a fraqueza de trocar o lugar de melhor presidente da Câmara que o Porto teve por um gabinete subalterno na esquina do Terreiro do Paço, onde Manuel Buíça feriu de morte a Monarquia.

A campanha falhou no que estava programado ser o ato final da lapidação, o tribunal da TVI onde a tonta Moura Guedes teve a imprudência de chamar bufo a um homem que após ter sido preso pela Pide, em Coimbra, aguentou como um herói as humilhações, os três dias e três noites de interrogatórios e os 34 dias no isolamento, em Caxias.

O arraso que o bastonário deu à apresentadora televisiva, que por ter a boca maior que o cérebro está sempre a tentar dar passadas maiores que a perna, é um dos meus vídeos favoritos (a par do dos golos do 5-0 que o meu Porto deu ao Benfica do Marinho), que de vez em quando revisito no YouTube. É um espetáculo de cidadania.

Tenho muito orgulho em ser amigo do Marinho, de quem fui colega durante quase 20 anos, na Redação do "Expresso", quando ele usava o nome António Marinho.

Um das coisas que mais admiro nele é que ao longo das suas sucessivas reencarnações - universitário revoltado com a ditadura, professor, advogado, jornalista e bastonário - nunca teve medo de dizer o que pensa em voz alta e de pertencer aquele raro grupo de pessoas que quando lhe fazem uma pergunta a sua resposta não tem por objetivo agradar a quem a fez.

Com o Marinho e Pinto, bastonário reeleito por maioria absoluta e com a maior votação de sempre, estive apenas umas duas ou três vezes, a última das quais, há quase dois anos, terminou à mesa, à volta de um leitão, no Albatroz.

Mas, para além de coabitarmos um vez por mês esta página do nosso JN, vou acompanhando e aplaudindo à distância o seu combate por uma justiça mais barata, contra a soberba dos juízes, que se julgam donos dos tribunais, e um Parlamento que se tornou numa central de tráfico de influências, onde os deputados podem ter clientes com interesses nas leis que eles fazem.

Gostei da frontalidade com que avisou os estudantes para fugirem do cursos de Direito, evitando assim que a massificação acentue a proletarização e degradação da classe. E assino por baixo quando ele, de sobrolho carregado, denuncia uma Justiça injusta, cheia de silêncios e mentiras, que se curva perante os ricos e poderosos - e maltrata os pobre e desprotegidos.

Mas o que mais tenho a agradecer ao meu amigo Marinho é ter desmentido a fatalidade dos provincianos, como nós, se deixarem corromper pelo luxo e prazer - o cheiro a canela... - de Lisboa, tão bem caricaturado por Camilo, em "A queda de um anjo", na pessoa do deslumbrado fidalgo minhoto Calisto Elói.*

Nota de RoP:

* Este último parágrafo é que me parece não corresponder lá muito à realidade. Faz-me recordar - só para citar um exemplo - o regionalista "convicto" Carlos Abreu Amorim, que agora, que aderiu ao PSD, já usa a cassete da "inoportunidade" do momento, para justificar o abandono da causa regionalista, provando que na política o oportunismo não conhece excepções. São de facto todos iguais.  Uma merda. 

14 dezembro, 2012

A Inquisição, ainda vive, e está cheia de saúde

A Igreja "progride" em sintonia com a Direita
Confissão ideológica: não professo a fé assente em preceitos religiosos. A minha única fé, se assim posso dizer, é o instinto de sobrevivência que alimento o melhor que posso e sei, com optimismo moderado. Respeito, no entanto, o(a)s que acreditam em alguém ou algo divino que pensem tratar-se de um Deus. Há pessoas, a quem a fé doutrinal resulta bem, que as faz sentir mais felizes, e ajuda a resolver muitos problemas existenciais. Por isso, só tenho de respeitar. Só não aprecio mesmo, são as beatices.

Desde criança, sem que meus pais exercessem qualquer influência nas minhas opções religiosas, olhei sempre para a Igreja e para os padres com bastante cepticismo e desconfiança. As minhas duas irmãs fizeram a comunhão solene de livre vontade, eu não quis, e os meus pais fizeram muito bem em não me contrariar. Sinceramente, acho que não perdi nada de importante.

Talvez seja pelo que atrás escrevi que não me surpreende o conservadorismo de um grande número de sacerdotes e o modo fanático como defendem a sua comunidade. Felizmente, há excepções, há padres que conseguem passar uma imagem autêntica na vocação de amor aos outros, e nas suas preocupações com os problemas sociais. O padre Américo, foi um desses homens. Mas há mais, e alguns deles ainda estão entre nós, e em actividade. Comparativamente, com o todo, os melhores são mesmo excepções.

Sempre que há notícias de pedofilia no seio da Igreja, os mais altos responsáveis saem logo a terreiro tomando a defesa dos acusados sem antes terem o cuidado de averiguar se elas são fundamentadas, como se fossem naturalmente uma casta de impolutos, acima de qualquer suspeita. Nesse aspecto, não diferem muito dos políticos, o que não é propriamente uma honra. Além disso, atiram-se como cães raivosos àqueles que ousam contrariar as suas doutas opiniões. Continuam com tiques que fazem lembrar a Inquisição, e castigam quem não alinha com eles. Foi isso que fez a Diocese da Guarda com D. António dos Santos, anterior Bispo da Guarda, chegando ao ponto de acusar o sacerdote de insanidade mental. Para bom entendedor, um comunicado basta. Senão, leiam:

COMUNICADO DA DIOCESE DA GUARDA

«Informa-se que o Sr. D. António dos Santos, Bispo Emérito da Guarda, se encontra ausente
desta Diocese, há 8 anos, e que o seu estado de saúde está gravemente afectado, na opinião 
 dos médicos que o acompanham. Por isso, qualquer declaração por ele já prestada ou que venha
a prestar, sobre os acontecimentos* últimos da vida desta Diocese, carece de fundamento e só pode
ser atribuída a boatos que possam circular».

* Caso do Seminário da Guarda, sobre o padre Luís Mendes, preso preventivamente sob suspeita de pedofilia.

12 dezembro, 2012

justicinha de meninos

justicinha
Com 4 estações de televisão no ar há vários anos [incluindo o Porto Canal], algumas delas multiplicadas por diversos canais, mais um exército de jornalistas, ainda não houve quem tivesse a coragem e o discernimento de perguntar ao Conselho Superior da Magistratura, por que é que consente que a Justiça, sendo o pilar mais importante de qualquer país civilizado, ande nas bocas do mundo [pelas piores razões] e ainda não tenha feito nada de relevante para inverter essa situação.

Continuo a pensar que, apesar da corrupção, ou se calhar por efeito dela, um dos muitos males do nosso país, é não termos capacidade para cooperar entre sectores, mesmo dentro da mesma organização. Estou a referir-me principalmente aos organismos e aos departamentos do Estado, já que nas organizações privadas o problema não é tão notório. Nem pode ser, porque o sucesso de uma empresa também passa por uma boa gestão, na qual se inclui a ligação optimizada entre os demais departamentos e hierarquias.

Como pela enésima vez poderão constatar, o CSM [Conselho Superior de Magistratura], volta a entrar em conflito com o DCIAP [Departamento Central de Investigação e Acção Penal], desta feita por causa de declarações proferidas pela actual directora deste departamento do MP, Cândida Almeida, que decidiu criticar os juízes, responsabilizando-os pela morosidade do 1º. processo BPN. Por sua vez, o colectivo de juízes, em vez de resolver estas dissonâncias internamente, dialogando com o MP, ou então dentro do próprio Conselho, vem desmentir a directora com desculpas esfarrapadas que nada resolvem e que só podem contibuir para acentuar a crispação entre instituições que deviam pautar o seu trabalho por um bom relacionamento e uma melhor colaboração. Em nome da Justiça... 

Enquanto as coisas permanecerem a este nível, com os magistrados mais empenhados em bater o pé uns aos outros, numa luta de galos [e galinhas] ridícula e desprestigiante, dificilmente alcançaremos a estabilidade social e económica almejada, nem haverá Troika que nos possa valer. Justiça fraca, é país adiado.


11 dezembro, 2012

Eu português nortenho de um país do sul

Fiorde de Geiranger, Noruega
Ainda a propósito do ambiente fétido e inimputável de corrupção que se respira no país, gostaria de repescar as palavras de Paulo Morais, há dias no Porto Canal. Dizia ele, àcerca desta praga típica dos países latinos, que se "isto" se passasse em qualquer país nórdico, não seria possível a Isaltino Morais, Duarte Lima,  ou a Vale e Azevedo, entrarem tranquilamente num restaurante ou qualquer lugar público, sem passarem pelo crivo censor das pessoas, ou dos próprios responsáveis pelo respectivo espaço. Muito provavelmente  - acrescento eu -, num cenário desses, aquilo a que assistiríamos a seguir, era vermos as pessoas a abandonar o local, ou então, observar o "descarado" a receber um convite discreto do dono do espaço para se pôr na alheta...

Já sabemos que não é possível conseguirmos fazer da Terra um paraíso, porque a própria natureza tem aspectos dramáticos, mas seria perfeitamente atingível ao homem [desde que o quisesse], melhorar, e muito, as condições de vida do seu semelhante. Sabemos que o lado mais dramático da Natureza se encontra na vida selvagem e nos fenómenos climatéricos, que por razões diferentes, destroem os bens e a existência de milhares de seres. Nas sociedades humanas são as más pessoas, as mal formadas [não confundir com licenceadas, porque isso não é educação] que pensam sempre nos outros como instrumentos para seu proveito, e não como parceiros de percurso, quem obstaculizam que no planeta todos possam viver mais próximo do 'paraíso'... Mais perto, mas ainda assim, tão longe. Sim, porque a vida nunca foi coisa fácil. Também já foi bem mais difícil, é verdade  [na pré-história]. Mas, com o elevado nível tecnológico a que hoje chegamos, não seria possível vivermos todos muito melhor? A resposta só pode ser uma: era possível. Mas, só criando formas fiáveis de "peneirar" a sociedade. Gente com o espírito oportunista, como os atrás citados, não pode ser deixada ao acaso, deve ser bem vigiada, essencialmente depois de dar sinais das suas tendências para a fraude e para o crime.

Os portugueses, dos mais idosos aos mais jovens, não têm memória de bons governos, nem de bons governantes. Ao longo de séculos, nunca tiveram a felicidade e o orgulho de pertencer ao pequeno grupo dos países mais prósperos e civilizados da Europa, e sempre foram habituados à mediocridade dos pobres países, a pensar no medo, na perseguição. Por isso, não podemos estranhar que para sobreviverem sigam os exemplos desviantes de quem os governa. Os governantes fizeram [e fazem] dos portugueses pequenos clones de si próprios, e isso até lhes convém, diga-se. Não há como forjar um corrupto para fortalecer um corruptor. Depois, fica gerada a cadeia do esquema.

Para o português médio, denunciar um criminoso é um gesto de traição, para um norueguês é um dever cívico. Começa logo aqui o comportamento desviante dos latinos. Nós não temos consciência sequer do que é a cidadania! 

Ontem, num canal de TV onde estava Medina Carreira e Paulo Rangel, falou-se a dada altura dos vários "jobs" dos políticos, e quando coube a Rangel opinar, lá estava ele a dizer que sim senhor, que não achava bem, e ao mesmo tempo a desembrulhar os melhores argumentos para dizer que afinal até achava... É assim, nestes pensamentos labirinticos, onde o peixe se confunde com a carne,  que eles adoram jogar, votando qualquer boa ideia para o lixo e gozando com a inteligência de quem os ouve. Por mim Rangel, já não vais a lado nenhum. Por outros, talvez um dia venhas mesmo a ser Presidente da República. Tal qual, como aconteceu com o vulgaríssimo Cavaco. Mas juro que não foi com minha autorização, isto é, com o meu voto. Que honra tenho em nunca ter votado em Cavaco! Que orgulho! Desculpem-me, mas também tenho direito a uns assomos de vaidade.
    

06 dezembro, 2012

Governo não tem plano para prevenir e combater corrupção




O ex-ministro das Obras Públicas João Cravinho, que em 2006 criou um plano anticorrupção, afirmou, esta quarta-feira, que o Governo não tem estratégia para prevenir e combater a corrupção e defendeu que deve haver uma ação conjunta entre várias entidades.


"Não há uma visão conjunta do que é preciso fazer para prevenir e combater a corrupção, não há meios adequados e as nossas instâncias, tribunais funcionam muito mal", afirmou João Cravinho à agência Lusa, comentando assim o facto de Portugal estar em 33.º lugar entre 176 países, no relatório anual da agência Transparency International.

Apesar de não conhecer o último relatório a fundo, João Cravinho considera que, de um modo geral, a posição de Portugal no ranking "deteriorou-se muito nos últimos anos" e diz não ver nada de novo que permitisse "dar grandes saltos" na lista.

No ranking do Índice de Perceção da Corrupção da "Transparency International", Portugal apresenta uma classificação de 63, numa escala de 0 a 100, que vai de "muito corrupto" a "muito limpo". Na mesma posição encontram-se o Butão e Porto Rico.

Numa análise aos países da União Europeia, Portugal surge em 15º lugar, tendo abaixo apenas alguns países do Leste, a Grécia, a Itália e Malta.

"[Esta posição] corresponde à perceção que se tem sobre duas coisas: o nível e o tipo de corrupção que há em Portugal e os esforços que se fazem para combater a corrupção que são desadequados ou fracos e isso é que tem vindo a influenciar a posição portuguesa", disse João Cravinho.

De acordo com o ex-ministro das Obras Públicas, os casos que têm vindo a público não indiciam uma viragem no combate à corrupção em Portugal.

No entender do ex-deputado do PS, os países em crise são sempre acompanhados por uma alteração de comportamento e o que "há de pior vem sempre ao de cima" e isso fez com que, em alguns casos, a corrupção tenha aumentado.

"No nosso sistema, a Assembleia da República não exerce controlo sobre o assunto, sendo que foram introduzidos planos de prevenção da corrupção, mas o mais grave de tudo é que o Governo não tem um plano, nem estratégia de combate que seja conhecida", disse.

Na opinião de João Cravinho, não há meios adequados para o combate, nem um "aparelho judicial à altura" e, por isso, os crimes económicos são cada vez mais numerosos e complexos.

"Em primeiro lugar o que há a fazer é definir responsabilidades. Hoje em dia o que me parece mais grave não é a pequena corrupção, o pequeno funcionário, ou o fiscal porque isso até avançou razoavelmente bem nos últimos anos com a informatização e melhor organização dos serviços, mas o tráfico de influências", realçou.

Para João Cravinho, o tráfico de influências, a omissão de ação preventiva e o combate "aos grandes atentados" e a boa gestão pública continua sem qualquer sanção.

"O tráfico de influências não se combate só com alteração à legislação, mas por chamar à responsabilidade as várias entidades para uma fiscalização institucionalizada", disse.

Na opinião do ex-deputado do PS, devido à crise, as pessoas estão ocupadas com "temas mais importantes do que a corrupção que passou a ser secundária, permitindo alargar a malha da permissividade".

[do JN]

Nota de RoP:

João Cravinho engana-se, quando diz que as pessoas passaram para 2º. plano o combate à corrupção por causa da crise. A crise é uma coisa intolerável, mas, associada à falência do regime capitalista, e à incompetência política, é também uma derivante da corrupção. Se lêsse o Renovar o Porto, ia perceber que não sabe o que está a dizer, porque se há tema que costumo abordar com frequência é o da corrupção. Além de mais, esqueceu-se de dizer o que é que o Partido Socialista fez para combater a corrupção, e quantos tubarões corruptos o PS engavetou. 

Se há coisa que me repugna nestes políticos, é o desrespeito que evidenciam pela memória do povo. 

Se quer(em) ajuda para controlar a corrupção, peçam-na ao Dr. Paulo Morais. Nunca se sabe se a primeira casa a passar o aspirador não será a Assembleia da República... Isto, claro está, se entretanto Paulo Morais não virar o bico ao prego.    

05 dezembro, 2012

Ontem não acreditamos...

Muitos dos comentadores que vão à televisão - armados em gente civilizada -, criticar os adeptos dos clubes pelos assobios lançados sobre os jogadores e o treinador, são os mesmos que hoje permitiram a edição de primeiras páginas com grandes parangonas a crucificar o guarda-redes Helton e a responsabilizá-lo pela derrota do FCPorto contra o Paris Saint Germain. E nem sequer me estou a referir às Bolas e aos Records, porque esses, só sobrevivem num país de corruptos como é Portugal [ainda agora, a organização Transparência Internacional o classificou na 15ª posição dos países mais corruptos da UE]. Refiro-me "ao mui portuense" Jornal de Notícias, que rotula de "Peru de Natal" o azar de um grande guarda-redes, como é Helton. No verso da 1ª.página, Norberto Lopes escreveu o seguinte, «Um erro de Helton ditou a derrota do FCPorto», e em baixo, na apreciação individual ao jogo acrescentou: «A nota negativa vai toda para Helton. Um guarda-redes experiente não pode sofrer um frango daqueles».

Não quero com isto dizer que Helton não tenha errado, nem mesmo exagerar na apreciação que fiz do título da notícia, porque o guarda-redes teve de facto a sua cota parte de responsabilidade no golo que deu o 1º.lugar do grupo ao PSG. Não. O que pretendo destacar é esta tendência dos jornalistas para forjar carrascos dentro da mesma equipa [Helton], esquecendo completamente as 4 ou 5 defesas extraordinárias que tinha feito anteriormente evitando assim que o FCP ficasse a perder mais cedo e por mais golos de diferença. Se fosse recorrente, se Helton tivesse por hábito estas distracções, talvez já não chocasse tanto aquelas parangonas, agora, fazê-lo, esquecendo que errar é humano, e sobretudo eles, jornalistas, que tantas gafes cometem, e que tantas notícias infundamentadas publicam, não transmite convicção às teses de fair-play que dizem defender. É aquilo a que se chama, desonestidade intelectual.

São também eles que às vezes fazem questão de "defender" os treinadores, considerando as críticas que os adeptos lhes fazem, como "fáceis". Mas isto também é uma hipocrisia, porque como sabemos são frequentemente os jornalistas quem se apressam a fazer-lhes o funeral. Ora, sobre este assunto quero dizer e repetir o seguinte: o treinador é o principal responsável pelo que faz, de bom e de mau, o grupo pelo qual é responsável. Ponto. À direcção do clube só lhe cabe facultar ao técnico as melhores condições para que ele possa trabalhar tranquilamente em busca dos objectivos, com os recursos humanos e técnicos disponíveis, sendo certo que para eles, técnicos, nunca são os recursos ideais. Nem Mourinho, terá seguramente no Real Madrid todos os jogadores que gostaria de ter, apesar de andar lá perto, mas o FCPorto não tem o dinheiro do R. Madrid. Como tal, volto a insistir na importância do lado psicológico de um treinador. Não basta dizermos, antes dos jogos, que "acreditamos", que temos a nossa "identidade", se a espaços damos umas escorregadelas que nos custam caro e comprometem os objectivos. Assumir a responsabilidade pela equipa, é um dever, não é uma originalidade. Mas não chega. Isso, também fazem os políticos, e nós sabemos como eles gostam de se desculpar, no fim dos mandatos. Dir-me-ão, mas é este o treinador que temos. Pois bem, mas será assim tão difícil fazer algumas correcções? Errar é humano, mas evitar o erro é sinal de inteligência.

Já o escrevi e repito, Victor Pereira para estar no FCPorto e ter o aval de Pinto da Costa, é porque tem de ter qualidades. Até já ganhou um campeonato. Só que, digo eu, se calhar não são qualidades que cheguem. O plantel é desiquilibrado, está provado, e a culpa não é dele. Há jogadores que não têm lugar no plantel, como Kléber, por exemplo, que não se pode queixar da falta de oportunidades, porque tem-nas tido mais do que muitos outros jogadores que passaram pelo FCPorto. Mas esse, não foi Victor Pereira quem o contratou... Agora, o que me parece, é que, Victor Pereira está a encontrar muitas dificuldades em implantar na equipa uma maior consistência de jogo. Mesmo nas exibições mais conseguidas, e sabendo que nenhuma equipa do Mundo pode produzir igual intensidade durante toda uma partida, a realidade é que os ciclos de bom futebol do FCPorto são demasiado curtos, e a oscilação dos níveis de concentração é uma constante, dando alguma razão àqueles que dizem, serem melhor os resultados que as exibições Parece-me que ninguém duvidará do que acabei de dizer, mas não sei se o problema estará a ser encarado com a merecida atenção. 

Ontem, a equipa teve alguns jogadores que estiveram bem, e outros [como James, Lucho e até Moutinho] que não carboraram como lhes é habitual. A espaços [lá está, a espaços!], até gostei de algumas jogadas, mas depois, a equipa quebrou-se, e mais uma vez ficou-se com a ideia de que as substituições foram extemporâneas, aliás, curiosamente, como aconteceu em Braga...

Não é o fim do Mundo, dir-me-ão, o FCPorto afinal já estava classificado para a fase seguinte da Champions, e se calhar, até pode nem ter sido [veremos!] mau ficar em 2º no grupo. O milhão de euros, ou, na menos má das hipóteses, o meio milhão de euros é que não entrou nos cofres do clube, o que não é desprezível... Depois, este ano, o FCP já não vai poder contabilizar a Taça de Portugal como mais um troféu para o ranking dos que "tirou" ao Benfica, apesar de o Braga ainda estar na luta... Resta-nos o Campeonato, a Liga [a que não costumávamos dar muito valor...] e a Champions...

Ângulo positivo: estamos fisicamente mais desponíveis para as competições que sobram. Veremos.


04 dezembro, 2012

Governo = a anedota

e o Jorge Fiel, acredita no Pai Natal?


Passos não é um idiota batizado

Calma! As aparências iludem. Ao contrário do que poderá parecer à primeira vista, Passos Coelho não é burro e sabe perfeitamente o que anda a fazer. Disfarça bem, mas sabe. Disfarçar é uma tática. Há gente assim, que parece idiota, sabe que parece idiota, mas como não é efetivamente idiota tira partido desse aspeto para levar a sua avante. Senão vejamos:

A Região Norte tem a mais elevada taxa de desemprego do país e a Área Metropolitana do Porto é onde a pobreza é mais dramática e se regista um mais elevado número de falências.

Portugal é o país mais desigual da UE a 27,já que 65% da nossa população vive em regiões onde o rendimento per capita é inferior a 75% da média comunitária. No país que vem a seguir, a Grécia, essa percentagem (22%) é 1/3 da portuguesa.

O Norte é a mais exportadora de todas as nossas regiões e onde são pagos os mais baixos salários do país. O salário líquido mensal em Lisboa é de 934 euros, a média nacional é 900, no Norte é de 746 - mais baixo que o pago no Alentejo, Centro e Algarve.

Neste cenário, ao tomarmos conhecimento que o primeiro-ministro se vangloriou de ter conseguido em Bruxelas um cheque extra de mil milhões de euros a ser aplicado na Madeira (100 milhões) e Lisboa (900 milhões) - as duas únicas regiões do país com rendimento per capita superior à média comunitária - é fácil sucumbir à tentação de considerar que Passos ou é um calhau com olhos ou um idiota que se prepara para acentuar a macrocefalia lisboeta que nos asfixia.

Mas é preciso ter calma. As aparência iludem. Estou em crer que Passos não é uma coisa (calhau com olhos) nem outra (um idiota centralista), e que, por isso, depois de ter o cheque do lado de cá, vai tirar da cartola um golpe de génio.

Passos vai explicar que a reindustrialização - a pedra de toque da sua agenda de crescimento, que espera que contrabalance os esfeitos perniciosos da austeridade e permita tornar o ajustamento sustentável - exige fortes investimentos a norte, a única região do país onde o tecido industrial tem as raízes mais fundas e está disponível a mão-de-obra indispensável para o sucesso deste esforço.

Com quatro ativos por cada reformado, o Norte é a região portuguesa que melhor resiste ao envelhecimento.

E se Bruxelas lhe perguntar: então pediste dinheiro para Lisboa e vais investi-lo no Norte? Passos Coelho vai argumentar, todo lampeiro, com o famoso efeito dispersão, explicando que a reindustrialização aumentará a receita fiscal e diminuirá as despesas com subsídios e prestações sociais, engordando assim os cofres do Estado com quartel-general em Lisboa.

Estão a ver? Não nos devemos precipitar. Afinal tudo leva a crer que o Passos Coelho afinal não é um idiota batizado, mas sim um tipo genial e fino como um alho.
[do JN]

30 novembro, 2012

Os governantes têm de ir ao banho, ou para o lixo

Será defeito meu talvez, mas fico baralhado com a importância que os comentadores dos órgãos de comunicação social continuam a dar à parte secundária da política, em contraste com o silêncio que votam aos princípios da mesma que vão sendo parmanentemente violados.

Sinceramente, não acredito que seja só por má fé que assim procedem, mas continuando a agir assim, os media dão-nos fortes motivos para pensarmos que preferem mesmo vender jornais, conquistar audiências, e fazer-nos passar por parvos, a tratarem a política com seriedade.

Que razões idóneas terão ainda os cidadãos para ponderarem no que dizem e prometem os governantes, se a estes subitamente lhes faculta toda a liberdade para se desdizerem, para romperem com as promessas, ou mesmo anular as poucas que cumpriram? Se nos lembrarmos que outros governos nos fizeram acreditar anos a fio que os descontos que andávamos a fazer para a Segurança Social, que visavam o nosso bem estar futuro, para beneficiarmos de uma reforma na velhice e para cuidar da nossa saúde, e que agora outros o estão a negar, como se o dinheiro e as nossas vidas lhes pertencessem, suponho não ser necessário apresentar outros factos para nos recusarmos a dar-lhes crédito.

As questões que nos deviam preocupar a todos, e merecer as nossas prioridades, era saber como é que no futuro vamos obrigar os políticos a cumprir com o que prometem, e que garantias teremos que serão merecidamente penalizados em caso de faltarem à verdade. Neste momento, tenho olhos e ouvidos para o que dizem e fazem personalidades como Paulo Morais e Marinho e Pinto. Esses, devem ser os nossos homens de referência, pelo menos, até prova em contrário, porque ao invés do que alguns querem fazer passar, são eles que falam verdade e têm tido a coragem para apontar os principais alvos onde se concentram os problemas mais graves da nossa sociedade: a rede de influências entre políticos e a própria justiça.

Afinal, porque razão devemos dar crédito às garantias meramente oratórias do que diz o 1º Ministro, ou qualquer outro membro do Governo, se têm menos responsabilidades do que uma simples caixa de supermercado? Depois de tanta entrevista, tantos debates, já alguma vez ouvimos um jornalista perguntar de forma contundente a um governante a que penas se arrisca se não cumprir o que propõe fazer? Sabem o que acontece a um caixa de supermercado se deixar os clientes passar pelo caixa sem pagar? Afinal, que raio de responsabilidade é a dos governantes? Abandonar bruscamente o Governo, e ir para Bruxelas para Comissário Europeu e fazer de conta que vai tratar dos nossos problemas? Deixar a política para ir enriquecer para a Administração de grandes empresas? Ou, para ocupar um lugar bem remunerado na NATO? Será esse o sentido de responsabildade dessa gente? Isso é outra coisa: é oportunismo e falta de carácter!

Por enquanto, concentremos antes a nossa atenção no que está a fazer Paulo Morais na TIAC [Associação Cívica para a Transparência e Integridade], e o seu Presidente Luís Sousa, porque é com organismos desta natureza que nos devemos entreter. Com pessoas corajosas, que não se escondem [como muitos] atrás de supostos populismos e demagogias, para preservarem os seus inconfessáveis "negócios" e boicotarem o trabalho de quem os quer meter na ordem. 

Para mim, a política tem de passar primeiro pela lavandaria, depois é preciso jogar fora aquela que tiver nódoas, e por fim, deixá-la restaurar-se progressivamente. Mas sempre atentos a recaídas...

29 novembro, 2012

Que benefícios podem resultar da regionalização?


A regionalização é um fator de democratização. Com efeito, a todos os níveis de poder, da freguesia aos órgãos de soberania, existem órgãos democraticamente eleitos. 

Ora, a nível regional também existem órgãos de poder, com destaque para as Comissões de Coordenação Regional e outros serviços periféricos dos ministérios, só que os titulares dos cargos que os dirigem não são legitimados através do voto popular e não respondem pelos seus atos perante as populações. 

Esta «Administração periférica do Estado» tem vindo, aliás, a tornar-se cada vez mais importante, sem que a sua atividade seja controlada pelas populações e sem que o «poder regional» responda através do voto periódico perante os eleitores.

Em segundo lugar, a regionalização é um instrumento que favorece a democracia participativa. 

É conhecido o facto de a aproximação dos serviços públicos em relação às populações e a legitimação do poder através do voto popular constituir um estímulo à participação, se nesse sentido se verificar a necessária vontade política. As possibilidades de participação são infinitamente maiores quando existem eleitos do que quando se verifica a nomeação por parte do Governo Central.

Em terceiro lugar, a regionalização pode favorecer o desenvolvimento. Com efeito, a regionalização pode não ser uma condição necessária nem suficiente do desenvolvimento, mas também é inquestionável que a existência de regiões e de um sistema democrático representativo ao nível regional pode estimular os serviços públicos, contribuindo para a sua dinamização. 

O próprio facto de o poder regional ter que responder pelos seus atos em eleições competitivas pode dinamizar e qualificar o investimento público. 

Além disso, tendo o desenvolvimento uma dimensão não apenas económica, mas também social, cultural e ambiental, o poder regional democrático e as suas atividades podem ser um fator benéfico e uma contribuição importante para o assegurar. 

Acresce ainda que um sistema de finanças regionais que garanta maior investimento onde há maior atraso pode ser um instrumento de correção de assimetrias.

Em quarto lugar, a regionalização é condição de uma reforma administrativa democrática, que dê coerência à administração periférica do Estado e permita descentralizar e desburocratizar. 

Ainda hoje existem dezenas de divisões «regionais» diferentes consoante os diversos serviços públicos, obrigando em grande parte do País o cidadão a encaminhar-se para cidades diferentes consoante os problemas que tem a tratar.

[de António Almeida Felizes/Blogue Regionalização]

27 novembro, 2012

Coesão nacional à moda de Cavaco

Dizem que é Presidente. De quê, sabem?
Era uma vez um país dirigido por uns senhores muito amigos do povo, que passavam o tempo a tecer elogios aos seus brandos costumes, e à sua inesgotável paciência, mas que não eram capazes de traduzir essa terna "amizade"* com o respeito e a sinceridade devidas. Esse país, chama-se Portugal. É um país cujo clima e beleza natural não tem paralelo com a qualidade de líderes que produz. Insistentemente, seja em que regime for, em ditadura ou democracia, Portugal não mostra capacidade para criar Homens de grande envergadura política, na expressão mais nobre do termo. Os políticos de hoje copiam-se reciprocamente e sempre pela pior bitola: a mediocridade.

Marcelo Rebelo de Sousa, é o exemplo vivo do que acabo de dizer. Ainda que actualmente não exerça cargos públicos de grande importãncia, a sua boa estrela entre os media transformaram-no num crítico quase consensual e com influência no meio político. No entanto, não acrescenta nada de verdadeiramente interessante ao que o Governo faz, ou ao que outros politólogos dizem. Sabe usar as palavras com a sofisma dos vigaristas parecendo dizer coisas excepcionais. Querem tirar dúvidas? Pois aí vos deixo, uma das suas últimas locuções:  "o Governo faz bem em não governar para a popularidade, mas faz mal se, sob esse pretexto, não explica aos portugueses, não esclarece e não os mobiliza"... Vejamos se entendi. Governar com popularidade será forçosamente uma coisa má? Dito de outra maneira: para um governante ser convincente terá de ser impopular? Terá de actuar de forma hermética e distante do povo? Mas, não é seduzindo um povo, covencendo-o, prometendo-lhe a concretização do que ele mais precisa, que os partidos políticos conquistam o poder? Não é, dizendo aquilo que o povo quer ouvir que os partidos costumam colorir as campanhas eleitorais? Se mentem antes, então porque razão devem falar verdade depois? Era com o princípio como se exerce a política, e não com o fim, que Marcelo devia preocupar-se, quando fala de popularidade para a confundir com populismo. Porque, dizer que o Governo tem de explicar e esclarecer o povo sobre o que pensa fazer do país [além de querer pagar a dívida], é uma redundância, uma futilidade, não é dizer nada de profundo. 

Gostava, era de ver Marcelo falar de uma inutilidade institucional, chamada Cavaco Silva, que não faz a mínima ideia da responsabilidade do cargo que desempenha e para o qual não tem a menor aptidão. Aqui há uns tempos, fez uma fitinha para mostrar que é um Presidente atento e participativo, com o triste episódio do estatuto dos Açores, mas agora, que Portugal inteiro deita as mãos à cabeça com receio de cair nas profundezas do abismo, da miséria completa, sua  excelência, não abre a boca...

Ah, talvez me esteja a escapar uma coisa: possivelmente, estará agora a pensar quantas vezes terá de soletrar a palavra coesão nacional para o próximo discurso, inspirado no cheque extra de MIL MILHÔES DE EUROS, para as zonas do vale do Tejo e da Madeira...

Estou emocionado. Se houver uma guerra, juro que serei o primeiro a alistar-me para defender a Pátria do senhor Cavaco. Sim, porque a minha, pode esperar.

«Adoro o povo português. O povo português é pacífico, não é  para grandes revoluções» (expressão puxa-sacos de Azeredo Lopes, ontem num debate no Porto Canal). 

Como ex-responsável da Alta Autoridade para a Comunicação Social, foi "competentíssimo". Não foi? Oh, como as coisas mudaram desde que ele tomou as rédeas da coisa...

    

22 novembro, 2012

Rui Moreira, é agora, ou nunca

Deixei de votar para a Assembleia Constituinte, já faz umas dezenas de anos. Não é de agora que desisti de acreditar na forma como os candidatos à governação do país se apresentam ao eleitorado, e principalmente nos resultados do seu trabalho. Desde o 25 de Abril de 1974, não tenho memória  de ter tido a satisfação de ver Portugal a ser bem administrado, durante um mandato que fosse. Aguentei pacientemente, muito para lá da primeira década de 70, que o povo, e os próprios governantes, se preparassem e adaptassem para viver num regime que tinha como democrático, mas cansei-me de tanta mentira e incompetência. A partir do final dos anos oitenta, nunca mais dei a minha confiança [que é o meu voto] a nenhum partido político, e hoje - apesar disso não me dar nenhuma alegria -, não estou arrependido. O balanço que é possível fazer dos 38 anos de "liberdade de expressão" [é até ver, a única vantagem do actual regime], incluídos os milhões de fundos comunitários consumidos em estradas e Expos, é que eu estava cheio de razão.

Só não repeti a decisão de renunciar ao voto  nas eleições autárquicas, porque considero que o factor proximidade me dá um pouco mais de conhecimentos sobre o potencial dos candidatos, embora continue a discordar da forma apalhaçada como se promovem os candidatos. Chegado a este ponto, tenho como condição primeira para poder votar com segurança, a necessidade de um compromisso de honra dos candidatos, sustentado em garantias concretas, com coimas [e, justificando-se, até punições], em casos de sonegação óbvia e comprovada aos programas eleitorais. Mas isso sou eu, que me lembrei de aplicar  aos políticos, normas de segurança semelhantes às que os Bancos nos impõem a nós, quando queremos aceder ao crédito [e ninguém acha anormal]...   

Mas é impossível, e mesmo indesejável, alhearmo-nos totalmente da política, porque ela acompanha-nos em quase todos os actos da nossa vida. Por isso é que vos vou falar da candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto.

Acontece, e isso é natural, concordarmos episodicamente com alguém com quem raras vezes estamos de acordo. Foi o que se passou hoje comigo em relação a este artigo de Paulo Ferreira. De facto, a dupla personalidade de Luís Filipe Menezes, muito típica aliás, nos políticos, talvez sirva de mote para a decisão do meu voto para a presidência da Câmara do Porto das próximas eleições. Como já aqui escrevi, sou um admirador do trabalho realizado por LFM em Gaia. Está bem à vista, e não é folclore. Mas, esta faceta tipo troca-tintas não me agrada nada, como aliás não me agradou nada a decisão do autarca de Gaia, de meter na gaveta do silêncio a Regionalização, quando foi eleito líder do PSD, logo que aterrou na capital. Não sei mesmo se o belo trabalho produzido em Gaia, justificará dos eleitores mais exigentes a digestão das tão frequentes contradições de LFM. 

Rui Moreira, que tão indeciso deve andar quanto à sua candidatura à presidência da CMP, tem aqui uma oportunidade de oiro para capitalizar as gafes políticas de LFM. A questão, é saber se ele terá unhas para tanto. É que, para um líder se afirmar, para dar o passo decisivo, por vezes é preciso saber aproveitar as oportunidades, e não temer o confronto, mesmo que o adversário seja de peso, e tenha o apoio unânime da Comissão Política Nacional do PSD.

Até agora, ainda não encontrei razões objectivas para duvidar da seriedade de Rui Moreira, e mesmo, da sua capacidade empreendedora. Terá talvez chegado o momento para ele mostrar a sua veia de lutador e provar aos portuenses que é capaz de fazer mais e melhor que Menezes, sem se endividar tanto. É verdade que ninguém faz omeletes sem ovos, mas a imaginação ajuda muito. Por outro lado, talvez não seja muito arriscado apostar na mais que provável queda do Governo PSD/CDS, que até poderá facilitar-lhe o caminho para as próximas eleições autárquicas...

Faites vos jeux, monsieur Rui Moreira*!

* Como candidato independente, será mais complicado reunir apoios, mas vale a pena tentar.

20 novembro, 2012

Ser Juíz, será hoje uma honra?

Cega, surda, muda, inútil
Até certo ponto, percebe-se que bom número dos juízes portugueses cedam com aparente facilidade à vaidade, que advem do facto de saberem  que desempenham uma actividade intimidante para a maioria da população, que apesar de viver numa democracia de fachada, não concede aos cidadãos economicamente mais desfavorecidos os meios suficientes para os confrontar, em casos de conflito directo.  Mas já não se compreende, nem aceita, é que o seu sentido do Dever, as suas próprias exigências com a Justiça cedam a coisas tão mesquinhas  e fúteis como a vaidade exacerbada.

Paira na nossa sociedade, uma impressionante convicção, uma ideia firme e generalizada, de que é no próprio sistema judicial que se encontra o cerne de todas as injustiças, e se concentram os problemas mais graves. 

É, quase em exclusivo com a pequena criminalidade, que a Justiça em Portugal vai dando sinais de existência e de alguma produtividade. Reunidas as provas fundamentais contra o(s) autor(es) de um crime, de maior ou menor gravidade, logo se procede aos julgamentos e aplicam as respectivas sentenças. E se as infrações o justificarem [e às vezes não justificam], a cadeia, é o destino certo dos infractores. Mesmo assim, em certos casos, a Justiça usa critérios de punição contraditórios, deixando amiúde em liberdade gente cadastrada e considerada perigosa, como aconteceu ainda há poucos dias numa localidade do país. Nem para prevenir, a Justiça portuguesa acerta o passo. Se falarmos em processos de litígio entre empresas, então nem se fala. Com as pequenas empresas a Justiça só funciona praticamente para lhes extorquir impostos. Com as grandes, com aquelas empresas onde circulam muitos milhões, depende dos envolvidos...

Falar da Casa Pia, e da fantochada que tem acompanhado este processo, é já cansativo. De Vale e Azevedo, é uma vergonha para qualquer Juiz que se preze. E da prisão de luxo residencial de Duarte Lima, outra vergonha ainda maior.

Mas, pelo caminho que as coisas levam, a cereja no topo do bolo parece-me que vai ser o famoso processo dos submarinos. Como é do conhecimento público, a compra dos referidos submarinos tinha algumas contrapartidas, que obrigavam a empresa alemã que os vendeu a investir uns milhões em actividades complementares, no fabrico de peças para indústria mecânica. Eram 20 os projectos de contrato de contrapartidas! Eram, porque nunca chegaram a sair do papel... O remédio encontrado pelo Ministro da Economia [em Outubro], para "ultrapassar" o incumprimento foi acordar com a Ferrostaal, a substituição desses 20 projectos por [apenas] outros dois, desta vez supostamente ligados ao turismo, e à energia [no valor de 500 milhões de euros]... 

Vem agora o zeloso advogado dos bandidos dizer, que a renegociação contratual das contrapartidas anula a responsabilidade criminal dos falsários! E, mais! O "ilustre" advogado de defesa, Nuno Godinho Matos, não hesita em pedir o arquivamento do processo, adiantando [não, sem uma dose pesada de razão] que "o Estado português não é nenhuma virgem enganada, que é uma megera" (sic).

Querem ver que ainda vamos ter de pagar aos vigaristas? Justiça, que Justiça? Juízes? Não! Juízinhos,  sindicalistas, isso sim.    

19 novembro, 2012

Sem relho nem trabelho



Se alguém contabilizasse os milhares de horas de trabalho que todos os anos os portugueses perdem nos tribunais em esperas ou com deslocações inúteis veríamos quão anacrónico e irracional é o funcionamento do nosso sistema judicial. Os nossos tribunais funcionam sob as ordens de quem não está preparado para os administrar. Os juízes foram formados para decidir processos e não para gerir tribunais. É muito frequente haver adiamentos de julgamentos em certos dias porque as salas de audiência estão ocupadas, enquanto em outros dias nenhuma delas é utilizada.

 Outrora passava-se algo semelhante com os hospitais, mas o Estado resolveu, há décadas, esse problema formando administradores hospitalares, justamente para que os estabelecimentos de saúde fossem geridos com racionalidade e eficiência por profissionais especificamente preparados para essas tarefas. Em vez de aplicar esse modelo aos tribunais, os sucessivos governos têm assobiado para o lado, sem mostrar qualquer preocupação com os prejuízos que tal situação acarreta.

O atual Governo não só não está interessado em resolver a questão como ainda quer agravá-la através de uma reorganização do mapa judiciário completamente irracional e sem qualquer sentido estratégico. Em cerca de dez meses o Ministério da Justiça já apresentou quatro versões do mapa judiciário e a ministra já anunciou mais outra. Ora abre-se o tribunal que antes se decidira fechar; ora fecha-se aquele que antes se decidiu que ficaria aberto; ora tira-se competências a este tribunal e dá-se àquele, ora tira-se essas competências a esse tribunal para dá-las a outro. Enfim tudo parece decidir-se ao sabor do poder de grupos de pressão e do arbítrio da senhora ministra.

O Governo parece apenas interessado em colocar os municípios uns contra os outros e em dividir a própria Ordem dos Advogados, aliando-se a umas delegações contra outras com o apoio oportunista de alguns dirigentes distritais que se prestam ao papel de canas de pesca à linha. As sucessivas versões do mapa judiciário demonstram claramente que este Governo não está preocupado em servir o país e as populações, mas sim em criar fidelidades, premiar obediências e expandir clientelas.

Por que é que um diferendo de valor superior a 50 mil euros entre duas empresas de Matosinhos passará a ter de ser decidido no tribunal da Póvoa de Varzim? Por que é que um crime grave cometido em Chaves passará a ter de ser julgado em Vila Real? Por que é que o julgamento de um homicídio praticado em Abrantes passará a ter de ser feito em Santarém? Por que é que as populações de Monchique, de Mértola, de Mira e de mais algumas dezenas de outros municípios passarão a ter de percorrer dezenas (e em muitos casos mais de uma centena) de quilómetros para poderem aceder à justiça, quando têm tribunais na sede do seus concelhos, os quais, em alguns casos, foram inaugurados há poucos anos e custaram milhões de euros?
O Ministério da Justiça anunciou que os tribunais dessas dezenas de concelhos vão ser transformados naquilo que ele próprio designa como «Extensões de Proximidade», ou seja, entidades sem magistrados e apenas com funções administrativas e burocráticas. Mas não há ninguém no Ministério, no Governo ou no PSD que explique à senhora ministra que os tribunais são órgãos de soberania e que não podem ser tratados como repartições da administração pública ou como secções de uma qualquer loja do cidadão? Por que é que têm de ser as populações a percorrerem milhares e milhares de quilómetros todos os anos em vez de serem os magistrados a deslocar-se aos tribunais dos vários concelhos para, aí sim, administrarem uma justiça de proximidade em que as respetivas sentenças produzam cabalmente todos os seus efeitos preventivos e dissuasores de futuros comportamentos ilícitos?

Este Governo está a levar a cabo, na área da Justiça, uma política sem relho nem trabelho, tratando os tribunais como peças de xadrez que tenta mover ao sabor dos caprichos de burocratas ou dos interesses das suas clientelas. A justiça precisa de políticos abertos ao país e com linhas de rumo claras e não de fanáticos entrincheirados nos bunkers das suas certezas sectárias.

16 novembro, 2012

Porto Canal, e a nova grelha

Arrancou finalmente a nova grelha de programas e informação do Porto Canal, com um novo visual, e aparente vontade, pelo menos da parte do seu director geral, Júlio Magalhães, de futuramente fazer mais, e melhor. De louvar, a estratégia anunciada de fazer da estação nortenha uma televisão de cobertura nacional, sem renunciar aos interesses regionais. 

Se bem entendi o discurso, pretende-se estender a voz do Norte, não apenas à região, como ao resto do país, incluindo Lisboa, sem desistir dos temas mais prementes, como a Regionalização e o desenvolvimento local. Esperemos que tais intentos não passem de meras promessas, e que a tendência seja sempre acentuar a índole regional da estação e não o contrário, como aconteceu com experiências anteriores [NTV]. Agora, não há mais espaço para falhanços e desculpas. O Norte tem de se assumir pela diferença e impor-se a nível nacional, sem se deixar cair na ratoeira de práticas neo-centralistas, e transformar o Porto na pérfida Lisboa desta fantástica região. Haverá que intensificar a programação regional, alargando-a ao maior número possível de localidades, das mais importantes, às menos acessíveis, de modo a que as populações sintam que há no país finalmente uma estação de televisão que se interessa por elas.

Os centralistas, ou se quiserem, os inimigos da regionalização, tudo fizeram para a menorizar, procurando incutir no povo uma ideia muito negativa, onde supostamente imperaria o compadrio, a distribuição de tachos, esquecendo eles os grandes escândalos, a corrupção e as discriminações praticadas ao longo de 38 anos de um feroz e impiedoso centralismo. Portanto, é de verdadeiros regionalistas, sobretudo daqueles que sempre se assumiram como tal, e não dos ocasionais [que os há por aí], que o Porto Canal se deve rodear, porque de contrário, todo o projecto correrá sérios riscos de falência. Desconfiar sempre daqueles que andaram a dizer "que eram regionalistas assumidos, mas". A melhor forma de manifestar que se rejeita alguma coisa é acrescentar-lhe um mas, venha ele seguido do gasto "agora não é oportuno", ou "porque hoje está a chover". Para falar mal da Regionalização, ou nem sequer falar, chega Lisboa...

Outra questão a evitar, é o bairrismo exacerbado, a ciumeira que às vezes assola vizinhos. Não cair na patetice de nos deixarmos dividir. No Norte [pelo menos é assim que eu quero pensar], cabem muito bem o Porto, Chaves, Braga, Viana, Guimarães, Bragança, Aveiro e localidades periféricas, sem terem necessariamente de rivalizar para se afirmarem. Pessoalmente, não noto muitas diferenças entre um portuense e um bracarense, de um transmontano e um minhoto, ou até, ouso dizer, de um galego. Temos mais semelhanças e características em comum, do que com um lisboeta, um alentejano, ou algarvio.

Não podemos deixar-nos impressionar com a argumentação maliciosa dos centralistas que tudo farão para explorar contra nós o bairrismo salutar que nos molda o carácter. E não nos incomodarmos pelo facto de o Porto ser a segunda cidade do país, ou Braga e Guimarães, as terceiras. Cada cidade terá mais a ganhar se houver muita união entre todas, depois, dependerá das suas gentes, das suas competências e imaginação, o desenvolvimento económico, cultural e social almejado. O pior que se poderá fazer mesmo,  é rivalizar. Aqui, terá de se colocar de parte as rivalidades do futebol. Esse, é outro departamento.

Para terminar, gostaria que o Porto Canal evitasse o mais possível deixar-se invadir por protagonistas que não vêm acrescentar nada ao Norte, que já conhecemos de fio a pavio, de passarem o tempo a saltitar de um canal para outro em Lisboa, e que nunca quiseram saber do Norte para nada, excepto para o explorar sempre que puderam. Gostaria que o Porto Canal não se esquecesse dos portuenses que dedicaram toda uma vida a propagar a história do Porto, como o Hélder Pacheco, o Germano Silva, e tantos outros. Que os convidassem para participar em programas relacionados com essa temática, que é a que realmente dominam. De fazer o mesmo, com figuras ilustres de outras cidades nortenhas. Se a ideia da direcção do Porto Canal consistir em dar o passo maior do que aperna, ou seja, se a estratégia não passar por assumir o Norte sem complexos, e quiser conquistar o país, pode haver o risco de dispersão e a repetição de cenários antigos que acabaram por remeter o Norte outra vez ao silêncio [não esqueçam nunca o que se passou com a NTV, depois de passar para a RTPN, e aonde hoje foi parar].

Finalmente, sem revanchismos, nem rancores, mas com um apurado sentido de sobrevivência, será recomendável que a Direcção do Porto Canal, agora nas mãos do bom Júlio Magalhães, não caia na tentação de trazer para os seus estúdios figuras mediáticas que ainda há bem pouco tempo tão mal disseram e fizeram ao FCPorto e ao seu Presidente. Roma não paga aos seus traidores. Lembrem-se!

Boa sorte, Porto Canal.

           

15 novembro, 2012

[Off topic] O mito americano

A política de terceiro-mundo dos EUA

Por Dani Rodrik [Público]

Com o fim das eleições presidenciais, os Estados Unidos podem, finalmente, fazer uma pausa das campanhas políticas, pelo menos por uns tempos. Mas há uma pergunta incómoda que persiste: como é que é possível que o país mais poderoso do mundo e a sua mais antiga contínua democracia apresentem um discurso político que mais faz lembrar o de um estado africano fracassado?
Talvez seja uma avaliação muito dura das democracias que começam a aparecer em África. Se acha que estou a exagerar, então não tem prestado muita atenção. A conivência com os grupos extremistas, a rejeição da ciência, as mentiras sem rodeios e as distorções, e a fuga às verdadeiras questões que caracterizaram o mais recente ciclo eleitoral marcam um novo mau período para a política democrática.

Não há dúvida de que os grandes responsáveis são os republicanos norte-americanos, cujos líderes ficaram, de alguma forma, entusiasmados com ideias que são inaceitáveis noutros países desenvolvidos. Dos doze candidatos do partido à presidência, apenas dois (Mitt Romney e Jon Huntsman) recusaram-se a rejeitar a evidência científica referente ao aquecimento global e às suas causas humanas. Mas, quando confrontado com a questão, Romney mostrou-se tão desconfortável em relação à sua posição, que perdeu a confiança.

A teoria da evolução de Darwin há muito que é também uma obscenidade entre os republicanos. Rick Perry, governador do Texas e o primeiro favorito nas eleições primárias republicanas, chamou-lhe apenas uma “teoria que anda por aí”, enquanto o próprio Romney teve de argumentar que a teoria é consistente com o criacionismo – a ideia de que uma força inteligente criou o universo e toda a existência.

Da mesma forma, se houver uma ideia arcaica em economia, é a de que os EUA deveriam regressar ao padrão ouro. No entanto, esta ideia tem, também, um forte apoio dentro do partido republicano – liderado por Ron Paul, outro candidato para a nomeação presidencial do partido. Ninguém ficou surpreendido quando o programa eleitoral do partido fez um aceno com a cabeça ao padrão ouro, na sua Convenção em Agosto.

A maioria das pessoas que não são norte-americanas acharia uma loucura ao facto de Romney e de Barack Obama não terem apoiado as leis mais rigorosas de controlo de armas (com Obama a fazer uma excepção apenas para as armas de assalto, como as AK-47), num país onde, por vezes, é mais fácil comprar armas do que votar. A maioria dos europeus não consegue entender como é que, num país civilizado, ambos os candidatos podem favorecer a pena de morte. E nem sequer vou mencionar o debate sobre o aborto.

O candidato Romney foi tão intimidado pela obsessão do seu partido com os baixos impostos, que nunca apresentou um orçamento que fizesse sentido. Coube, aos seus contadores de histórias, a tarefa de explicarem, tal como escreveu The Economist, que isto foi “um disparate necessário, engendrado para persuadir os fanáticos que votaram nas primárias republicanas”.

Obama, por seu lado, tratou dos nacionalistas económicos ao atacar Romney como sendo um “pioneiro no outsourcing” e ao dizer que ele era “ principalmente, um contratante” – como se o outsourcing pudesse ser detido, ao ser algo perverso, ou que Obama tinha feito muito para o desencorajar.

Foram tão desvairados os equívocos, as falsidades e as puras mentiras, de ambos os lados, que muitos meios de comunicação e grupos não partidários mantiveram listas actualizadas de distorções concretas. Uma das mais conhecidas, FactCheck.org, uma iniciativa do Centro de Políticas Públicas Annenberg da Universidade da Pensilvânia, admitiu que esta campanha os tinha mantido excepcionalmente ocupados.

Alguns dos exemplos mais flagrantes incluíam as reivindicações de Obama de que Romney estava a planear aumentar os impostos em cerca de 2 mil dólares, aos contribuintes com rendimentos médios, e/ou reduzir os impostos em cerca de 5 biliões de dólares; e que Romney tinha apoiado uma lei que proibiria “todos os casos de aborto, mesmo em caso de violação e incesto”. Romney ainda foi mais longe, ao declarar que Obama planeava aumentar os impostos em cerca de 4 mil dólares aos contribuintes com rendimentos médios; que Obama planeava “esventrar a reforma da segurança social, ao diminuir as exigências laborais”; e que a Chrysler, socorrida pelo governo de Obama, estava a deslocar toda a sua produção do modelo Jeep para a China.Nenhuma destas alegações era verdadeira.

“Tem sido esse tipo de campanha”, escreveram os analistas da FactCheck.org, “cheia, do princípio ao fim, de ataques e contra-ataques enganosos e de reivindicações dúbias”.

Enquanto isso, ao longo dos três debates presidenciais e um vice-presidencial televisionados, as alterações climáticas, a questão que marca a nossa época e o problema mais grave que o nosso planeta enfrenta, não foram mencionadas uma única vez.

Há duas conclusões possíveis que se podem tirar das eleições dos Estados Unidos. Uma delas é que os EUA irão acabar por ser derrotados pela baixa qualidade do seu discurso democrático; e isso estará apenas no início de um declínio inevitável. Os sintomas estão lá, mesmo que a doença ainda não tenha infectado todo o corpo.

A outra possibilidade é que o que é dito e feito durante uma eleição, pouca diferença faz para a saúde de um governo. As campanhas são sempre um momento de populismo barato e para bajularem a única questão dos fundamentalistas. Talvez o que realmente importa é aquilo que acontece depois de um candidato tomar posse: a qualidade dos controlos e dos balanços com os quais ele ou ela trabalha, os aconselhamentos propostos, as decisões tomadas e, finalmente, as políticas realizadas.

Mas, se as eleições norte-americanas não são nada além de entretenimento, por que razão é gasto tanto dinheiro com elas; e por que razão tantas pessoas se ocupam delas? Será que a resposta é: caso contrário o resultado seria ainda pior?

Parafraseando Winston Churchill, as eleições são a pior maneira de se escolher um líder político, salvo por todos os outros métodos que foram experimentados – sobretudo nos EUA.

14 novembro, 2012

O povo saberá mesmo, quais os partidos que o têm tramado?

Sei, por experiência própria, o quanto é difícil convencer os eleitores a envolverem-se na actividade política, ou então simplesmente a votarem nos partidos fora do chamado arco do poder [PS/PSD/CDS], como alternativa de governo. A verdade seja dita também, que com as difíceis condições de vida que uma grande maioria de portugueses leva, e com as sucessivas decepções que têm sofrido com a classe política, é irrealista esperar que sintam muito entusiasmo para alterar tal comportamento. Apesar disso, penso que podiam fazer melhor, pelo menos participar activamente em novos projectos, como por exemplo, o da Regionalização.

Completaram-se praticamente dois anos em Maio, quando lancei o desafio a Pedro Baptista para liderar um movimento em defesa da Regionalização, visto ser das poucas figuras públicas do Norte que falava abertamente e sem medo sobre o assunto. Para minha surpresa, o convite foi aceite, e pouco tempo depois, juntamente com o Dr. Anacoreta Correia, o meu saudoso amigo Rui Farinas, e mais dois jovens voluntariosos, estávamos reunidos numa sala da sua casa, para discutir os primeiros passos daquilo que viria a ser o Movimento Pró Partido do Norte. Já antes houvera no NorteShopping um 1º. encontro de apresentação, onde também esteve o amigo Vila Pouca, o Rui Farinas, o Arqº. Alexandre Ferreira,  Miguel Barbot, e claro, o Dr. Pedro Baptista. Entusiasmo não faltou, mas seria sol de pouca dura...

Por razões de ordem particular, alguns de nós tiveram de se afastar, embora investidos da melhor vontade para colaborar com o Movimento, pelo menos para tentar dar-lhe a dinâmica que um projecto desta natureza sempre necessita, sobretudo na fase de arranque. O Rui Farinas, do alto dos seus 80 anos [àquela data],  foi um dos maiores entusiastas na recolha de assinaturas, mais parecendo um rapaz de 20 anos... Além disso, participamos em várias reuniões no Clube Literário do Porto, onde compareceram, além dos principais fundadores [Pedro Baptista e Anacoreta Correia] algumas figuras públicas portuenses, como Paulo Morais, Carlos Abreu Amorim [vejam onde ele está agora!], Narciso Miranda, e muitos outros que agora não recordo. Pouco tempo decorrido, começaram as primeiras fracturas, algumas delas sustentadas no "mau feitio" do líder principal, segundo o qual parecia conter "anti-corpos", que é coisa que ainda hoje estou sem saber o que seja. A única que posso admitir é que a Pedro Baptista lhe falte o low-profile e a costela de hipocrisia que define o vulgar político, mas por outro lado acho que compensava essa "lacuna" com uma frontalidade rara. Coisas a que o tradicional espírito de enguia dos políticos não dá valor, e o Zé Povinho não está habituado. O Movimento mantem-se, embora hoje dirigido pelo José Ferraz Alvez, ainda que sem a visibilidade que se esperaria [o dinheiro não cai do céu, e estas coisas são caras].

Voltando de novo à indiferença do povo pela participação na vida pública, e à alergia que continua a mostrar por novos partidos políticos, também há que referir outra realidade: os partidos da oposição [PCP, Bloco de Esquerda e PEC-Partido Ecologista so Verdes], não se esforçam muito para conquistar a confiança do povo! Sendo todos eles excelentes comunicadores, não se entende lá muito bem por que é que ainda não se decidiram a persuadir o eleitorado a votar nos respectivos partidos. Por vezes, fica-se com a impressão que preferem manter-se assim, no conforto da oposição, dando parcialmente razão às velhas raposas dos partidos conservadores, que não têm capacidade para apresentar propostas credíveis de governo. A tarefa é árdua, mas não impossível. Basta que saibam convencer o povo com propostas assentes na realidade do nosso país e adaptar a rigidez das suas doutrinas a uma Europa onde o comunismo, bem, ou mal, parece não querer fazer escola. Afinal, sempre é mais fácil isso, do que um Movimento [como o Pró Partido do Norte], sem recursos financeiros, nascer do nada, conseguir impor a Regionalização a nível nacional, num país onde o centralismo é dos mais ferozes do continente europeu. Por que não pegam eles na bandeira?