02 outubro, 2012

O teatro da real politique

Que me desculpem a imodéstia, mas podem estar certos que nenhum jornal diz coisas mais verdadeiras que o Renovar o Porto. Calma, não saltem já da cadeira, que não me estou a imaginar o Mourinho da blogosfera... Sendo a relatividade a mãe de todas as desculpas, só a consciência dos leitores poderá avalizar o tamanho da relatividade do que escrevo.

Ultimamente, paira como nunca nas bocas do mundo, esta pergunta: "Andará tudo doido?". A verdade é que, se não está tudo doido, parece.  Doido varrido está de certeza o Governo. Saiu Sócrates, entrou Passos. Notam algumas diferenças? Um mentia, e o outro mente porque diz que o outro mentiu. E é melhor não dar-mos importância ao que dizem os amiguinhos de ambos, porque para questões de política e de criminalidade, os amigos são as últimas pessoas a quem devemos dar  ouvidos. Ainda ontem ouvi um General dizer que "achava Pedro Passos Coelho um homem honesto, mas imaturo para 1º Ministro", e não relevei por aí além essas palavras, apesar de até lhes poder encontrar alguns pingos de bom senso. Pela mesma ordem de razões que a presumida [mas não provada] seriedade de Rui Rio não faz dele um bom autarca, a de Passos Coelho, e a sua imaturidade, nunca se recomendaria para chefe do Governo.

Mesmo sendo pouco democráticos, os jornais ainda têm alguma utilidade, porque sempre informam do que se vai passando pelo mundo, ainda que sem nos dispensar de uma prévia filtragem aos exageros, às mentiras e omissões, consoante o alinhamento económico-político em que se encaixam. Não devemos portanto confundir informação com transparência e liberdade. Nesse capítulo, os bloggers sempre estão uns degraus mais acima.

Estamos a viver talvez a maior crise de sempre. Global. Esta crise ultrapassou as nossas fronteiras, não é só governativa, nem financeira, é sobretudo política. É todo o regime do mundo capitalista [agora convenientemente baptizado de neo-liberalista] que está em causa. E o dinheiro é cego, sabemos, não tem, nem nunca terá pruridos de cariz social. O dinheiro procura mais e mais dinheiro. Só os países nórdicos mais desenvolvidos, através de políticas de gestão rigorosas, com Estados bem estruturados e mentalidades sérias, têm capacidade para  controlar a ganância   da banca internacional. 

Portugal, continua a provar ao Mundo que não tem gente com perfil para o governar. E o que é que continuamos a ver? Vemos políticos no activo, ex-políticos, empresários, jornalistas, economistas, numa autêntica maratona a esgotarem os estúdios das estações de rádio e televisão, para darem pareceres sobre aquilo que menos percebem: governar.  No entanto, e ao que parece, é desses protagonistas, que já deram provas de incompetência [e muitos, até de desonestidade], que os jornalistas esperam a solução para o país. O palco pertence-lhes, porque o crime compensa. Se os media fossem realmente amigos do povo, ouviam mais o povo e desprezavam a opinião dos incompetentes e dos reais responsáveis pelo estado a que o país chegou. Mas, é nesta hipocrisia que eles se dão bem, o paradigma não pode ser outro. Os criminosos mandam os inocentes pagar a crise que eles geraram e nem sequer lhes passa pela cabeça provar do venêno que lançam para a vida de outros: transferir alguma austeridade para as suas contas pessoais e salários. Tão medíocres, e tão revoltantemente cínicos que eles são.

Quanto aos jornalistas, são meros cúmplices do regime e actores contratados para fazer de conta que são uma força de oposição ao poder. Não. Eles são a ala secreta de qualquer poder, apenas variam de acordo com as oportunidades político-partidárias. 

30 setembro, 2012

FCPorto, outra réplica do ano passado?

Conhecendo como funciona a cabeça de certos adeptos quando as coisas começam a correr contra o previsto, compreende-se a opção de outros por um discurso mais contido e paciente.

O mal do fanatismo, além demonstrar uma clara incapacidade para dar tempo ao treinador para se adaptar ao clube e ao conjunto de jogadores com o qual terá de construir a equipa, é o radicalismo verbal que emana das suas críticas. Os fanáticos, não perdem tempo para pedir a expulsão do treinador e acompanham a exigência quase sempre com os insultos mais torpes, colocando em dúvida o amor que dizem ter pelo clube. Curiosamente, tais adeptos são muito pacíficos e subservientes com a classe política que lhes tem despedaçado as vidas e as dos seus filhos. Se lhes falarem em Regionalização, muitos, não fazem ideia do que é...

Há no entanto algo em comum entre as diferentes maneiras de viver o futebol: todos os adeptos [fanáticos e tolerantes] querem ver o clube ganhar. Reportando-me agora ao FCPorto, podia garantir, sem correr o risco de me enganar, que a segunda coisa em comum dos portistas da era Victor Pereira, é a expectativa. E que expectativa será essa? É muito simples: consiste em saber em definitivo se Victor Pereira é ou não, o treinador que o FCPorto precisa.

Os últimos jogos do FCPorto pareciam dar a entender que este ano, tanto o treinador como os jogadores estavam bem mais confiantes. Ora, depois de termos ouvido o discurso preventivo de Victor Pereira, antes do jogo de ontem com o Rio Ave, ficamos todos convencidos que os jogadores iam entrar no jogo concentrados e dispostos a resolvê-lo logo na 1ª. parte. Pura ilusão! A posse de bola por si só, não explica nada, nem resolve os jogos, e o FCPorto sabe-o bem. Então, o que é que falhou? Falharam todos? O papel e a responsabilidade dos jogadores e do treinador serão iguais? Eu acho que não! E é aqui que eu quero chegar. A responsabilidade técnico-táctica e psicológica de um grupo de atletas é do treinador. A ideia que pessoalmente tenho, e não é de agora, é que Victor Pereira falha redundantemente na comunicação, tanto antes, como depois dos jogos. Pode até estar ali um bom treinador, mas faltando-lhe o dom de comunicar, nunca estará ali um excelente treinador.

Ontem, a primeira coisa que me irritou foi verificar que Jackson Martinez era um jogador desaproveitado [inutilizado], e só,  porque o jogo não lhe chegava, sem um único cruzamento ou passe que lhe fosse parar à cabeça, ou aos pés. Nada! A minha outra irritação, chegou quando, depois de obtido o primeiro golo - de recarga e por um defesa [Miguel Lopes] -, Victor Pereira e respectiva  equipa se ter(em) acomodado ao resultado mais traiçoeiro que pode haver para a equipa que ganha, que é  o 1-0.

Mas, a equipa não se limitou a acomodar-se ao 1-0, começou inclusivé a dar  mais espaços ao adversário que se tornava mais e mais ameaçador. O que fez Victor Pereira? Refrescou a equipa, fazendo descansar Lucho e Atsu, entrando para os seus lugares Fernando e Varela. Por aí, tudo bem. Mas, e depois? Terá havido uma mudança na atitude dos jogadores? Pressionaram mais, atacaram melhor? Não! Continuaram a jogar pousadamente, convictos que "aquilo" acabaria por se resolver a contento, e que os  3 pontos não escapariam. Puro engano, e a repetição de um fado que já julgávamos morto no plantel do FCPorto reapareceu. Sofremos o golo do empate, e logo de seguida o 2-1, que daria a victória merecida à equipa da casa, não fosse o golo de Jackson Martinez, já no período de descontos, no único cruzamento de jeito que recebeu em todo o desafio, facto que prova o desperdício de toda a primeira parte e quase toda a segunda.

Digo que o Rio Ave não merecia perder por uma razão muito simples. É taxativo: um jogo de futebol só pode dar-se por terminado depois do apito final do árbitro. Vem nos livros...Fazer a gestão do 1-0 quando ainda faltava tanto tempo para jogar, não é uma decisão inteligente, nem sequer corajosa. Como não é inteligente ficar impassível no banco, não dando sinais de inconformismo para dentro do campo, quando o resultado ainda estava 1-0, e o Rio Ave ameaçava a baliza do FCPorto.

É desta postura passiva, meio medrosa e quase suicída de Victor Pereira que não gosto, e que não me transmite confiança. Mais. Creio mesmo que, se não fosse a falta de confiança, ele não precisava de usar as conferências de imprensa para mandar recados para o plantel, porque era sinal que eles já tinham sido devidamente passados e assimilados dentro do balneário. Por isso, estou preocupado. 

Quarta-feira, o teste será doutra dimensão. Há uns milhões de euros para dar a ganhar ao clube, além, claro está, do prestígio e dos pontos. E compete ao treinador e aos jogadores trabalhar para rentabilizar o clube. Veremos se chega termos um treinador competente, sem essa capacidade de ler, sentir e reagir aos jogos e aos jogadores, em tempo útil.

Repito: se  o sofrimento for a imagem de marca deste Porto de VP, então vou passar a ligar o rádio no fim dos jogos apenas para me inteirar do resultado. Gosto de futebol, mas masoquista, eu não sou.