23 janeiro, 2013

Os famosos independentes


 

Estamos numa boa semana para atacar este tema dos famosos independentes que também admite que se incluam no mesmo "barco" os independentes famosos. Historicamente, esta saga dos independentes na política portuguesa (ou talvez melhor, na política à portuguesa) começou no dia em que um deputado de um determinado partido, prevendo que a sua inclusão nas listas para as eleições próximas estava em perigo, resolve tratar da sua vida noutra agremiação, aproveitando para lhe começar a fazer o jogo ainda durante o mandato que lhe tinha sido conferido na sua candidatura pelo partido que passa a renegar. Que é um termo mais suave que trair, embora seja de traição que se trata.

Dos famosos deputados independentes passamos aos famosos independentes da política, que são aquelas "almas" que se desfiliaram de um partido, ou que até nunca militaram em nenhum, mas estão sempre a postos para se juntarem a um partido qualquer, tentando preencher a sua quota de independentes. Reclamando sempre os direitos e esquecendo frequentemente os deveres.

Num sistema político e eleitoral como o português, o independente é uma figura aberrante que não faz qualquer sentido. Numa candidatura às legislativas, um independente no meio de uma lista de militantes filiados é um corpo estranho. Mesmo para aqueles que julgam ver nessa excrescência uma mais-valia, ela normalmente só dura até ao momento da eleição, desvanecendo-se de seguida. Abundam os exemplos, de Vasco Pulido Valente a Manuela Moura Guedes ou Rosário Carneiro. Ou, pior, transformando-se numa menos valia, se o independente é um profissional e começa a preparar a sua próxima eleição, na mesma categoria, mas por outra lista, logo no day after das eleições.

Já nas autárquicas o caso muda um pouco de figura, invertendo- se um pouco as situações. Numa candidatura autárquica independente já não é o candidato que faz a figura aberrante, mas sim, não raro, os seus apoiantes militantes de um qualquer partido que se juntam ao comboio independente, sem terem a decência mínima de se desfiliarem primeiro.

Na versão candidatos ou na versão apoiantes, o que os independentes gostam de dizer é que pensam pela sua cabeça e que a verdadeira democracia tem de garantir a todos liberdade de pensamento, opinião e expressão.

Contra isto nada, o problema é que não é isto que está em jogo. Porque se estivesse, não estaríamos a viver numa democracia. Quem quer intervir na política e se filia num partido, como é normal no nosso sistema pluripartidário, pode e deve continuar a pensar pela sua cabeça e a expressar livremente a sua opinião. Mas a democracia sem regras passaria a bandalheira no dia em que todas as opiniões dentro de um partido tivessem igual peso e legitimidade, independentemente do seu sufrágio maioritário ou minoritário.

Como sócio (mais do que adepto) do F. C. Porto, nem sempre concordei com todas as decisões dos dirigentes ou treinadores do meu clube. Sinto-me até à-vontade para exercer publicamente o meu direito de crítica, ainda que em função da audiência, pública ou privada, voluntariamente decida o tom e alcance dessas críticas. Mas em caso algum, por maior e mais estrutural que possa ser a minha discordância, admito dizer a mais pequena coisa, ou fazer o mais pequeno gesto, em apoio de qualquer dos adversários do meu clube.

Aliás, se algum dia o fizer (o que só admito por doença...) fica aqui dito que espero que o meu clube me expulse de imediato.

É por isso que se Rui Moreira se candidatar à Câmara do Porto e algum militante de outro partido com candidato o apoiar e não for expulso no mesmo dia, vou começar a temer que a nossa democracia pluripartidária está a caminho da maior bandalheira. [do JN]

21 janeiro, 2013

Menezes versus Rui Moreira

Com uns dias ocupado a resolver alguns assuntos de carácter pessoal, não sobrou tempo nenhum para o Renovar o Porto, e para ser franco, a disposição também não tem sido a melhor. Começa a faltar-me a paciência para lidar com tanta irresponsabilidade e vazio de carácter. 

Portugal é próspero em gente vaidosa, convencida de saberes e de honrarias que na realidade não tem, nem nunca terá, porque lhe falta o barro que molda as grandes pessoas: a têmpera. E não é só no mundo da política que falta decência, é em quase tudo. É a clonagem da mediocridade que está na moda.

A avaliar pelos apoios que tem vindo a angariar - uns, mais respeitáveis que outros -, Luís Filipe Menezes conseguiu, sem dúvida,  deixar uma imagem de força, quase consensual, na apresentação da sua candidatura à Câmara Municipal do Porto, sábado passado. Ideias não lhe faltam, e palavras ainda menos... Por isso, não lhe fica mal dizer que quer fazer do Porto "o farol do Noroeste peninsular", nem relativizar a perda da gestão do Aeroporto Sá Carneiro, desde que este integre "uma rede de aerogares internacionais com massa crítica globalmente poderosa", o problema está em saber como é que ele tenciona contornar as barreiras que o governo [que é do seu partido] lhe colocar. Sim, porque se o governo de Sócrates era centralista, o de Passos Coelho abusa.

Em abono da verdade, Menezes revolucionou Gaia completamente, e para melhor, o que é mais relevante. Acusam-no de ser despesista, mas eu pergunto, haverá alguma entidade neste país que possa atirar a primeira pedra sem esta lhe cair em cima? A começar pelo Governo, ou se preferirmos, pelo próprio Estado? Desde quando o Estado em Portugal, é bom pagador? Brincámos? Por isso, descubram lá outro argumento porque esse do despesismo tem muito que se lhe diga. Já dizia o falecido Vieira de Carvalho ex-Presidente da Câmara da Maia, que se estivesse à espera do dinheiro do Governo para dinamizar a cidade, a Maia nunca teria dado o salto de qualidade que deu. E tinha razão. No Porto, ao invés, temos um presidente poupadinho, mas não consegue fazer nada de jeito, a não ser emperrar as coisas e queixar-se.

É por isso que me custa ver Rui Moreira metido no espartilho que Rui Rio lhe colocou, quando este decidiu usá-lo como arma de arremesso, na expectativa de abortar a candidatura de Menezes à Câmara do Porto, coisa que não vai conseguir, porque Rui Rio além de estar politicamente moribundo já não tem a margem de apoio que teve no passado. Mas, Rui Moreira também não tem sabido gerir astutamente a sua imagem, porque entre muitas qualidades, tem um grave defeito, que em política não dá bons resultados: quer, como o povo diz, dar-se com Deus e com o Diabo... O estilo diplomático de Rui Moreira não se coaduna com as rupturas necessárias em política, com a definição de rumos claros, assumidos, sem hesitações. Ao deixar para o final de Fevereiro a decisão sobre a sua candidatura à Câmara, Rui Moreira está a dar ainda mais tempo a Menezes, que já lhe roubou o apoio de uma significativa parcela de figuras da vida pública nacional. Nos momentos pré-eleitorais não se pode ser esquisito, o que é preciso é conseguir-se o maior número de apoiantes, que é o que Menezes está a fazer.  

Posso estar enganado, mas o problema maior de Rui Moreira é que as suas simpatias direitistas não se enquadram lá muito muito bem no seu perfil de pessoa. Creio que a esquerda lhe ficava melhor, até porque a esquerda, a verdadeira esquerda, precisa de pessoas como ele. A não ser que eu esteja mesmo enganado... Ah, e quando falo de esquerda não estou a dizer que esse seja o lado virtuoso da política, e dos políticos. Estou apenas a dizer que, ideologicamente, a esquerda é muito mais respeitável que a direita. Ou seja, nem uma sigla chega para fazer um partido de esquerda, nem um militante de esquerda é garantia de ser homem de esquerda... Cuidado.