27 junho, 2013

Governo nem uma greve merece




1. O país preso por arames e uma greve geral, de novo. Inútil porque representa um tempo que a impotência defronta a prepotência atroz. A expressão cívica das pessoas, mesmo que massiva, é olhada como caricatura, uma válvula de escape, com resultado quase zero. Hoje parece evidente que o país não se fartou apenas da austeridade, fartou-se primeiro da cabotinice, impreparação e, por fim, arrogância de Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar. E a única coisa eficaz para mudar o curso da História é pressionar Cavaco Silva para que não se perca mais tempo. O Governo já não existe há muito tempo.

O presidente da República labora num engano trágico para a nossa vida desde o 15 de setembro. Aquele dia é cristalino sobre a sensação de engano dos portugueses, sobre a queda da máscara, sobre um ideário arrasador quanto ao esmagamento para que caminhava a economia portuguesa em nome de um processo de liberalização a qualquer custo que nos torna numa espécie de Panamá dos grandes interesses financeiros e económicos. Pode dizer-se que Passos Coelho enunciou muitos destes princípios na campanha eleitoral. Mas a maioria dos portugueses queria mais depressa ver-se livre de Sócrates do que ver com atenção quem eram os amigos do líder do PSD e qual o seu objetivo primeiro: impor uma modernização do país à moda de António Borges e Dias Loureiro.

É totalmente falso que a estabilidade política valha mais que a descrença total de empresários e trabalhadores. O presidente da República sabe melhor que ninguém que o Conselho Económico e Social, onde estão representados os sindicatos e confederações sindicais, tem uma unanimidade nunca antes vista contra o irrealismo de Vítor Gaspar e Passos Coelho. Aquelas reuniões são o melhor exemplo do absurdo a que se chegou. Portanto, a única coisa eficaz não é a greve, é cercar Cavaco Silva onde quer que ele vá, até que acorde. Fazer um cordão humano permanente ao Palácio de Belém. Lembrar-lhe todos os dias que nos está a condenar a ir ao fundo, agarrados a pessoas absolutamente incompetentes e algumas delas amorais.

2. Exemplo desta tragédia é o que se passa com a liquidação dos famosos swaps. Os gestores das empresas públicas seguraram o risco da taxa de juro com contratos (milionários) que enriqueceram a Banca. Os mais ousados fizeram até contratos especulativos que os tornaria brilhantes magos da alta financeira (e risco à custa dos contribuintes). Entretanto... pagar isto entra na lógica das urgências do Governo. Porquê? Amortizar contratos com perdas potenciais exatamente neste momento é fazê-lo numa altura em que os juros dificilmente poderão descer mais. É pagar a 'multa' tendo por base o valor mais baixo da penalização e não o seu valor médio (perder mais do que se perderia agora é praticamente impossível). Apesar do desconto feito ao Governo na renegociação, são 800 milhões para pagamento imediato aos bancos. Entretanto não há dinheiro para os subsídios de férias, o que significa mais um tiro no turismo. Que gente é esta?

3. Continua a fazer impressão por que razão não se discute essa decisão 'técnica' de passar a aplicar a quase totalidade do Fundo de Estabilização da Segurança Social apenas em dívida portuguesa. Atualmente as nossas futuras reformas estão colocadas a 60% em dívida pública nacional e os restantes 40% em outros ativos financeiros, para diversificar o risco. Mas Gaspar quer meter o dinheiro todo em dívida nacional. A pergunta que se coloca é: Portugal corre ou não o risco de necessitar de um perdão de dívida? Sabemos que Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar não o querem, mas há quem ache que não conseguimos sobreviver com 130% de dívida pública face ao PIB (produto interno bruto). Ora, estamos a ser entalados contra a parede pelo Governo. As gerações mais velhas e os trabalhadores em geral vão ser as principais vítimas do perdão de dívida do país, caso ele exista. E se tal acontecer será como discutir se queremos destruir boa parte das reservas da Segurança Social (para ter menos dívida e menos juros) ou, em alternativa, não ter retoma económica porque o défice é igual aos juros da dívida. É sinistro. É o que se chama ser-se ultraliberal com a vida dos outros.

26 junho, 2013

Cartoon

Por que não berras tu, Rio?! Não sabes que o Passos é surdo?

Rui Rio não entende por que não lhe responde Passos Coelho




O presidente da Câmara do Porto disse esta terça-feira não entender a ausência de resposta do primeiro-ministro a um pedido de audiência a propósito da Porto Vivo, considerando “dramático” que o executivo queira abandonar um projecto “de crescimento económico”.

No final de uma audiência de cerca de uma hora e meia com o Presidente da República, no Palácio de Belém, Rui Rio adiantou que irá reunir-se no final da semana com o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, para discutir o assunto da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) Porto Vivo, mas que continua sem ter resposta do primeiro-ministro.

Questionado sobre que leitura faz da falta de resposta de Pedro Passos Coelho, o autarca portuense respondeu: “Eu sei lá o que lhe hei de dizer, eu não tenho resposta para isso, não consigo, não consigo entender isso, eu tenho alguma capacidade às vezes para ser irónico, mas não estou a ser, eu não consigo mesmo entender”.

“A reabilitação urbana é nuclear para Portugal e para o Porto e isso o Governo não entendeu, tanto não entendeu que eu não recebi qualquer resposta do primeiro-ministro”, declarou, sublinhando não se recordar de uma iniciativa deste género ter reunido “tantas pessoas com um carácter tão transversal” na cidade do Porto.

O autarca do Porto afirmou que a audição com Cavaco Silva e a carta aberta ao Governo, que disse contar com “praticamente 1500 assinaturas”, permitiram que a dívida do Estado à Porto Vivo (pouco mais de 2 milhões de euros) tenha sido paga na semana passada e enfatizou que este projecto permitiu “gerar mais de 500 milhões de euros de investimento privado” desde 2005.

No mesmo sentido, Rio defendeu que o projecto “tem um efeito brutal sobre a construção civil e a procura que gera noutros sectores, tem um efeito brutal sobre o turismo, como é do conhecimento público” e que “estar a atrofiar este projecto é algo que tem necessariamente de preocupar o Porto, mas também o país, o Presidente da República e o Governo”.
“É dramático” o abandono da SRU
O social-democrata considerou que “é dramático” que o Governo queira abandonar a administração da Porto Vivo: “Deve-nos preocupar a todos quando um Governo que tem dificuldades em promover o crescimento económico, tem um projecto destes à sua frente, e acha que dar um milhão de euros por ano para a reabilitação da baixa da segunda cidade do país é muito dinheiro”.

“Estamos a falar de um milhão de euros por ano, a proposta que eu faço ao Governo é assinarmos um contrato-programa em que o Governo dá um milhão de euros e eu dou um milhão de euros por ano, 2 milhões, e se calhar já não é preciso tanto, é disto que estamos a falar, o que o Governo não quer é assinar um contrato-programa que, com um milhão de euros, consegue todo aquele investimento”, enfatizou.

O presidente da Câmara Municipal do Porto frisou ainda que uma sociedade de reabilitação urbana “não é para ter lucro”, mas “um veículo para promover a reabilitação urbana e atrair o investimento privado”.

Questionado sobre qual foi a posição do Presidente da República, Rui Rio disse que Cavaco Silva “estava bem dentro do problema”.

“Fez-me perguntas, eu dei-lhe respostas, elucidei-o em tudo aquilo que foi necessário elucidar. Saio convicto de que fui capaz de responder a todas as dúvidas existentes, essa capacidade acho que tive”, concluiu.

[do Porto 24]

25 junho, 2013

O despertar do Brasil


Ou muito me engano, ou Portugal será brevemente ultrapassado pelo Brasil no ranquing dos países mais avançados em práticas de cidadania. 

Apesar de localizado na Europa, e viver formalmente em democracia há 39 anos, Portugal está longe de merecer a reputação de um país primeiro-mundista, seja por não conseguir gerar políticos qualificados, seja por ter uma população com hábitos subservientes demasiado enraizados, face à realidade e às exigências dos tempos modernos.  

Caminhando embora ao ritmo da sua natural tropicalidade, o Brasil parece querer tomar a democracia pelos "cornos", e manuseá-la com mais talento e objectividade que nós.

Aquilo a que assistimos nas cidades do Brasil é o somatório de múltiplas vozes que tomam o espaço público da cidade - mas que já antes estavam presentes nas conversas de café ou em família. Se estivermos atentos ao teor dos cartazes dos contestários, verificamos também uma originalidade e um sentido de humor de fazer inveja aos portugueses.

Mas, aquilo que mais me fascinou, e ao mesmo tempo entristeceu, enquanto português, foi notar que os brasileiros usaram os estádios de futebol para se manifestarem sem medo contra a corrupção e as desigualdades sociais, ao contrário dos portugueses, que canalizam para o futebol as frustrações de cidadãos, na expectativa que o clube do coração as resolva...

Quem permitiu, por ridículas motivações estratégicas,  que a língua portuguesa se adaptasse ao português do Brasil, invertendo e desrespeitando a lógica genética da história, só tem é de esconder a cara da vergonha.


24 junho, 2013

Candidato do Partido Trabalhista quer Porto “capital de Portugal”



José Manuel Costa Pereira, candidato independente do Partido Trabalhista Português (PTP) à Câmara do Porto, anunciou este sábado pretender transformar o Porto “numa cidade independente” e na “capital do país”, garantindo que o que o prende são as pessoas.

“Quero que um dia o Porto seja a capital de Portugal. Capital da cultura, da arte, do bem-estar, até chegarmos à capital na verdadeira acepção da palavra. Acho que não devemos depender das ordens que vêm não se sabe bem de quem”, disse o candidato à agência Lusa, antes da apresentação formal da sua candidatura.

A proposta de Costa Pereira é “que o Porto seja uma cidade independente” e que os políticos “que não governam” sejam “varridos completamente da nossa sociedade porque estão a mais”.

“Os outros candidatos estão presos aos partidos, a única coisa que me prende a mim são as pessoas. Estamos fartos de centralismos. Estou farto de ver pessoas a padecerem na nossa cidade. Não há uma política para as pessoas, só para o elitismo. Estou aqui para quebrar as linhas que foram impostas durante décadas a esta cidade”, afirmou.

Costa Pereira assegurou que a intenção de transformar o Porto em capital de Portugal “não é só falar por falar”.

“O Porto tem um poder brutal. A capital é Lisboa, mas o Porto é uma Nação. No Porto temos uma capacidade muito forte para poder fazer algo, as pessoas não estão bem a ver a força dos tripeiros. Está muita coisa a mudar”, afirmou.

Costa Pereira garantiu que a candidatura tem “linhas de rumo” mas não as quis revelar para “não dar trunfos aos adversários”.
“Já usaram duas ou três ideias que eu lancei”, lamentou.

Explicando que a candidatura nasceu “de um grupo completamente independente”, o MIP – Movimento Independente do Porto Histórico, Costa Pereira notou que o PTP achou que o mesmo devia “ter uma voz diferente”.

“Deram-nos [o PTP] essa possibilidade. Continuamos com as nossas ideias mas as ideias deles tocam muito nas nossas”, esclareceu.

A 10 de Junho, o PTP anunciou que o candidato independente à Câmara do Porto, Orlando Cruz, apresentado 2 dias antes, tinha abandonado a corrida à autarquia alegando “razões de natureza particular”.

A sucessão de Rui Rio na presidência da Câmara do Porto é disputada por Luís Filipe Menezes (PSD), Manuel Pizarro (PS), Rui Moreira (independente), Pedro Carvalho (CDU), José Soeiro (BE) e Nuno Cardoso (independente).

Nota de RoP:

É claro que esta candidatura não é para levar a sério, mas podia ser...