22 novembro, 2013

Acudam que é fogo!



Às vezes tenho a imensa vontade de voltar atrás e viver num sítio onde se pudesse tocar o sino a rebate e, por urgência, juntar todos os que se interessam pelo sítio onde vivem para pensar alto e não perder o futuro. Se pudesse, tocava-o hoje.

Por mais calmas que pareçam as marés e por mais razoável que seja o tempo em que, por exemplo, os novos eleitos autárquicos tenham de dispor para se adaptar, temos de ter na ponta dos dedos a rapidez que a ação política, mesmo que no sentido lato de governo da polis, exige.

Quem de nós nortenhos está a seguir de perto as congeminações sobre a reforma da RTP? O que vai, afinal, acontecer ao Monte da Virgem? Irão conseguir esvaziá-lo até ao ponto de todos acharmos que já não é preciso? Há pouco tempo, ouvi de profissionais da Casa que "em Lisboa nem sabem o meu nome", ou "fazemos uma produção nos limites mínimos porque não podemos gastar dinheiro em aluguer de equipamentos e pedir equipamentos a Lisboa é muito complicado"!

Primeiro vinha o jornal da noite, depois a RTP internacional, agora nem o único programa de análise política que era feito no Norte do país sobreviveu. Atenção, sr. presidente da Câmara, sr. presidente da Área Metropolitana, sr. diretor do JN, sr. presidente da AEP, sr. presidente do FCP, srs. reitores, srs. presidentes de Câmara. Atenção, porque é preciso ter uma opinião e lutar por ela, em conjunto, enquanto é tempo.

Tal como todos devíamos tocar a rebate para fazer ouvir ao sr. ministro Nuno Crato que não se trata assim as universidades e não se desconsideram assim os srs. reitores. Infligir um corte cego médio aplicado à massa salarial de toda a Função Pública às universidades sem perceber que estas instituições já fizeram metade desse ajustamento é no mínimo negligente (por desconhecimento) e no máximo ação de má-fé. isto quando a performance das universidades portuguesas, e desde logo as do Norte, é dos poucos desempenhos que nos orgulham a nível internacional.

O que se passa, afinal, com o terminal da Trafaria e que relação existe entre este investimento e o correlacionado desinvestimento nas infraestruturas nortenhas? Houve notícias inquietantes a respeito. A reunião prevista entre o sr. presidente da Câmara do Porto e o sr. presidente da CCDR-N já aconteceu? Foi esclarecedora? Uma das vantagens do toque a reunir era a da moderna "accountability", ou seja, a de sabermos de forma transparente e em tempo útil como vão os processos. Neste caso e quanto mais não seja para ficarmos todos descansados sobre a defesa desta Região no que respeita à única alavanca ao investimento de que vamos dispor.

E a propósito também seria muito útil perceber que contornos terá o banco de fomento que será sediado no Porto. Quando se diz que desempenhará um papel importante na gestão dos incentivos comunitários às empresas isso quer dizer que a dotação preliminar alocada ao Programa Operacional do Norte será expurgada de uma parte substancial cuja gestão é entregue ao banco? Não virá daí grande mal se o banco for gerido por uma equipa equilibrada, desde logo no conhecimento das várias zonas industriais do país (e Lisboa não é exatamente uma delas). No entanto, tarda em saber-se com quanto podem afinal os municípios e outros beneficiários contar no que respeita ao envelope que virá para o Norte.

E o aeroporto? Li que a Irlanda cobra "zero" à Ryanair (presumo que também as outras companhias low-cost, mesmo não sendo irlandesas) pelas suas operações aeroportuárias. Não li, mas já ouvi dizer que talvez Lisboa faça o mesmo. E o Porto? Será abrangido ou agora que a ANA é privada a discriminação é possível? Têm noção de qual será o impacto de um desinteresse ou mesmo abandono da Ryanair no turismo do Porto? Não é de tocar a rebate?

E mesmo no que diz respeito à atuação de instituições privadas de interesse público como é o caso da Fundação de Serralves. Partindo do princípio de que serão sem dúvida convocados fundos comunitários para o novo projeto da Casa do Cinema de Manoel de Oliveira, não seria de explicar melhor por que é que a que já foi feita no tempo do Porto 2001 afinal já não serve?

Mas a perguntar era agora. Em casa roubada...

[do JN]

19 novembro, 2013

Rui Moreira reclama justiça para o Norte nos fundos comunitários

Rui Moreira
Foto: Arq/Cláudia Silva



O presidente da Câmara do Porto reclamou esta segunda-feira justiça para o Norte na distribuição dos fundos de coesão, afirmando que estes só vêm para Portugal “porque há regiões que estão abaixo da média europeia”.

No jantar-debate sobre o tema “O Porto que queremos”, organizado pela Associação Portuguesa de Gestão e Engenharia Industrial (APGEI), Rui Moreira endureceu o discurso relativamente ao próximo Quadro Comunitário de Apoio, começando por dizer que “se Portugal tem hoje ainda condições para recolher fundos de coesão é exactamente porque tem regiões como o Norte, que está abaixo da média europeia”.

“Temos todo o direito, acima de tudo de reclamar uma coisa: não queiram por favor manter a nossa região como uma região pobre apenas para que Portugal possa continuar durante muitos anos a receber fundos de coesão”, criticou.

O presidente independente da Câmara do Porto condenou ainda o facto de estes fundos de coesão serem depois aplicados não no Porto, “mas noutro lado para que o círculo nunca se inverta, para que se mantenha sempre o mesmo”.

“Para que depois digam: não, são precisos fundos de coesão porque, coitadinhos, os do Norte são muito fracos, são muito pobres. Esta não é uma batalha por razões bairristas, é uma razão de justiça”, enfatizou.

Rui Moreira reiterou que os fundos de coesão só vinham para Portugal porque havia “regiões que estão abaixo da média europeia”.

“Mas não tentem perpetuar isso. Não tentem fazer de nós os desgraçados apenas para virem fundos europeus que depois são desviados”, sublinhou.

18 novembro, 2013

Os melindres de um canal com pouco PORTO

Se há forma de contribuirmos para a manutenção da degradação do património urbanístico da cidade do Porto e para a perda de qualidade de vida dos seus habitantes, é sonegarmos o reconhecimento de tudo o que está mal e que urge mudar, e sentirmo-nos ofendidos quando alguém, portuense ou não, nos alerta para essa realidade.

Vem isto a propósito de uma notícia veículada na 6a feira passada pelo Porto Canal pela voz da apresentadora Claudia Fonseca, segundo a qual, um jornalista da BBC teria ficado chocado com o número elevado de casas degradadas no centro da cidade e com o facto de ainda se verem pessoas a lavar roupa na rua em tanques públicos. Com maior ou menor sarcasmo, o facto, é que infelizmente para nós, as declarações do jornalista inglês não são nenhuma deturpação da realidade. Por isso, não posso compreender o excesso de melindre manifestado pela apresentadora quando comunicava a notícia mais se parecendo com as virgens ofendidas dos canais lisboetas que relevam o irrelevante e omitem a substância. Para dourar a pílula, de quem é que os repórteres do Porto Canal se lembraram de entrevistar para falar da heresia? Adivinham quem? As lavadeiras das Fontaínhas, que com a vida já desgraçada pelas asneiras da garotada que (des)comanda o país, desataram a desancar no tipo da BBC com medo que lhes fossem roubar o tanque e a contradizer o que está à vista de toda a gente, ou seja, a degradação urbana e social do Porto. 

Contudo, o que é realmente reprovável, é o alarido gerado pela repórter do Porto Canal e o melindre empolado por uma notícia que esteve longe de ser excessiva. Se houvera necessidade de provar o estado lastimável em que (ainda) se encontram inúmeros edifícios do Porto [e não apenas do centro histórico], bastaria clicar no blogue As Casas do Porto   , que as dúvidas ficavam logo desfeitas. Não creio é que alguma jornalista do Porto Canal esteja interessada em trocar a máquina de lavar roupa por um tanque público, apenas para dar um ar mais bucólico ao Porto ou para seduzir turistas...

A direcção do Porto Canal parece partilhar a ideia daqueles imbecis de Lisboa que só sentem motivação para apelar ao orgulho pátrio beliscado quando lhes falam mal de Mourinho ou do Ronaldo, ou quando alguém lhes aponta os erros que cometem, como por exemplo, o de andarem há mêses com uma programação baseada em gravações repetidas, sem dar uma simples explicação aos espectadores. Nem sequer se dignaram informar em 1ª. mão os espectadores sobre o recente internamento hospitalar de Pinto da Costa, deixando o campo vazio às especulações de Correios das Manhãs e quejandos. É assim que pensam levantar o Norte? Se é, ficam sabendo que só estão é a contribuir para o afundar ainda mais.