10 abril, 2015

Carro eléctrico na Praça Filipa de Lencastre

Praça Filipa de Lencastre

Nojentos e hipócritas

Há no país, um determinado grupo de figuras públicas com o condão de me desinteressarem radicalmente de tudo o que dizem, ou fazem. Corrijo! Há uma excepção:  que é ouví-las dizer que tencionam sair do país para sempre, ou  simplesmente desaparecer...

Falei em desinteresse, mas talvez me tenha exprimido mal. É mais uma espécie de temor de contaminação por proximidade. É o mesmo sentimento que temos com as coisas más, como o cancro, a sida, as máfias, ou com a própria morte. Grande parte dessas pessoas, são políticos com funções governativas, embora não o mereçam. Quando tal gentinha surge de rompante no écran da tv rodeada de repórteres, primo rápida e instintivamente o botão de comando para mudar de canal, como se de uma epidemia virosa se tratasse. Cito apenas dois exemplos: Passos Coelho e Cavaco Silva. A única diferença entre eles e uma virose, é que para certas viroses ainda podemos ter remédio...

No tempo da outra senhora, de Salazar a Caetano, aquilo também era uma hipocrisia, monótona e cinzentona. Sabíamos que era uma farsa, que não podíamos dizer abertamente o que pensávamos, mas não esperávamos nada de novo porque as coisas eram mesmo assim. Mas ninguém nos dizia que vivíamos numa democracia. Agora, a ditadura é outra, vestiu a roupagem da democracia, e em vez da PIDE, usa as escutas, a informática e a autoridade tributária para nos espiar. E em vez das armas, usam os votos. Em vez das balas, usam os impostos e o saque às reformas.

Nunca, em tempo algum, seria capaz de mexer uma palha para lutar por um país com tão miseráveis comandantes. Oxalá um dia não precisem de mim, para defender a "pátria" (Lisboa, segundo eles), porque saberei muito bem de que lado estarei.


07 abril, 2015

Um FCPorto igual ao Presidente de agora

Não tenho dúvidas sobre a importância de uma personalidade como a de Pinto da Costa para levar a bom termo o projecto de um Futebol Clube do Porto vencedor  ao longo de 33 anos. Só alguém com as suas características seria capaz de resistir ao poder absolutista do Terreiro do Paço exercido nos bastidores do desporto, e de lhe trocar as voltas sempre que tal se impunha. Astuto, e interventivo q.b., sempre arranjava forma de travar os ímpetos imperialistas dos clubes de Lisboa, e assim impedir que os abusos, as manipulações das arbitragens, bem como o controle dos órgãos desportivos (Liga e Federação)  atingissem os seus desígnios pouco escrupulosos. Foi por ser como era, que os adeptos o idolatravam, lhe perdoavam os excessos, e algumas contradições até.

Julgo ser por esse passado brilhante, que muitos portistas, sobretudo aqueles que [como eu] sempre o apoiaram na luta que travou contra o centralismo desportivo têm hoje alguma relutância em admitir que Pinto da Costa esteja a perder faculdades. Mesmo assim, continuo a pensar que aqueles que o davam como "finito" há uns anos atrás, não tinham razão, porque argumentavam com as mesmas teses intriguistas dos nossos adversários lisboetas. Além disso, Pinto da Costa não estava tão recolhido, tão ausente como agora. Este estilo apático, contemplativo, muito dado a recordar o passado, não é o estilo do líder que tantas glórias deu ao FCPorto, é de outra pessoa notoriamente diferente. Mais que a questão da idade, já alvitrei a hipótese de se tratar de uma questão de saúde, decorrente da operação cardíaca a que foi submetido, de recomendações médicas, e se assim fôr, mais uma razão para justificar uma estratégia para cuidar do futuro próximo do clube. O que não é tolerável, é a manutenção do silêncio.

O clube, está a ressentir-se da ausência do mestre, a combatividade dos atletas nas várias modalidades parece perder fulgôr. O Porto Canal está cada vez pior, e ninguém sabe o que esperar de positivo com a falta de ideias do Director Geral. Por outro lado, há momentos que o canal nem parece pertencer ao FCPorto, não fossem os programas desportivos lembrar-nos... Instalou-se a apreensão na comunidade portista, misturada de melancolia e de revolta contida. Os adeptos começam a perder a esperança nos êxitos das modalidades - e do futebol em particular - em que o clube participa. Não há feedback do Presidente às preocupações da maioria dos portistas, que se porta como alguém distante dos associados e da realidade. Que se pode fazer? O que pensarão os sócios desta situação? Vão continuar, também eles, calados, à espera de um D. Sebastião, ou tencionam exigir a resposta a que têm direito?

Pessoalmente, confesso, começo a ficar decepcionado com a postura de Pinto da Costa, e quando assim é, surge a tendência para se pôr em causa muito daquilo em que acreditamos, incluindo nele próprio. É incompreensível esta aposta no obscuro, no passado, na ausência. Teremos ainda um Presidente, ou estará ele a testar a paciência dos portistas?

PS-São mais que muitos, os indícios de que as coisas já não são como antes no FCPorto da actualidade, e como a perda de liderança se repercute nas várias áreas de actividade do clube. É o caso (como escrevi anteriormente), do Porto Canal. Uma das falhas que venho observando, é a incapacidade de estar em cima do acontecimento, na hora, como ditam as regras básicas da informação dos tempos modernos. 

Outro dia, em vez de ser a estação do Porto a dar a notícia da transferência de Danilo para o Real Madrid ( até porque é  fonte privilegiada), o director do Porto Canal deixou para a concorrência lisboeta essa oportunidade... Como disse na altura, à mesma hora que tive conhecimento na SIC,e na TVI, o Porto Canal impingia-nos uma gravação do programa "Consultório" que passa em directo às 18H00... 

Hoje, foi através do JN, portanto, um dia depois, que soubemos do 43º.aniversário da Casa do Desporto onde se prestou tributo a Manuel Puga pai do médico do clube, Nelson Puga, e, note-se, com a presença do Director do Porto Canal. Curiosamente, ou talvez não, Pinto da Costa aproveitou o momento para evocar o homenageado como "um grande defensor dos interesses do Norte e do Porto  e de lutador contra o centralismo"... E não encontrou melhor pretexto para ironizar do que mandar umas bicadas a Rui Moreira, não simagino a que propósito. Se lá estivesse, talvez perguntasse a Júlio Magalhães o que pensava sobre o assunto, já que parece continuar mais preocupado em chamar ao canal gente de Lisboa, do que do Norte, e do Porto (isso sim, é provincianismo). A última figura a merecer uma entrevista ("importantíssima" para os nortenhos), foi o actor Fernando Mendes, o qual aliás foi recebido com honras de chefe de Estado. Aliás, o senhor Pinto da Costa devia era explicar por que é que fechou as portas do Porto Canal a Rui Moreira, ou se as abriu, que diga aos portuenses por que é que ele não as franqueou. 

Se é com estes exemplos de união que o Porto se quer afirmar, vamos longe, vamos.

Repensar as nossas possibilidades

Mariana Mortágua



Lembrei-me das entusiasmadas palavras do primeiro-ministro, que apregoava o novo e saudável modelo económico português, assente na justiça social, e livre do endividamento, a propósito de duas pequenas notícias que saíram a semana passada. A primeira, uma investigação do "Dinheiro Vivo", diz-nos que as empresas cotadas do PSI-20 distribuíram, no ano passado, mais de 1,8 mil milhões em dividendos, acima do valor de 2007. Ao mesmo tempo, nos últimos oito anos, aumentaram a dívida em 23%, para 37 mil milhões de euros.
Apesar da crise, dos despedimentos, dos prejuízos e da necessidade de investimento, as grandes empresas portuguesas estão a distribuir mais dinheiro aos acionistas do que faziam antes da entrada da troika no país, quando vivíamos "acima das nossas possibilidades".
A PT é, aliás, um belíssimo exemplo disto mesmo. Uma empresa que, há 20 anos, antes de António Guterres lhe ter aberto as portas às maravilhas do mundo privado, valia mais 75% do que vale hoje, depois de por lá ter passado o melhor CEO do Mundo. Entretanto deu mais de 11 mil milhões a ganhar em dividendos aos seus acionistas, embora a dívida se fosse acumulando. Não é a única.
A EDP, que cobra as astronómicas contas de eletricidade em Portugal, lucra cerca de mil milhões ao ano. Em 2014 distribuiu 67% desse valor em dividendos, quase nada ficou em Portugal. Ao mesmo tempo, o gigante elétrico apresenta uma dívida de 17.083 milhões de euros, cerca de 10% do PIB português.
Mas vamos à segunda notícia, outro exemplo de como a austeridade pode ser tão seletiva. A REN prepara-se para pagar aos seus administradores mais 26% em 2015, ao mesmo tempo que corta 2% nos custos totais com pessoal. Há que fazer escolhas, não é?
Já nos bons velhos tempos de 2013 a PT pagava à volta de 1 milhão a Zeinal Bava, mas isto foi, é claro, nos bons velhos tempos. Hoje a PT não se pode dar a estes luxos. Mas a EDP pode, e paga um valor semelhante a António Mexia. Na GALP o salário de CEO chega aos 1,7 milhões.
Salários milionários, dividendos impossíveis e dívida. Tem sido esta a fórmula da maior parte das grandes empresas portuguesas, na sua maioria privatizadas, a operar em lucrativos monopólios naturais. Era assim antes da troika, e continua a sê-lo depois.
A nova economia que Passos Coelho apregoa não passa da mesma velha e relha economia. Mudaram os donos e os CEO.
[do JN]                                                                                                                                                
Nota de RoP: 
É uma pena que os partidos à esquerda do PS (BE, PCP, PEV, etc.), não se determinem a constituir-se como alternativas de governo. Desta maneira, - e apesar dos fracassos históricos dos partidos do arco governativo -, acabam dando alguma "razão" a estes últimos,  quando os tratam como partidos menores, e demagôgos. É que, se há demagogia (e incompetência) provada e comprovada, é exactamente a dos partidos que têm "governado" o país. As aspas, dizem tudo.