09 maio, 2015

Ainda há homens do Norte, ou há apenas medo?



Desenganem-se os sulistas se pensam que a questão com que intitulei esta crónica lhes confere qualquer vantagem sobre os nortenhos. Não, não confere. Mas nem por isso afirmarei que o carácter dos homens se encontra nos pontos cardeais, ou na côr da pele. O que sei, e todos os nortenhos sabem, é que foi no Norte, e particularmente no Porto  que mais se lutou, morreu pela Liberdade e repeliu a tirania absolutista. 

Por ironia, o Porto tem como ícone, a  Liberdade, protagonizada pelo lisboeta mais portuense da história de Portugal, o rei D. Pedro IV, que disso fez prova quando decidiu doar ao Porto o próprio coração, após a sua morte. Esta, é a mais nobre, e quiçá a única recordação vinda de um lisboeta para com o povo do Porto que tenho na memória. Deverá certamente haver outras, mas com esta grandiosidade e com este peso histórico, não conheço.

Desde então, de Lisboa, o Porto e o norte em geral, só recebem ódio e desprezo. Isso, é mais do que notório na política, na sistemática obsessão pelo centralismo, quase  sempre acompanhado por um esvaziamento de protagonismo económico, social, e político. Se falarmos de futebol, então a coisa torna-se mais descarada, mais afrontosa, mais provocatória. E que fazem hoje os nortenhos para combater esta nova tirania? Nada! 

Há quem ache que as coisas não são bem assim, que isto são tudo complexos de inferioridade de um natural de uma segunda cidade por ciume da primeira, que tem de ser sempre a capital... Se tem de ser sempre a primeira, ou não, tenho as minhas dúvidas, mas aposto que nem sempre é a melhor, aqui, como em qualquer pais do Mundo. Depois fala-se, e acredita-se ao que parece, que vivemos numa democracia, mas ninguém ousa explicar - e há muita gente que podia fazê-lo -, se é natural viver-se num clima de medo e intimidação numa democracia.

A RTP, por exemplo, é uma empresa que pela sua grandeza e visibilidade reflecte bem esse clima de medo. Não é infelizmente a única. Todas as estações sediadas em Lisboa seguem a mesma cartilha. Os jornais, e as rádios, também. Mesmo as estações radiofónicas do Porto mais poderosas apregoam o centralismo. A cartilha é o centralismo, ou neo-colonialismo, se entenderem mais abrangente. E o medo deste século, não é propriamente gerado por pressões políticas, é vincadamente por gostos clubistas e o anti-portismo é quase uma causa. Basta estar um pouco atento e seguir com regularidade certos programas para se perceber que esse medo existe e não é tão inofensivo como pode parecer.

Sabemos que as estações lisboetas sem estúdios autónomos no Porto estão mais confortáveis e não precisam muito de reprimir, para fomentar as políticas que mais lhes interessam, mas na RTP do Porto só lá trabalha e pode progredir, quem souber anestesiar o seu portismo, ou quem se render (Hugo Gilberto) aos caprichos avermelhados de certos ditadorzitos, como um que dá pelo nome de Carlos Daniel... É ele quem controla o pessoal para os programas da bola, a que eles chamam graciosamente "debates". É ele quem escolhe a dedo o perfil dos representantes dos outros clubes, e se forem do FCPorto, só podem ser daqueles mansinhos, civilizados, controláveis...

Isto tudo, passa-se na RTP, num canal do Estado pago por todos nós. Como é possível estarmos também nós portistas, a contribuir para o sustento de um gajo reles como esse Carlos Daniel e de outros como ele?  Os próprios comentadores portistas de futebol têm medo de dizer o que pensam, porque sabem se o fizerem perdem logo a avença. E como o amor ao vil metal supera a coragem, toleram tudo... Como é possível que num estado de direito ainda nenhuma figura desse estado de direito tenha reparado nisso? 

Mas o medo, também está no Porto, no FCPorto, e no Porto Canal. O medo pela autocrítica, misturado de atracção parola pelos colunáveis de Lisboa, e uma abjecta subserviência ao centralismo. Ao contrário do que nos querem vender, o Porto Canal é o pior exemplo de autonomia informativa que podíamos ter. Não há ali uma ideia, uma sequência coerente de programação, uma ambição de qualidade, um projecto com pés e cabeça, exigente, inovador. Nada!

Preferia o FCPorto sem o Porto Canal, porque a verdade é que este "casamento" só trouxe ao clube mediocridade, desilusão e o silêncio do medo. Não era nada disto que esperava de um canal à Porto. A menos que o canal à Porto que se quer, seja o do FCPorto desta  silenciosa era de Pinto da Costa. E se é desse Porto que se fala, eu não compro, porque não gosto.

Mas há mais. Há também medo dentro do próprio FCPorto. Medo de perguntar ao Presidente o que se passou este ano para não contestar o que era contestável, em vez de se entreter a desviar a atenção dos adeptos para questões comezinhas. Há medo de lhe lembrar que o clube não lhe pertence, que não pode encolher os ombros às adversidades que nos colocam, dentro e fora das 4 linhas. Se anda tanta gente com medo, agora, que [insisto], nos asseguram vivermos em democracia, como foi possível a alguns [como eu], resistirem a uma ditadura?

Algo deverá estar mal contado, na porra da história deste indescritível país. E você, leitor, é um homem do Norte?
   

07 maio, 2015

Que FCPorto teremos na próxima temporada?


Espero bem não me enganar se disser que, a partir do momento que Pinto da Costa aceitou integrar o heterogéneo grupo do Conselho Editorial do JN, os portistas não terão mais razões para se preocuparem com as informações distorcidas no que ao FCPorto respeita. É respaldado nesta realidade que dou como credíveis as notícias que dão como certas as saídas de seis jogadores do plantel principal do FCPorto, a saber: Danilo (já contratado pelo Real Madrid), Casemiro, Óliver Torres, Jackson Martinez, Alex Sandro e Brahimi. A serem incorrectas estas notícias no seu conjunto, a ver vamos se Pinto da Costa as desmente, ou se vai também remeter-se ao silêncio...

Com o empréstimo obrigacionista (num total de 40 milhões de euros) ontem anunciado pelo administrador da SAD, Fernando Gomes, ficamos ainda sem saber qual vai ser a estratégia de aquisições para a próxima época. E era importante que isso fosse esclarecido para sabermos com o que podemos contar. 

Ficou provado que o método contratual dos empréstimos, tem mais inconvenientes que vantagens. Os jogadores com mais potencial, serão naturalmente devolvidos à procedência e dificilmente assumirão o espírito de jogador à Porto. Teremos de esperar muito da sorte, ou dela depender, para nestas condições acreditarmos na abundância de jogadores com o carácter de Casemiro, por exemplo. Por outro lado, fazemos rodar e crescer esses jogadores, dando-lhes visibilidade, que estariam certamente na sombra dos titulares nos clubes de origem, sem com isso retirarmos grandes dividendos. Depois, conviria redefinir a ideia do jogador à Porto de que tantas vezes se fala. Quaresma, é um jogador talentoso mas gosta mais de si próprio que do FCPorto, e só joga quando lhe apetece. Por mais beijos que dê no emblema, não será com essas manifestações que convence os adeptos mais exigentes que é um jogador à Porto. A sua irreverência roça muitas vezes a indisciplina e transmite maus exemplos aos restantes jogadores. A aposta em dar-lhe a braçadeira pode ter sido bem intencionada, mas foi ingénua, porque não é aos 31 anos que Quaresma vai alterar a sua personalidade, como aliás se comprova. 

Uma época pouco azul e branca, a do FCPorto desta época. A bipolaridade já não é de agora, começou por alturas em que Victor Pereira era treinador, acentuou-se com Paulo Fonseca e continuou com Julen Lopetegui, que mesmo assim conseguiu fazer uma carreira louvável na Champions League podendo ainda, com muita sorte é certo, ser campeão, mas arriscando-se a não ganhar nada.

Não sei se tudo isto está a ser devidamente estudado pela direcção portista, nem faço ideia se  Pinto da Costa percebe a sua quota parte de responsabilidade nos insucessos do clube que, significativamente, se estendeu a quase todas as modalidades e escalões. O que sei, é que, se o FCPorto pretende regressar às victórias para a próxima temporada vai ter de dar uma volta de 180º em vários aspectos. No modelo de contratações, da comunicação, dentro e fora do clube, e sobretudo na forma de defender os seus interesses, quer junto das instituições desportivas (Liga e Federação), quer com a comunicação social centralista. Para isso, dispõe de uma ferramenta preciosa, um canal de televisão de que a maioria dos clubes não pode usufruir.

Uma coisa vos garanto: Pinto da Costa, vai mesmo ter de falar seriamente aos adeptos. Nos êxitos, desculpam-se falhas, nas derrotas, nunca! Desviar as atenções do futebol para guerrinhas de alecrim e manjerona com portuenses/portistas como Rui Moreira e emudecer com os desmandos proveitosos dos seus adversários,  é visar o pássaro errado, e perder pontos...     


05 maio, 2015

Rui Moreira acusa Governo de investir em Lisboa e "deixar côdeas" para resto do país



"Todos os recursos disponíveis do país vão sendo canalizados para uma única região. Depois sobram côdeas. A região está confrontada com isto. Mas vamos ter eleições. Os fundos comunitários vão ser usados para coisas mais ou menos isotéricas. Está na altura de a população perceber o que está em causa e questionar os partidos sobre o resto do país", frisou o autarca independente.
Rui Moreira abordou a questão a propósito da falta de financiamento do Estado para suportar os custos da segunda fase do metro do Porto, suspensa desde 2011, mas admitiu ter dificuldades em restringir o assunto ao transporte público porque "o projeto de desenvolvimento do país tem tido como foco uma única região".
"As pessoas deviam questionar os partidos sobre se, algum dia, vão ter de desligar a luz e ir viver para a única região que recebe investimento", ironizou.
Para Rui Moreira, é por este motivo que "o país não consegue sair da cepa torta".
O presidente da Câmara do Porto criticou o Governo por incluir nas grandes opções de investimento o terminal de contentores do Barreiro, considerando que se trata de uma obra "absolutamente desnecessária" e a "repetição do aeroporto da Ota [projeto de localização de um novo aeroporto em Lisboa que não chegou a avançar]".
"Este porto no Barreiro [terminal de contentores] é uma forma de justificar uma terceira travessia [em Lisboa], a reabilitação da zona ribeirinha de Lisboa, ou seja, uma segunda Expo, e um novo aeroporto na margem sul [do rio Tejo]", afirmou Rui Moreira.

Sem comentários II...

O estranho exemplo de Passos Coelho



































































































































05.05.2015
MARIANA MORTÁGUA

Passos Coelho escolheu a inauguração de uma queijaria para marcar o Dia do Trabalhador. Aí, elogiou de forma muito decidida não o esforço dos trabalhadores, mas o dos empresários. Corrijo, elogiou "de uma forma muito amiga e especial" um empresário em concreto. Diz o primeiro-ministro que a história deste "empresário bem-sucedido" é um exemplo para todos quantos "sabem que, se queremos vencer na vida, chegar longe, ter uma economia desenvolvida e pujante, temos de ser exigentes e metódicos". Um empresário que "viu muitas coisas por esse Mundo fora", e que nos dá lições importantes ao mostrar que "os ricos não são ricos a esbanjar dinheiro".
Mas quem é, então, esta conjugação de Steve Jobs com Henry Ford? Dias Loureiro. Compreendo o seu espanto, pois também foi o meu quando vi as imagens, mas é esse mesmo Dias Loureiro. O do BPN que nos custou mais de 5000 milhões de euros. O homem que "viu muitas coisas no Mundo", de Porto Rico a Marrocos, onde arranjou uns negócios ruinosos (estou a ser simpática na definição...) que acabaram todos a ser pagos pelos contribuintes. O "metódico" Dias Loureiro que garantiu, na comissão de inquérito ao BPN, que não conhecia um fundo usado pelo BPN nos seus esquemas financeiros, mas que se mostrou dias depois ter assinado vários documentos desse fundo. A mentira, recorde-se, foi um dos motivos que o levou a renunciar do Conselho de Estado, para o qual tinha sido nomeado por Cavaco Silva.
As conclusões do relatório dessa comissão parlamentar, aliás, não deixam muitas margens para dúvidas sobre o modelo de negócio e "exigência" deste "empresário bem-sucedido". O seu nome e o de Oliveira e Costa são os únicos nomeados para explicar como foi montado o "banco laranja". "O Grupo desenvolveu-se rapidamente mercê da colaboração objectiva de várias pessoas influentes, em virtude do exercício de altos cargos públicos, designadamente, o Dr. Dias Loureiro e o próprio Dr. Oliveira e Costa, bem como alguns acionistas".
Sobre Dias Loureiro não há muito mais a dizer, mas as palavras escolhidas por Passos Coelho, na verdade, dizem-nos mais sobre a forma como o primeiro-ministro vê o Mundo, e a relação entre política e negócios, do que sobre um dos responsáveis pelo caso de polícia que foi o BPN. Esperava-se que um empresário com as características elencadas por Passos fosse alguém que tivesse criado empregos bem pagos e desenvolvido a economia do país, não alguém que, à sombra de Oliveira e Costa, ajudou a montar uma espécie de Tecnoforma gigante. Ou então é isso, é mesmo este modelo de vida, negócio e "vencer na vida" que Passos conhece e admira.

(do JN)

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10 milhões de Dias Loureiros

Com 10 milhões de Dias Loureiros a “empreender” e 10 EDPs teríamos de ter vinte vezes o PIB da Noruega para saquear
Texto de João Camargo • (Público)

Sabemos, finalmente, o que Passos Coelho quer de Portugal. Depois de anos em que nos incitou abstractamente a sairmos da zona de conforto, a sermos empreendedores, a não nos queixarmos da má sorte que a vida nos deu por ter calhado vivermos nas grandes depressões e recessões económicas, finalmente indicou um modelo a seguir: Dias Loureiro.

Em Aguiar da Beira, o primeiro-ministro descobriu, escondido entre o público da Queijaria Sabores do Dão, para assistir ao seu discurso, Dias Loureiro. Para quem não sabia de Loureiro desde que ele desapareceu para Cabo Verde enquanto era investigado por causa do BPN, ei-lo ressurgido. Ressurgido e tornado novo ideal. Passos olhou Loureiro e encontrou um espelho da medida de empreendedorismo que deseja para o país. Dizendo de Loureiro que “conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos”, o primeiro destacou as capacidades impressionantes do ex-ministro do PSD.

Começando pela mobilidade, é evidente a mobilidade internacional de Dias Loureiro, destacada aquando da sua magnífica fuga para longe de qualquer tribunal português enquanto se julgava o caso BPN, mas também enquanto tratava dos negócios da SLN no exterior, em Porto Rico e em Marrocos. É ainda relevante a sua mobilidade interna, social e económica.

Diz que quando saiu da política “não tinha dinheiro nenhum” e poucos anos mais tarde declarava no IRS anual mais de 200 mil contos (1 milhão de euros). Enquanto Ministro da Administração Interna de Cavaco Silva, mandou carregar sobre os manifestantes no buzinão da Ponte 25 de Abril, que protestavam contra o aumento das portagens para financiar a construção da segunda ponte, também da Lusoponte, de outro empreendedor e ex-ministro do PSD, Ferreira do Amaral. O seu sucessor na Administração Interna foi Jorge Coelho, com quem Loureiro jogava à bola, e que saíria, anos mais tarde, para liderar a Mota-Engil. Novos exemplos de mobilidade.

Dias Loureiro venceu amplamente na vida, saiu de Aguiar da Beira para o mundo, montou um percurso declareza e transparência, e nem ter sido arguido do maior "roubo" alguma vez feito num banco em Portugal ou ter mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o BPN podem apagar os seus feitos. Enquanto ministro exigia às secretas relatórios ilegais de líderes políticos e sociais, perseguia sindicalistas e colocava os seus conhecidos em posições-chave. Depois, foi esperar: jogava golfe, conseguia a adjudicação da rede de vigilância do SIS à SLN, dava-se com traficantes de armas, emocionava-se com o "Menino de Oiro" (biografia de Sócrates), e geria SLN e BPN sem saber nada das tropelias que por lá se passavam. Passos Coelho também acha que o modelo de empresa a seguir é o de uma empresa privada que vive à conta de subsídios públicos e que aumenta os preços dos seus serviços enquanto distribuiu milionários lucros pelos accionistas, liderada por um ex-ministro do PSD. Isso foi apenas dois dias antes de Loureiro, quando Passos Coelho disse aquele que é o “exemplo para as outras empresas”: a EDP.

Só há um problema com as recomendações: com 10 milhões de Dias Loureiros a “empreender” e 10 EDPs teríamos de ter vinte vezes o PIB da Noruega para saquear