06 outubro, 2016

Não sejamos mais papistas que o Papa

Espero, e desejo, que as minhas previsões venham brevemente a revelar-se infundadas, porque será sinal que algo de muito positivo terá mudado no Porto Canal. Continuo convencido que não há, nem nunca houve, um projecto devidamente elaborado que visasse priveligiar os interesses dos portuenses e dos nortenhos, quer em termos regionais, como nacionais. 

Estou-me a repetir, mas a opção pelo modelo generalista/desportivo, pareceu-me em princípio a mais adequada, porque confiei na idoneidade das partes envolvidas, na objectividade, e na necessidade de fazer diferente do que se faz em Lisboa, em multiplos canais. Sendo o modelo escolhido algo complexo, pela sua natureza miscigenada, só vingará se alicerçado num projecto muito bem arquitectado que pondere os prós e os contras do negócio, mas sem nunca abdicar da raiz regional.  

Por isso alimentei a ideia de termos um canal assumidamente regional, com o mesmo à vontade com que os canais de Lisboa praticam (sem o assumir) o centralismo, e não vejo nisso nada que nos possa envergonhar, bem pelo contrário. Se há quem deva envergonhar-se - porque andam há 42 anos nisto - são todos aqueles (políticos e eleitores) que contribuiram para transformar o 25 de Abril no maior pesadelo anti-democrático da história nacional pós Estado Novo. 

O óbice deste dilema,  é que o  patrão do Porto Canal é o FCPorto cujo presidente parece ter-se esquecido do passado  e dos problemas pessoais que esse centralismo lhe trouxe, e por inerência, ao clube. Só isso, justificaria da sua parte uma atitude mais ousada, mais transparente e participativa com os portuenses. Ninguém compreende que um homem que andou tanto tempo a queixar-se, e com razão, do centralismo, seja incapaz de usar um canal de televisão, que é propriedade do clube, para lutar contra ele. Não pode ser Júlio Magalhães nem Manuel Tavares a decidirem a política editorial do Porto Canal, até porque ambos já deram provas de não terem perfil para lutar contra a longa maré centralista, tem de ser o líder do FCPorto. Não o fazendo, está a dar provas que teme alguma coisa e que afinal não é o homem resiliente que pensávamos.

Pela minha parte, nunca proporia nada que nos envergonhasse, que imitasse os modelos vulgares e seguidistas dos canais desportivos da capital. Proporia, isso sim, que se denunciasse a perfídia, a vigarice que tantos prejuízos continuam a custar ao FCPorto. Não queremos, nem precisamos, de imitar os medíocres, queremos e devemos, arrancar-lhes a máscara até que quem de direito perca a vergonha e intervenha para os colocar no devido lugar.  Não temos nada a perder, somos cidadãos do mesmo país, somos portugueses.  

De resto, com pessoal empreendedor, criativo, alérgico a Big Brothers e quejandos, é perfeitamente possível tornar o Porto Canal num canal diferente, desde que se inspire na seriedade, na qualidade e na originalidade dos temas e da progranmação, quer para informar, como para recrear. Há um mundo de coisas novas por fazer, haja vontade, haja quem pense seriamente nisso. Copiar, não é a melhor solução, é apenas a mais fácil. Mas, até para copiar é preciso saber. 

Os espectadores menos exigentes podem levar tempo para admirar o que lhes parece menos popular, mas uma vez compreendida a diferença, saberão muito bem separar o que é relevante, do lixo.

O caminho que o Porto Canal apontou como percurso é muito difuso, contradidório e perigoso. Se a componente "generalista" implica fazer igual ao que já há, e se não forem atempadamente criadas certas condicionantes informativas de forma a evitar a colisão com a "desportiva" do FCPorto, podemos correr o risco de subitamente vermos o Porto Canal a promover as equipas rivais de Lisboa... Esses conteúdos desportivos devem reduzir-se ao mínimo, a informações telegráficas. 

Se cometerem a ingenuidade de dar corda demais à informação desportiva, um dia destes damos com o Porto Canal a tornar-se mais um holofote para os clubes do centralismo. Ora, palcos têm eles de sobra, sobretudo os vermelhos. Enquanto dão palco a quem já o tem por excesso, outros (os nortenhos) perderão o lugar que lhes pertence. 

Nâo sejamos burros, não sejamos mais papistas que o Papa.    

    

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