18 março, 2016

A Assembleia do FCPorto só serviu para serenar os ânimos?

Por aquilo que me foi dado ler sobre o assunto, a resposta é: sim! Ah,  que a UNICER fez um excelente contrato com o FCPorto, e pouco mais.

Gostava de ter a confiança que alguns portistas ainda têm nas promessas de Pinto da Costa. Palavra que os invejo. Mas, nem por isso ficarei chateado se daqui a uns tempos forem eles a ter razão, e eu a dar a mão à palmatória, por já não acreditar nas performances do presidente portista. Como gostava que tivessem razão!

Não é por pessimismo que duvido numa volta administrativa de 180º no FCPorto, é por Pinto da Costa não ter aproveitado (mais uma vez) a Assembleia, para dizer aos adeptos presentes o que tenciona fazer de diferente para o ano, em relação ao que não fez na época em curso. A verdade é que, dos presentes na Assembleia, não apareceu ninguém a apontar nada de objectivo passível de fundamentar a retoma da confiança em Pinto da Costa. Mesmo sabendo que o segredo é a alma do negócio, não vislumbro ponta por onde se possa pegar no seu discurso vago e acanhado, como aliás vem sendo habitual há uns anos a esta parte.  Sinceramente, cada vez que o vejo falar sinto-o invulgarmente inseguro, e desorientado.

Objectivamente, com tanta manta retalhada em termos de coesão e entusiasmo, e com os cofres da Champions mais vazios, não sei que raio de reestruturação será possível fazer sem corrermos o risco de perder competitividade. Com jogadores desvalorizados pela péssima prestação individual e colectiva de toda uma época, também duvido na realização de grandes negócios.

Quando me esforço por acompanhar aqueles que, apesar dos factos, ainda acreditam em coisas como "comer a relva"  e "jogar à Porto", para ultrapassar os obstáculos que restam, que aliás sempre entendi muito bem, se acompanhadas do inevitável entrosamento entre jogadores, da rectaguarda ao meio campo,  a acabar na linha avançada, fico baralhado, porque não imagino esta equipa a promover um ataque com princípio meio e fim, ou seja, sem abrir espaços enormes no seu ponto mais frágil: a defesa. Não vejo ratice, nem rapidez de execução, num Brahimi (por exemplo) para explorar as fífias dos adversários, porque sempre que tem oportunidades dessas, esbanja-as. Não vejo serenidade bastante para que a qualidade dos passes se torne constante. Frente à baliza, vejo o vício de deixar ao companheiro do lado, ou mais adiantado, a responsabilidade de rematar. Um passar de testemunho medroso. Vejo um desperdício de tempo, um cerimonial irritante, uma lentidão chocante para chutar para o golo. E vejo uma coisa que não devia ver, que é essa mania de colocar as mãos na cabeça por falhar o golo. Não consigo perceber por que é que não houve ninguém que fosse capaz de dizer aos jogadores para se deixarem dessas fitas, porque isso só prova o baixo índice de confiança que os domina na hora de "matar o jogo". Ver imagens dessas,  não é nada animador, nem para os espectadores... 

Não será por acaso que as victórias do FCPorto agora são sempre muito sofridas. Há mais ansiedade que criatividade e auto-controle, há muita vontade de fazer depressa as coisas, e quando assim é, as coisas saem mal.


O Porto de D. Pedro IV e D. Miguel

“O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada” (Alexandre Herculano).

Tenho em mãos uma obra que faz, no presente, 80 anos que foi publicada e que me foi oferecida há pouco tempo pelo meu amado pai (nascido um ano antes). Trata-se de «D. Pedro IV e D. Miguel I. 1826 – 1834», da autoria de Carlos de Passos (da Academia de la Historia de Madrid), com 423 páginas, sob chancela da Livraria Simões Lopes (situada na rua do Almada, 119). Daqui parto para esta crónica, perante uma relíquia/raridade com todos esses pedaços históricos, reais e liberais, do Porto e de Portugal.
Logo no frontispício do livro aparece o que o autor denomina de seu ‘ex-libris’: um brasão régio da época miguelista. Na sua introdução, o autor refere que – neste processo – ravinhosa e brutamente “se arraigaram os ódios contra D. Miguel, que não se vacilou em praticar, além do mais, a ignomínia de proscrever, de eliminar, da dynastia brigantina não só o seu nome como os factos do seu reinado, tolazmente incorporados no de D. Pedro IV”. D. Miguel que, segundo Oliveira Martins, foi o último rei amado e compreendido pelo povo.
Com o falecimento do rei D. João VI há precisamente 190 anos – em 10/03/1826 –, gerou-se um tempo “virulento” e “árdego”, com 30 anos “de intrigas e vis ambições, de corrupção e dissipação”. Deste modo, surge a veemência atuante do Sinédrio do Porto e, na sua voz, a defesa implantadora e abarrotada da democracia e do liberalismo, apesar do conservadorismo da assembleia nacional. Incidia nesse Portugal o “choque das ideologias constitucional e absolutista”, pondo-se em causa o patriotismo nacional, que tipo de espírito patriótico. Note-se que, tal como nesse período da revolução liberal, em 1910 o que interessava era o princípio do poder e não a forma do governo. Ao que Fernando Pessoa comentou que tal constitucionalismo derivou numa ampla “desnacionalização das esferas superiores da nação”.
Sobre a História desses anos da segunda e da terceira décadas do séc. XIX – com enorme debruço e pormenor neste livro – não vou aqui relatar, pois é apresentada e sobejamente conhecida e inscrita noutras tantas publicações. Mas apraz-me salientar o que é escrito sobre a magnitude e magnificência do Porto, do nosso sempre querido Porto – naquele tempo através do cerco portuense, onde “magnos sacrifícios praticou D. Pedro” e onde Mouzinho da Silveira se demitiu desiludido e já “farto de intrigas”. E a obra descreve, com delícia, o que se passou com o juramento à Carta Constitucional decretada por D. Pedro IV (em abril de 1826), do seguinte modo: “No Porto, de manhã, retumbou uma salva de artilharia; apoz o juramento, feito na Camara Municipal, solemne ‘Te-Deum’ encheu a Sé e vistosa parada, o campo da Regeneração. Ao longo das ruas embandeiradas, Saldanha, à frente das tropas, foi aclamado como heroi da liberdade e coberto com flôres, lançadas entusiasticamente das janelas. De noite a cidade fulgurava com as iluminações e a rua das Flôres vibrou com harmónicas serenatas. No teatro de S. João houve récita de gala e quando Saldanha, no camarote real, ao público exibiu o retrato de D. Pedro na sala reboou delirante júbilo com vivas à Carta, ao Dador, à rainha e a Saldanha”. Quanto a D. Miguel, tinha emigrado.
Mais tarde, é certo que a Invicta, mal-aventuradamente, viveu e sofreu horas negras com o bombardeio permanente das tropas miguelistas, tal como é descrito: “Os canhões troavam de noite e dia e a metralha, aos montões, incendiava, matava e aterrorisava”. Mas, mais certo é, que a cidade e seus tripeiros cidadãos sempre souberam levantar-se e deleitar-se com o manjar saboroso da vitória e das tripas, bem à moda do Porto. Depois de nove horas de intenso e violento combate no cerco portuense e terminado o mesmo (que custou a D. Miguel uma baixa em mais de 4.000 dos seus homens), eis as palavras de D. Pedro antes de partir para a capital do país, com a boa-nova da sua conquista:
“Amigos portuenses! A Divina Providência, que nos tem sempre protegido, dignou-se permitir que a divisão expedicionária… entrasse em Lisboa… aqueles portuguezes, que ali acabam de quebrar os ferros que os oprimiam, são portuguezes perseguidos, como vós o fostes. Elles reclamam a minha presença… Bem tendes visto… que enquanto esta cidade poderia correr o menor perigo, nunca vos desamparei; agora, obedeço… à necessidade de deixar-vos por algum tempo, levando commigo a saudade mais pungente de vós e dos meus companheiros de armas… Asseguro-vos, ilustres portuenses, que em breve hão-de acabar os vossos sofrimentos, que as minhas promessas serão religiosamente cumpridas e que a Carta… terá em breve a devida execução…”.
Tal como eram essa confiança e esperança no passado, sustentadas pelo insigne povo portuense, agora se mantêm e rejuvenescem consertadas no tempo presente, numa mesma esperança e confiança de futuro, porque o “Porto é futuro” e “é berço da democracia e da liberdade”, como tão bem e justamente soube reconhecer – nestes dias – o nosso estimado, afetuoso e novel presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aquando da sua primeira visita fora de Lisboa, deslocando-se concretamente à zona do Cerco do Porto. Bastante simbólica e profética esta sua calorosa visita, não só para a cidade Invicta como também para o seu exercício presidencial!
Retomando ainda o Porto antigo, embora sempre novo e melhor, e na oportunidade de mais uma publicação remota sobre o Porto – também me ofertada pelo meu prezado pai, a par de um vasto espólio da distinta revista «O Tripeiro» –, recordo aqui, com apreço, o registo feito e dedicado à Invicta na edição conjunta de setembro-outubro de 1957 (n.s 17-18) do boletim mensal ilustrado do então Secretariado Nacional da Informação, «Portugal pela imagem». A começar pela capa, com uma foto aérea sobre a Ponte D. Luís, a ribeira do Porto, a catedral e o paço episcopal, no seu alto. No seu interior ao longo de 12 pp., com tradução integral nas línguas francesa e inglesa, escrevia assim o boletim: “Os seus habitantes, que orgulhosamente se designam «tripeiros» por terem comido tripas durante um cerco à cidade, são ciosos das suas prerrogativas municipais e liberais, empreendedores e sérios, – o que faz da cidade do Porto uma praça comercial muito conceituada. (…) O Porto tem desempenhado e desempenha um importante papel na vida portuguesa. A sua Universidade, as suas escolas, liceus, associações culturais e de escritores, os seus jornalistas, romancistas e pensadores, têm contribuído decisivamente para o enriquecimento da Cultura e para o prestígio da capital do Norte do País. Os seus monumentos são também de grande valor”.
Felizmente, assim como no passado, a atualidade reveste-se deste sentido de divulgar a nossa charmosa e invulgar cidade do Porto – o que tem de tão bela e bonita, de bem e de bom –, através de afamadas revistas e jornais internacionais. Como são os casos (mais e menos) recentes de: “The New York Times”, “The Telegraph”, “The Independent”, “The Guardian”, “The Sun”, “El País”, “Le Fígaro”, “Folha de S. Paulo”, “Time”, “National Geographic”, “Vogue”, “Swiss Magazine”, “Dezeen”, “Port.com”, “Häuser”, entre outros mais.
[André Rubim Rangel/Porto24]

Lá, como cá. Não é nada com eles

16 março, 2016

Guerra de Rui Moreira com a TAP deu um livro

O conflito aberto entre o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e a TAP vai ser explicado, sob o ponto de vista do autarca, num livro que será lançado na próxima semana. Recuando aos tempos em que Moreira ainda era líder da Associação Comercial do Porto, a obra, lançada pela editora Almedina, promete muitas revelações.
Estarão lá os "bastidores" das muitas batalhas travadas, primeiro contra a privatização da ANA e, mais recentemente, contra a estratégia seguida pela TAP no Porto. Mas há mais, garantem os autores, anunciando que nas 250 páginas escritas por Rui Moreira e o seu adjunto, Nuno Nogueira Santos, há muitos dados sobre a actividade da TAP e da sua operação no Brasil, além de "pormenores desconhecidos acerca da vinda da Ryanair para Portugal, jantares secretos e cartas a vários primeiro-ministros".
TAP - Caixa Negra é prefaciado pelo antigo ministro Luís Valente de Oliveira e tem o lançamento marcado para a próxima terça-feira, dia 22.
(Público)

14 março, 2016

A importância da memória


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Isto não são fotos de um filme qualquer. Foi obra real de um louco,
com a cumplicidade de um povo hoje muito respeitável... 
Ponto prévio:  não tenho qualquer vínculo   político - partidário,   e provavelmente nunca virei a ter. A razão é sempre a mesma: como já aqui referi frequentemente, perdi a confiança  nos  partidos   que têm governado o nosso país, e também nos  partidos   da   oposição,    por diferentes razões. 

De todos, ideologicamente, é sem dúvida, o Partido Comunista português o mais íntegro e pragmático. Os seus militantes, são para mim, os mais disciplinados do universo político nacional. Acontece que, o comunismo que defendem dificilmente terá condições para se impôr de forma natural, na mentalidade da maioria dos portugueses, e mesmo na mentalidade da maioria dos países europeus. Pelo menos, por agora. 

Por paradoxal que pareça, não creio que os visíveis sinais de desmoronamento da União Europeia, nem o crescente nível de desemprego, sejam suficientes para atrair os europeus  para o tradicional modelo comunista. A poderosa máquina de propaganda das sociedades de consumo tratou, e vai continar a tratar, de formatar a mentalidade dos europeus para um estilo de vida de luxos e prazeres, a que só uns poucos têm acesso, com tudo de imoral e injusto que a ilusão comporta. 

Talvez tenha sido essa  improvabilidade aparente, sustentada na realidade europeia, que inspirou ideologicamente o nascimento de partidos como o Bloco de Esquerda, e que explica a sua progressiva subida nas últimas eleições. O eleitorado mais esclarecido e popular, sente-se dividido entre optar por um partido austero, mas sério, como o PC, mas sem grandes hipóteses para governar sem convulsões (internas e externas), e confiar num Bloco de Esquerda, mais arejado, mais consumista, mas com as vulnerabilidades dos chamados partidos do arco da governação. 

Pela parte que me toca, enquanto potencial eleitor, a única maneira de me convencerem - e aqui refiro-me ao BE e à hipótes de conquistarem o meu voto -, é darem-me aquilo que exijo a qualquer outro partido: garantias. Uma vez que parecem também não ter percebido a importância deste factor, é porque ainda não descobriram a real causa das abstenções, ou então, porque não confiam nas suas capacidades.

De todo o modo, nunca serão partidos inspirados em filosofias economicistas - onde os números contam mais para um grupo muito restrito de pessoas, que as de toda uma população, que resolverão a situação dramática por que está passar a Europa e o Mundo.

Nunca nos devemos esquecer o que se passou na União Soviética comunista, nem "dos" Arquipélagos de Gulag, de Alexandre Soljenitsine.  Mas é também recomendável olhar para o que está a acontecer na Alemanha de Merkel, onde o partido da extrema direita (AfD) está a  ganhar terrenoassustadoramente.  A este propósito, cito as palavras de Niklas Frank, filho de Hans Frank, ex-governador da Polónia ocupada, nomeado por Hitler, em entrevista à Notícias Magazine:
  • Que opinião tem sobre Angela Merkel?
- Houve um momento em que senti vergonha por ela ser a chanceler alemã. Quando a economia colapsou na Grécia, nós comportámo-nos como nos velhos tempos do III Reich, como se fossemos melhores que os outros. Uma das principais figuras da CDU chegou a dizer esta frase inacreditável: «Agora a Europa fala alemão». Não consigo entender o que este indivíduo tem dentro do cérebro.
  • Mas suponho que lhe tenha agradado a posição de Merkel na questão dos refugiados.
- Com certeza que sim. Mas agora vamos ter 3 eleições regionais. Se o AfD - partido da direita -tiver perto de 20% dos votos estou convencido que a Alemanha irá acabar por fechar as fronteiras. E aqueles que querem fechar as fronteiras são pessoas da classe média e com formação. São os mesmos que fizeram que Hitler fosse possível. 
  • Lembra-se de sentir culpa?
- Sim, mas hoje não sinto.A raiva e a fúria são reacções muito mais saudáveis do que a culpa. Quando dou palestras em escolas digo sempre: «Todos nós somos inocentes, mas também somos alemães. Peço-vos por isso, que reconheçamos os crimes que foram cometidos pelo povo alemão». Isto é algo que ainda hoje os alemães não aceitam. As pessoas não querem discutir o que se passou, mas seria muito melhor se todos reconhecêssemos os crimes que cometemos. Temos sido cobardes nesse aspecto. No fnal das sessões de leitura dos meus livros aponto para o auditório e digo: «Amo a Alemanha, mas não confio nos alemães». E a prova de que tenho razão está aí, nas manifestações de violência contra os refugiados.

A extrema-direita dificilmente se distancia da sua natural zona de conforto. Quando progride, raramente é para se esquerdizar. Na sua génese, o povo conta pouco. Para a direita, o poder, como o dinheiro, estão predestinados para as mãos de certas "elites". Se não forem travados a tempo, chegam a um ponto que já não conseguem distinguir uma taça de champanhe de um tiro na cabeça de um judeu.

Não acredito na constância da moderação ideológica da direita.

PS-Peço desculpa aos leitores. De repente, vejam só, esqueci-me que perdemos a soberania e que quem manda no nosso destino não somos nós, são outros. Que gafe a minha, esqueci-me! Que querem, agora não vale a pena voltar a trás. Pode ser que um milagre nos traga a liberdade e recuperemos o direito a decidir por nós ...


13 março, 2016

Um japonês vestido de gato ou o que o Porto está a ensinar a Tóquio

Há três anos que uma casa de espectáculos de Tóquio anda a aprender com a Casa da Música, do Porto, a criar um serviço educativo na instituição. Esta semana houve mais uma visita a Portugal.
(Patrícia Carvalho/Público)
São 111 miúdos numa sala, os formadores, alguns curiosos a apreciar os ensaios e quatro japoneses muito atentos a tudo o que acontece, durante mais uma actividade do Serviço Educativo da Casa da Música, no Porto. Os miúdos, alunos de três escolas do país, batem com as mãos no peito, castigam o chão com um pé e cantam. E quando cantam, Akiko Watanabe, balança-se, bate palmas, entusiasma-se. Ela não é uma mera espectadora. Akiko, como os seus colegas, está a aprender. Um dia, lá no Japão, há-de haver um serviço educativo feito à semelhança deste, com as devidas adaptações. E ela faz parte desse caminho.
Não é bem uma ponte aérea, mas desde 2013 que há gente a circular com regularidade entre a Casa da Música, no Porto, e a Tokyo Bunka Kaikan, na capital japonesa. De cá seguem formadores que vão ajudar a desenvolver o serviço educativo da casa de concertos japonesa, de lá vêm “os melhores” formandos, para sentirem e verem como tudo acontece na Casa da Música. Desde o início da colaboração entre as duas instituições que nove escolhidos já cruzaram a distância entre o Extremo Oriente e o Porto. Agora, chegou a vez de Akiko Watanabe, soprano, Nobutaka Yoshizawa, tocador de koto (uma espécie de cítara japonesa) e Yukako Takata, pianista, rumarem ao Porto, acompanhados de Chizu Fukui, a responsável pelo desenvolvimento do serviço educativo da Tokyo Bunka Kaikan e por todo este intercâmbio estar a acontecer.
Chizu Fukui, antiga pianista, é a única dos quatro que fala inglês, e passa parte do tempo a servir de intérprete. Viveu em Itália durante alguns anos, investigando a educação musical em serviços públicos, e acabou por se deparar com a experiência da Casa da Música numa conferência em Berlim, Alemanha, desenvolvida pela RESEO, a rede europeia para a educação de ópera e dança de que a instituição do Porto faz parte e em que a japonesa participou de forma independente. “Disseram-me que a última conferência, organizada pela Casa da Música, tinha sido maravilhosa e que tinham ficado todos muito emocionados. Eu ia regressar ao Japão e ainda não sabia o que ia fazer, mas perguntei ao Jorge Prendas se podia vir cá, ver o trabalho que faziam”, diz. O director do serviço educativo “disse logo que gostava de colaborar”, relembra Chizu Fukui.
Quando, em Abril de 2011 regressou definitivamente ao Japão e começou a trabalhar com a casa de concertos de Tóquio, as sementes estavam lançadas. Em 2013, as viagens Porto-Tóquio-Porto começaram. “Tem sido um enorme privilégio e honra sermos reconhecidos por uma instituição como a Tokyo Bunka Kaikan”, diz Jorge Prendas, que já esteve seis vezes no Japão e se prepara para regressar, com a equipa de formadores, em Julho deste ano. “O grande desafio é conseguir adaptar o nosso modelo ao que é a realidade cultural e a mentalidade japonesas. Não poderíamos pura e simplesmente copiar o modelo português, não é essa a nossa perspectiva”, diz.
Chizu Fukui explica que foi exactamente essa ideia que Jorge Prendas lhe transmitiu, quando lhe disse que poderia continuar a ir ao Japão desenvolver workshops, mas que isso não iria fazer crescer raízes. Que o mais importante era ter japoneses a fazê-lo. A Casa da Música podia ensiná-los, mas depois o trabalho teria sempre de continuar em casa.
É isso que tem sido feito. Devagar, com a implementação, em Tóquio, do projecto Outreach, que é, para já, a face visível do serviço educativo japonês e que tem já envolvido algumas escolas da cidade. Nobutaka, Yukako e Akiko descrevem, com facilidade, o que mais os marcou no intercâmbio com os portugueses e riem-se quando descrevem experiências que não lhes passariam pela cabeça, se não tivesse existido o contacto com a equipa da Casa da Música.
Como mascararem-se de animais num workshop para crianças. Nobutaka ri-se abertamente enquanto descreve como actuou “com um fato de gato” para um grupo de crianças. A Casa da Música desafiou o grupo a desenvolver uma actividade para apresentarem na visita ao Porto. O resultado foi Nyao nyao chu chu, o equivalente a “miau miau” e seja qual for o ruído que um rato fará. Nobutaka vestiu-se de gato, Yukako, ao piano, de rato. Aprenderam algumas expressões em português, que agora repetem sem grande dificuldade – “bom dia”, “como te chamas”, “vamos cantar juntos”, “vamos semear”, “vamos ao circo” – e entraram num mundo novo. Nobutaka garante que quer levar este gato português até ao Japão, para ver como corre.

Os sinais de saturação começam a aparecer... E, ainda bem!