12 agosto, 2016

Vamos lá cambada! Os próximos jogos são todos para ganhar



Nuno Espírito Santo começou bem. Ainda estamos no início da temporada e tal como noutras, é muito cedo para retirarmos grandes conclusões.

Há no entanto aspectos que gostaria de ver resolvidos, como a definição do passe, as desmarcações ofensivas, e sobretudo uma maior concentração na recepção e controle da bola. Danilo (e também Herrera), talvez por ainda estar desgastado com os jogos da selecção, pareceu-me nesse aspecto, demasiado lento e algo distraído . Perdeu algumas bolas, que eram suas, por antecipação dos adversários, o que podia ter criado grandes sarilhos ao sector defensivo. O Casillas pode ser um guarda-redes mediático, mas creio que perdeu a segurança de outros tempos. Há também que melhorar a formação das barreiras nos livres dos adversários. Há igualmente alguma lentidão e previsibilidade na construção do jogo ofensivo, o que facilita os desarmes e promove contra-ataques rápidos aos adversários.

Quanto a mim, a par da necessidade imperiosa de reforçar o centro da defesa, são estes os aspectos que urge aperfeiçoar rapidamente.De resto, 3-1, na primeira jornada em campo alheio, não é nada mau. 

11 agosto, 2016

Chega de enganar!

Por esta altura, no pedaço de terra em que estou, encravado entre o Neiva e o mar, o fumo e a cinza que há 48 horas planam e caem fazem-me chorar os olhos.

O cheiro de despedida da natureza, forçada a morrer, dá-me a ideia exata do oxigénio que muitos dos que hão de vir já não terão. É por isso asfixiante perceber que as cenas fecundas que Aquilino descreve na "Casa Grande de Romarigães" que escolhi para me acompanhar neste verão são já idílicas e absolutamente inverificáveis: "(...) Voltou-se para o grande baldio, vestido com a serguilha russa do matiço, pespontado de sobros, carvalhos, cerquinhos e pinheiros, uma frondosa mata a sudoeste, tudo a crescer à rédea solta da natureza, irreprimivelmente, apesar do dente dos releixos e da podoa dos lenhadores. A água reluzia aqui e além nos algares das chãs e nos estirões retos das regueiras, perdida e tão mal empregada que era abusar da bondade de Deus não a encaminhar para onde criasse flores e frutos. (...)".

Tirando isto que, não sendo pouco, soa a choro sobre leite derramado, é forçoso que cada português meta a mão na consciência e veja e aceite a sua quota parte de responsabilidade.

É que, ao contrário, do discurso comezinho, e acriticamente amplificado pela Comunicação Social, o principal problema da nossa floresta não é público, é privado! Não é o sistema contra os incêndios que tem de melhorar (é impossível não ser grato ao esforço abnegado dos nossos operacionais), é o sistema de prevenção que tem de ser implementado e que, doa a quem doer, tem de ser regulamentado e imposto a todos os proprietários florestais.

Um honroso apego à terra que se torna atávico quando impede a sua própria proteção, tem sistematicamente impedido a implementação de variadas e úteis experiências como as que têm tentado organizar sistemas de limpeza e recolha sistemática de coberto vegetal, ou mesmo as que o ordenamento nacional estipula, como as zonas de intervenção florestal com os respetivos planos de gestão e de intervenção específica.

São sempre minguados os resultados por duas razões claríssimas e bem conhecidas: ou não se conhecem os donos das parcelas ou se conhecem na perfeição, mas não deixam que se intervenha, se altere ou se mexa seja no que seja.

A culpa não é do Estado ou do Governo ou do sistema. A culpa é nossa que não cuidamos nem deixamos cuidar do que sendo nosso é de todos! Sou, portanto, a favor que se declare por força de lei a obrigação de todas as parcelas florestais passarem a ter dono - em não aparecendo na hora própria revertem a favor do inventário público - e de todas, sem restrição públicas e privadas, serem obrigadas ao respeito de normas de organização, limpeza e gestão. Fica, claro, o desafio de uma legislação sensata e de um sistema de fiscalização rigoroso e duradouro.

Fica igualmente clara a impopularidade da coisa.

As dolorosas imagens do Funchal que me entram pela TV e as que retenho na memória de uma viagem dorida entre Lanheses e Viana são penhor coletivo da promessa eleitoral que todos os partidos têm por dever fazer e cumprir.

(Cristina Azevedo/JN)



Nota de RoP:

Estou de acordo com parte deste artigo de Cristina Azevedo. E digo em parte, porque sou absolutamente avesso a esta moda de generalizar culpas, e de misturar o público com o privado, quando cabe ao público (Estado) disciplinar o privado. Ainda hoje ninguém me explicou, tintim por tintim, onde, como e quando, contribuí para a dívida nacional e por que a tenho de pagar. Que querem, tenho este hábito teimoso de controlar as minhas próprias decisões (boas, ou más). e como ainda estou por saber se vivi, ou não, acima das minhas possibilidades, recuso-me a ser empacotado em acções que não cometi, nem participei. 

Tenho lido muitas crónicas sobre incêndios, quase todas muito bem elaboradas, mas no fim, os autores tendem sempre a desresponsabilizar quem devem: o Estado. Sim, o Estado! Seria absurdo culpabilizar o Estado por manicaísmos esquerdistas, poupando os privados das suas obrigações. Não é isso que defendo. Neste grave (e já antigo) contexto, que são os incêndios, não acredito que os privados passem a ser mais zelosos com a limpeza dos seus terrenos por sua livre iniciativa, ou porque alguém de boa fé (como a Cristina Azevedo) o recomenda. Se assim fosse, este problema já tinha sido resolvido há muitos anos! Não falo dos incêndios naturais, porque na natureza ninguém pode mandar, mas desde que haja vontade política, é possível  prevenir, controlar e minimizar danos. 

Quanto aos incendiários, eles existem é verdade, mas não queiram tapar o sol com a peneira pondo nas suas costas a responsabilidade por todo um país estar a ferro e fogo. Nessa, já nem os bébés acreditam.

10 agosto, 2016

O que não fazer quando tudo arde

No Carnaval, temos os corsos e os gigantones; no Natal, as rabanadas e o Menino Jesus; na Páscoa, o folar e as amêndoas; e, no verão, os fogos florestais. Somos, para o bem e para o mal, um povo rendido à tirania das tradições. Somos o país que arde e reage ao fogo. Que canaliza dinheiro para aviões, helicópteros, fatos especiais - porque é mais fácil, porque requer apenas um conhecimento rudimentar de engenharia financeira (tirar daqui para meter ali) -, somos o país que tarda em definir uma conveniente política estratégica para a floresta, um país que não age por antecipação, que não sossega enquanto não replanta a mata ardida, desconhecendo que, nalguns casos, isso é o mesmo que lançar gasolina para a fogueira.

Habituámo-nos a olhar para os incêndios como uma fatalidade nacional, encolhemos os ombros, rezamos, crentes e não crentes, para que os bombeiros atuem depressa. Depositamos nos seus ombros a total responsabilidade de nos livrarem deste mal que nos assola com uma brutalidade que só não é mais nociva porque já a inscrevemos no calendário. É rotina.

A época dos fogos (podem tentar convencer-me do contrário, mas decretar uma época dos fogos e dividi-la por fases é o mesmo que oficializar um convite a quem nutre especial atração pelas chamas ou vê nelas um sorrateiro proveito) começa sempre da mesma maneira e conhece sempre o mesmo desfecho.

Discutimos os meios, politizando os argumentos, andamos às cabeçadas sobre quem manda em quem, esgrimimos convicções sobre o valor do dinheiro que queimamos em aluguer de aviões. Sobre o que realmente importa discutir, zero. Nada.

Os fogos, para nós, são entidades abstratas que emergem da bruma a partir de julho e recolhem ao tugúrio sombrio em setembro. Os fogos, para nós, não são ameaças em janeiro ou fevereiro. Muito menos em outubro. Debater a limpeza das matas no inverno soa-nos quase insultuoso (para quê, se está a chover?), desenvolver programas de treino para os bombeiros meses antes de as sirenes soarem nos quartéis seria extemporâneo, porque nos habituamos a que eles, por via da sua bravura, ajam, por vezes, muito com o coração e pouco com a cabeça.

Mas não seria útil a um país que fazia (faz?) gala de ter na floresta uma das suas mais resplandecentes joias parar um pouco para refletir? Não deveria o Governo - este e os que o antecederam - promover uma ampla discussão nacional para, de uma vez por todas, deixarmos de assistir ao mesmo filme, ano após ano? A não ser que queiramos culpar a natureza pelo nosso infortúnio coletivo. Isso: a culpa é das alterações climáticas. Cheguem-lhes fogo.

* Este texto tem seis anos. Foi publicado originalmente neste jornal a 13 de agosto de 2010. Lamentavelmente, continua atual. O que prova que a nossa apetência natural para discutir os problemas continua a ser desproporcional à nossa capacidade para os resolver. Em 2022 falamos.

(Pedro Ivo Carvalho-JN)



Nota de RoP:

Como o autor da crónica do JN, mais do que os incêndios, o que mais inquieta, é a negligência dos sucessivos governos em matéria preventiva. Já repugna a a ladaínha do costume: são precisos aviões, carros de bombeiros (enfim dinheiro), tudo, menos o mais importante:  prevenção. Obrigar os proprietários dos terrenos, sejam eles do Estado ou particulares, a cuidar das matas, e inflingir pesadas coimas aos incumpridores. Ainda há dias, numa viagem pelo Douro, comentei com a minha mulher a anarquia urbanística implantada em plenos montes em zonas belíssimas no Douro, o que significa que os planos directores são uma treta. 


Por este andar nem o Douro profundo vai escapar.  É como eu digo, em Portugal despreza-se o rigor da lei. Só nestas alturas é que todos se lembram de chorar. 

Como o jornalista, também escrevi vários artigos sobre este assunto, que muita me perturba, e já se passaram uns anitos. Se viver, daqui a 20 anos, aposto que está tudo na mesma. Uma vergonha! Um deles foi publicado no extinto Comércio do Porto, em 2005, portanto há 11 anos! Como é possível levar a sério a classe política? Só mesmo os mentecaptos.

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09 agosto, 2016

Pinto da Costa continua sem se assumir

Que me desculpem os portistas que consideram a gratidão uma viagem sem retorno, porque eu não tenho essa ideia do seu significado. A gratidão não é intemporal, nem incondicional, pelo menos, para mim. Há méritos que têm tempos e fundamentos próprios, e os fracassos também. Portanto, não confundamos as coisas. Se respeitei e admirei Pinto da Costa durante muitos anos, foi porque confiava nas suas decisões e na sua capacidade de liderança, coisa que não acontece agora, pelas razões que já aqui apresentei várias vezes. O senhor envelheceu, sendo fisicamente o mesmo, apenas deixou de pensar da mesma maneira, e isso faz toda a diferença. Teria sido sensato, se quisesse admitir a realidade e soubesse retirar-se a tempo do clube mantendo imaculado um currículo de competência. Mas, não. Optou por cobrar (com juros) a confiança que os portistas nele depositavam (ainda há alguns com dificuldades em aceitar a realidade), oferecendo-lhes 3 anos de desgostos, de mau futebol, e sobretudo de humilhação.

Não imagino o Pinto da Costa de há 10 anos atrás , a envolver o FCPorto num negócio de televisão sem retorno, nem privilegiar assumidamente a região e a cidade do Porto. Privilegiar, é apenas dar preferência a, não é radicalizar, é preciso que se entenda. Há uma margem confortável de diferença entre esses dois pólos. A promessa de Pinto da Costa foi essa, mas a realidade é uma profunda contradição.  

Os conteúdos desportivos, que permitem aos portistas acompanhar as modalidades do clube foram um benefício, sem dúvida, mas continuam carentes de uma área de intervenção e debate onde a defesa do clube seja contemplada sem tibiezas, onde a utilização das imagens possa servir de contraditório, ou mesmo de prova contra as opiniões manipuladas dos media lisboetas sobre as prestações das arbitragens. Mas, o Pinto da Costa de agora parece nem querer saber o que está a acontecer com o Porto Canal. Por mais que se esforcem por disfarçar, é visível e notória a subserviência de Júlio Magalhães aos poderes da capital, onde sempre trabalhou, aliás. Com a artimanha de querer agradar a gregos e troianos, de pretender compatibilizar a comunicação generalista com a do FCPorto, deparamos com um Porto Canal muito empenhado a informar os espectadores dos resultados desportivos do Benfica, quando nem sequer ainda conseguimos cobrir totalmente os nossos... 

Passa-se o mesmo em relação aos protagonistas com direito a assentar o rabo num cadeirão do Porto Canal. Os mais importantes - como os autarcas do Porto - raramente lá vão, os da capital, actores, jornalistas, políticos, não podem faltar. É impressionante o modo como um Canal do Porto torna a cidade do Porto tão redutora e invisível aos seus próprios olhos. Contrariamente ao que Júlio Magalhães imaginará, o Porto não precisa de Lisboa para se cosmopolitizar, porque já é cosmopolita e são os estrangeiros que nela vivem e visitam que lhe conferem tal estatuto. Foi também assim que o FCPorto se impôs internacionalmente, se fez respeitar no Mundo. De Lisboa, os portuenses só podem esperar ciumeira e indiferença. Basta ver como está a comunicação social, os jornais, as rádios, as televisões. Como negar essa realidade? São os lisboetas que sofrem de um enorme complexo de inferioridade em relação ao Porto, não o contrário. Nós somos reconhecidos lá fora, eles precisam de falar de si próprios, a auto-promoção é uma constante doentia. Não têm a postura de uma capital idónea. De lá, só colheremos simpatia se não lhes fizermos sombra, se nos anularmos aos seus desideratos. Lisboa pensa que é Portugal, e convive mal com quem lhes lembra que o resto do país é geograficamente a parte maioritária.

Pelo que tenho observado, o Pinto da Costa de agora não deve concordar comigo. Se ele acompanha o Porto Canal, é porque nada tem a alterar. Cheira-me que a decisão repentina de investir no ciclismo não passa de uma estratégia para ocultar novos trambulhões no futebol. Já foi preparando o discurso para se proteger de uma eventual nova derrocada... Dizer como disse, que foi Nuno Espírito Santo quem escolheu o novo ponta de lança belga, quando tinha muitos outros como opção, é lavar as mãos previamente de outro eventual fracasso. Só se esqueceu foi de dizer quem eram os outros candidatos ao lugar "rejeitados" pelo treinador.

Pessoalmente ainda não tenho ideia do que poderá valer N.E.Santo como treinador. Posso no entanto adiantar que, para o tempo que teve com o plantel - praticamente igual ao do ano passado -, considero que vi algumas mudanças para melhor. Goste-se ou não, ninguém pode negar que a bola para trás e para o lado já não é tão evidente. Falta mais, é verdade, mas demos tempo ao treinador. Não é com ele que me preocupo. Quem sabe se não será NES a salvar o presidente de um final infeliz?
    

08 agosto, 2016

Uma cidade que não é um lugar


Image de Uma cidade que não é um lugarDe cada vez que partimos do Porto levamos a cidade inteira no coração.
De cada vez que voltamos, sentimos que mudou, sendo a mesma em todo o seu esplendor.
Como diz Agustina Bessa Luís: “Vivo aqui, mas o Porto não é para mim um lugar; é um sentimento”, partilho em absoluto as suas sábias palavras. O Porto tem essa magia dos sentimentos, cresce connosco e liga-nos sem nos prender.
Um destes dias, perguntaram-me quais os cinco lugares que mais gosto no Porto, a ideia era responder sem pensar demais. A minha resposta foi: Avenida dos Aliados, todo o Centro Histórico, a Cantareira, o Parque da Cidade e a Pérgola da Foz, se fosse preciso referir mais lugares, teria muitos para referir, estes desenham um possível itinerário que tenho o privilégio de habitar quase diariamente, nem que seja de passagem.
Se eu tivesse de fazer um jogo da Glória, a casa nº 1, a da partida, seria a Av.dos Aliados, onde actualmente nos sentimos como se estivéssemos na sala de estar da cidade. Ali, ouvimos grandes concertos, brindamos a passagem do ano, tantas e tantas coisas, até vemos futebol, sentados no chão com as estrelas no céu a brilhar.
Este texto tinha como primeiro título: Juntos e Aliados, e iria começar com o relato do dia 10 de Julho, em que pela primeira vez estive sentada na placa da avenida, a ver um jogo no meio da multidão, entre palavrões típicos de desconhecidos e genuinamente tripeiros. Juntos e Aliados, era esse o sentimento maior, que unia os portugueses naquela noite quente de Verão. A vontade colectiva de vencer parecia incendiar o céu.
Precisei de todos estes anos para me sentar ali, a fazer algo pouco usual, ver futebol no meio da multidão e sentir uma cidade vibrante na sua afortunada diversidade, uma cidade sem complexos e extremamente viva.
É curioso como um lugar de passagem se transforma num lugar de estar e como regressando ao seu estado habitual, retoma as dinâmicas sem nada perder.
O Porto é não é um lugar, o Porto é uma forma de estar.
(Isabel Barros/Porto24)