24 fevereiro, 2017

O Porto, visto do espaço,ou a cidade das pontes virada para o Atlantico


Bonne nuit, Porto!

O astronauta francês Thomas Pesquet partilhou anteontem no twitter uma foto do Porto tirada a bordo da Estação Espacial Internacional que orbita a cerca de 350 kms de altitude. Além de desejar boa noite, aproveitou para elogiar a cidade em frente ao Atlântico que é uma digna rival da capital portuguesa.
(JN)


Observação de RoP:

Como portuense, portista, bairrista, regionalista fervoroso, é-me difícil ficar indiferente a tantas notícias elogiosas sobre esta cidade. Por paradoxal que pareça, às vezes chego a apavorar-me com tantos encomios, pelas consequências negativas que eventualmente tal possa acarretar. 

Se não souber progredir bem, o Porto, pode tornar-se num local de cobiça mercantil onde oportunistas e megalómanos comecem a fazer estragos, em nome de um qualquer modernismo bacôco. É preciso, é urgente mesmo, repovoar a cidade, sobretudo com portuenses de todas as castas sociais. O comércio deverá destacar-se pela diversidade, e com rigoroso critério. Abrir apenas negócios de restauração pode ser um erro crasso não só para quem investe como para a cidade. É preciso ir com calma...

Mas, o que mais me satisfaz de toda esta vaga de distinções, é a sua origem forasteira. Não são apenas os tripeiros a admirar o Porto, são também os estrangeiros. Já em Lisboa, a ciumeira não dorme em serviço, tal qual como o Benfica... Consta até, lá para aquelas bandas, que já há quem reclame (tal como com o clube do regime), que para o ano tem de ser Lisboa a ganhar o prémio de melhor destino europeu...

Ah, outra coisa: deste sucesso do Porto, que espero se estenda à população que lhe dá vida, nada se deve à descentralização. Esta, continua a ser adiada, como sempre, aliás. Não foi seguramente pelo efeito spillover, nem das verbas europeias que nos eram destinadas e ficaram em Lisboa, que o Porto conquistou estas honrarias. De Lisboa, e do Terreiro do Paço só temos tido hostilidade e muita dôr de cotovelo. Desmintam-me, se tiverem coragem. 

22 fevereiro, 2017

Até os comemos!

À D'artagnan: um por todos, e todos por um

O FCPorto tem esta noite mais um grande desafio pela frente, que é tentar ultrapassar a Juventus de Turim, mais conhecida pela La Vecciha Signora, em mais uma etapa da Champions League. É um adversário poderoso em todos os sectores, com jogadores de alta qualidade, a começar pelo guarda-redes, o histórico Buffon, até ao exímio goleador Higuaín.

Por seu lado, o FCPorto está a passar por uma fase positiva, mais em resultados que em consistência exibicional, o que é sempre um sintoma neutro. Sem fugir do registo habitual, Nuno E. Santo, garante-nos que a equipa está preparada e com vontade de competir. Quer o Dragão cheio, e concerteza que irá tê-lo, espera um grande jogo, e nós adeptos, também. À partida, a sintonia entre ele e nós, é total.

Se, quando o treinador portista afirma que a equipa está preparada, quer dizer-nos que está bem treinada para aproveitar os poucos espaços que supostamente terá para rematar à baliza, e que na impossibilidade de se aproximar dela irá ensaiar remates de média/longa  distância, é já um progresso. Como o seu próprio discurso enuncia, a equipa continua a crescer. Fá-lo, sem contudo nos dar bem a ideia dessa evolução, sem sabermos se esse percurso tem contemplado o remate sem preparação com a força muscular no ponto.

Não há ninguém que de boa fé, possa afirmar o contrário, chuta-se pouco e mal em Portugal. Na formação do FCPorto, isso é mais que evidente, os poucos golos que se marcam resultam mais de toques rápidos, do encostar o pé na bola para a baliza, do que de chutos na verdadeira acepção do termo. É raríssimo assistirmos a golos provenientes de remates fortes e bem colocados, e ainda mais raro de remates espontâneos para explorar o factor surpresa. Pelo que me é dado observar, em Portugal sempre se trabalhou muito mal este factor importantíssimo do futebol.

Salvo insólita distracção da equipa italiana, tão matreira e dura a atacar, como a defender, os jogadores do FCPorto irão ter grandes dificuldades para lhes marcar um golo se não souberem ser igualmente matreiros e oportunistas. O lema olímpico, mais rápido, mais alto e mais forte, é para levar a sério nestes jogos, se a ambição é mesmo chegar o mais longe possível numa prova de Campeões.  

Sem beliscar um milímetro que seja a grande victória (já distante) sobre a Roma, é acertado lembrar que nesse jogo  houve 2 jogadores italianos que abusaram da dureza a ponto de serem expulsos, e isso, diga-se o que se disser, facilitou-nos a vida. Mas, nem sempre acontece assim. Nem sempre a dureza dos italianos chega ao patamar da violência, e nem sempre deparámos com árbitros tão rigorosos, sobretudo com as equipas portuguesas...  Por isso, cuidados e caldos de galinha nunca são demais. 

Parafraseando o treinador do FCPorto, é altura de mostrarem aos adeptos o quanto cresceram. A garra já quase atingiu a maturidade, falta o resto. Provem-no.

E, força FCPorto! Hoje queremos um Porto canibal, comedor, guloso, insaciável.
Será pedir demais?


Nota do pós-jogo:

Houve garra, como esperava, mas pouco mais. Uma equipa construída para defender arrisca-se a perder. E perdeu. E quem foi comido foi o FCPorto, ou melhor, foi  Nuno Espírito Santo.


20 fevereiro, 2017

Trump, democracia e liberdade

Donald Trump, "democrata", republicano e ditador

Donald Trump  como todos sabemos, está nas bocas do mundo, e não é pelas melhores razões.  Só de olhar para esta figura e atentar na sua linguagem, é o bastante para recearmos que os eleitores norte-americanos tenham guindado ao poder um novo ditador.

A verdade é que, desde que tomou posse não tem parado de intimidar o mundo, incluindo os seus vizinhos mexicanos e canadianos. O mundo é ele, e os USA são agora propriedade sua para anexar ao seu já abastado pecúlio. Muita água pestilenta irá passar debaixo das pontes caso os americanos previdentes não saibam travá-lo a tempo. Os ditadores não custumam dizer ao que vêm, mas este candidato foge ao estereótipo, porque foi eleito "democraticamente". Palpita-me que o tempo não nos fará esperar para termos a certeza.

Um dia destes vimo-lo a destratar a comunicação social numa reunião com 40 jornalistas na Trump Tower. Chamou-lhes hipócritas e mentirosos, entre outras delicadezas. Nada que a mim me surpreenda, porque é verdade. Pena é, que o mundo, incluindo os jornalistas sérios, tenham de ouvir da boca de um putativo ditador a mais unânime e vulgar das realidades. Eles não só mentem como vendem a mentira. Sim, a classe jornalista deixou-se tomar pelo opiómetro do 4º. poder, não soube purgar-se da soberba dos oportunistas e agora tem o que merece, é tratada toda por igual porque nada tem feito para se reabilitar da má fama. Assim, viverá sempre debaixo do estigma da suspeita.

Ando há anos sem compreender as razões para tanta negligência. Entende-se mal que quem exerce seriamente a profissão de jornalista não veja razões para se indignar com colegas que pela sua desonestidade intelectual mancham a reputação de toda classe,  nem consta que tal os encorage a demarcarem-se deles. Em Portugal, este problema não deve ser muito diferente do que acontece noutros países, mas isso não justifica a indulgência, pelo contrário, revela uma cumplicidade corporativa e amoral com os medíocres e um despeito absoluto pelo público. A RTP, como empresa pública de comunicação, é o pior dos exemplos. Sendo empresa estatal, promove o sectarismo em vez da isenção, e alberga nos seus quadros o pior que há no jornalismo. As privadas seguem-lhe os maus exemplos. Não deviam fazê-lo, mas são empresas privadas. 

O que aconteceu aos norte-americanos com a eleição do Trump, pode a qualquer momento replicar-se em Portugal. Os portugueses não são substancialmente diferentes do americano medio, em termos de formação. Gozam de uma comunicação social degradada, corrupta e unipolar e nada ganham com isso. Hoje em dia é muito simples afirmar estas coisas com factos, porque é uma actividade permanentemente exposta ao escrutínio público, por isso fácil de deixar provas.

Não tenho dúvidas que a verdadeira Liberdade será sempre adulterada se continuarmos a avaliá-la como algo incondicional e absoluto. Esta ideia radicalizada de liberdade degenera a comunicação social. A ética e o respeito pelo outros, são o melhor amigo da Liberdade, a melhor couraça para uma democracia forte e idónea. 

A quem servirá então esta deturpação de valores tão importantes, como a liberdade e a democracia? Aos políticos e aos seus laços mercantilistas? Não vejo mais a quem. Por mim, como cidadão livre, não me importaria nada que me limitassem certas "liberdades".

Não creio que nos faça qualquer falta ouvir nas rádios ou nas televisões acusações em directo a outros cidadãos ou instituições, sobretudo sem fundamentação. Para isso há os tribunais e os advogados. Considero altamente indigno e negativo para a classe política permitir a deputados e ex-governantes a liberdade de comentar jogos de futebol. Isso não os aproxima (como alguns malandros dizem), do povo. Não, senhor! Isso vulgariza-os, e descredibiliza a própria política, que deve ser sempre séria e imparcial.

Aplaudiria já, o primeiro partido cujos estatutos vetassem o acesso dos militantes a esse tipo de programas. Contenção cívica exemplar, seria a norma da casa. Ou política, ou futebol, separados. Juntos, nem pensar. Nada destas liberdades fazem realmente falta, nem acredito que seja algo positivo para todos nós, até porque incitam à violência e a fundamentalismos. Isto aplica-se a jornalistas, magistrados, enfim, a todas aquelas funções onde é exigível e recomendável um certo distanciamento público. Se há quem goste deste folclore feito liberdade, arrisca-se a um dia destes ver os próprios juízes como comentadores de futebol...

Há limites para tudo na vida, até para estas liberdades. Cavalgar a onda da anarquia, confundindo austeridade social com condicionamentos à liberdade, é caminhar para o caos com um sorriso parvo nos lábios. É que, se o caos ainda não domina o mundo, pergunto: onde pára a paz mundial?

Pessoalmente, considero perfeitamente possível a imposição de certas regras. A liberdade de dizermos o que pensamos é inegociável, mas casá-la com a calúnia é dispensável. Recuso categoricamente uma democracia ao estilo de Trump, mas o respeito e as boas maneiras podem e devem ser perenes. Em Portugal há muitos Trumps à espera do seu momento. Que ninguém duvide.