18 janeiro, 2018

Desprezo os políticos, não tenho como negá-lo. Nem quero!


Pensando sério, o currículo de Portugal, no que concerne a educação e à aceitação natural dos regulamentos, não é nada edificante. Além da ingenuidade, ou a burrice de certos indivíduos, só os políticos se sentem confortáveis com esta realidade. Eles bem tentam dourar a pílula com apelos avulsos ao nosso sentido pátrio, mas pouco fazem para o fundamentar, quando são os primeiros a prevaricar em praticamente tudo em que se metem. É uma perda de tempo tentarem convencer-nos que sem os partidos não há democracia, porque isso vale tanto como dizer que sem gangues não há crime organizado. Para os políticos, só contam as alegorias simpáticas, as realistas, essas, são demagógicas. Percebe-se, mas isso não credibiliza a classe. Como não credibiliza as frequentes alterações à Constituição, para tão fracos resultados.

É com muito desgosto que faço estas afirmações, mas prefiro reconhecer a realidade do que fingir que vivo noutro país, como certos patriotas de circunstância fazem para purgar a consciência do seu contributo pessoal para a péssima reputação de que o país goza.

Após os primeiros anos de ensaio do regime democrático, o tempo suficiente para perceber o rumo confuso que lhe estavam a dar, fui prevenindo alguns amigos avessos ao futebol que, ao contrário do que pensavam, o futebol talvez os ajudasse a perceber coisas que os seus preconceitos de intelectuais e a política não deixam ver. Pelo contrário, até as encobre, como acontece com o escândalo dos emails benfiquistas.

O preconceito intelectual presume conviccções frageis, e uma delas é não querer olhar para determinadas áreas simplesmente por parecer mal. Se alguns levaram tempo a saber que o centralismo existe, talvez o tivessem detectado mais cedo se olhassem para o futebol com  outros olhos. Por exemplo, o Pacheco Pereira, que gosta de comentar política, e a quem reconheço alguma honestidade intelectual, não se coibiu de falar da promiscuidade entre a política e o futebol e dar apoio ao Rui Rio por ter virado as costas ao FCPorto quando chegou à Câmara do Porto. No caso do Benfica que é infinitamente mais grave, já não fez o mesmo, deixando cair a máscara da integridade. Depois, queixam-se de serem incompreendidos. Para mim, a honestidade só tem um rosto, e não pode comportar excepeções para ser respeitada.

A avaliar pelo comportamento do actual Secretário de Estado do Desporto e pelos repetidos disparates que saem da sua boca, só posso concluir que se António Costa mantém um garoto desta estirpe no Governo, é porque pensa como ele, logo, não é o político hábil que se pensa e é tão garoto como ele.

Falei no início deste artigo na falência educacional do país, e mantenho essa opinião sem me sentir necessariamente constrangido com o acabo de dizer dos políticos acima referenciados por uma razão muito simples: quem se demite das responsabilidades não merece respeito. E tanto menos merecem respeito, quanto mais altas forem as responsabilidades dos cargos e teimarem em nos desrespeitar a nós cidadãos. E também por mentirem nas palavras e sobretudo nas acções...

Olho por olho, dente por dente.  


15 janeiro, 2018

O progresso é uma treta, e o optimismo também


Sempre desconfiei dos optimistas. Em sociedades onde o consumo é a mola que domina os outros valores, é impossível acreditar na bondade do futuro. Os optimistas são por tradição incoerentes, porque quando acreditam nalguma coisa avançam, sem perderem tempo a reflectir nas consequências, mas que elas existem, existem.

Sempre me fez muita confusão o entusiasmo excessivo gerado à volta das grandes descobertas, tanto na ciência como na tecnologia, sem antes se consolidar o sucesso expectável das pequenas. Na classe das grandes descobertas, dou como exemplo a exploração do espaço, com a chegada do homem à Lua em 1969, e mais recentemente a instalação de uma sonda em Marte,e os custos colossais que elas implicam. Em contraste, no grupo das descobertas menores e de mais fácil acesso, temos o problema do combate aos incêndios que nos sugere logo a seguinte questão: serão as façanhas do espaço economicamente mais viáveis que um plano global tecnicamente evoluído de combate aos fogos no nosso próprio planeta? Serão mesmo, quando ainda existe tanta água nos oceanos e a dessalinização é hoje uma realidade? Será a tecnologia de combate aos fogos mais cara e sofisticada que as sondas e as aeronaves interplanetárias? Admitindo que sim (o que não acredito), os custos teriam naturalmente de ser  divididos por todos os países do mundo, o que não é o caso dos países exploradores do espaço planetário.

Com os medicamentos o optimismo inconsciente da ciência é semelhante. Nem sempre são lançados no mercado farmaceutico produtos com o tempo de testes suficiente para descobrir o grau de gravidade dos efeitos secundários, e o argumento não deixa de ser algo leviano, ainda que aceitável, por assentar no facto inevitável das consequências negativas.

Sem polemizar, cito o caso do Omeprazol (para o estômago). Por experiência própria, reconheço os seus pontos positivos em comparação com os medicamentos anteriores, no entanto é a própria comunidade ciêntifica que hoje já admite graves efeitos colaterais do seu uso prolongado (como a Alzheimer).

Na área da comunicação e da informática as contradições são as mesmas, o que por si só, recomendaria outra moderação aos optimistas militantes, porque nem sempre a pressa é sinónimo de progresso, como os exemplos atrás expostos comprovam. Os jovens, sobretudo, são muito vulneráveis com o que é novo e entusiasmam-se facilmente com os "brinquedos" das novas tecnologias, mas quem tira o proveito real são os seus criadores.

O progresso tecnológico está longe de corresponder ao progresso económico das populações, particularmente em países pseudo-desenvolvidos, como Portugal. Se por um lado encontramos anúncios nos jornais a pedir empregados para a indústria textil e do calçado por carência de mão de obra qualificada, por outro, sabemos quão forretas são as condições salariais oferecidas pelos empresários.

Se reconhecemos as vantagens da internet, também devemos questionar os efeitos negativos dessa ferramenta. Alguns deles são de fácil avaliação, sendo a pior delas mais prejudicial aos consumidores. As grandes empresas estão a transferir custos seus para os clientes, e nem por isso baixam os preços pelos serviços prestados. A tendência é essa, objectivamente. Será justo para os consumidores, aceitarem tal permuta sem uma redução dos custos? Ao pagarmos as facturas pela Net, estamos implicitamente a reduzir os custos de empresas como a EDP, a NOS, a MEO, a ÁGUA e o GÁS, etc., em sêlos do Correio, envelopes, papel, tinta, impressoras. Se quisermos arquivar em papel estes documentos, esses custos agora são todos nossos. Depois, ainda há quem se espante com o colapso dos CTT...

Os optimistas sempre encontram pretextos para contrariar o lado negativo das coisas, mas isso nem sempre é sério, e infelizmente não torna a vida dos mais pobres mais rica, portanto há que ter mais prudência antes de vermos a vida côr-de-rosa.     
    
Assim vai o mundo. Queimamos o planeta terra, mas procuramos outros planetas. Será também para os queimar?